A revolução da palma

Por Ricardo Banana
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Trazida ao Brasil há mais de 100 anos, a palma tem sido até hoje utilizada como ração de emergência no Nordeste brasileiro. Desidratada e transformada em “farinha de palma”, começará em breve a substituir o milho nas rações animais. Numa etapa seguinte, o farelo de palma aditivado com Nitrogênio, Fósforo e Enxofre, pela ação de micoorganismos, pode se transformar numa “emulsão protéica” de alta digestibilidade, substituindo a farinha de soja na alimentação dos ruminantes.

Testes comparativos entre as rações tradicionais, formuladas à base de milho, e as que contêm farinha de palma se sucedem confirmando o quejá é do conhecimento dos que vivem há vários anos fazendo acontecer o que será esta revolução. Cada um destes testes reconfirma que a farinha de palma substitui, de fato e com vantagens, o milho como fonte principal de carboidratos (energia) nas rações concentradas.

 Os primeiros resultados já mostram um enorme potencial de redução de custos nas rações destinadas aos bovinos, ovinos, caprinos, suínos e aves. Especificamente no caso dos ruminantes, a palma pode ser consumida de duas maneiras. Primeiramente na forma de “farinha de palma” como fonte de energia em substituição ao milho e, adicionalmente, como “emulsão protéica” para ser utilizada no lugar da soja.

A palma vai ganhar espaço no semi-árido nordestino, o que vai permitir sua inclusão no circuito das regiões produtoras de carne. A proteína animal é um produto caro e, para ser produzido, ou ocupa grandes extensões de pastagens, ou utiliza enormes quantidades de milho e soja como componentes principais das rações utilizadas na avicultura, suinocultura, produção de leite e confinamento de ruminantes. As terras agrícolas têm preços crescentes e estão situadas dentro de fronteiras com expansão conhecida, tornando a proteína animal originária dos ruminantes um bem disputado no mundo. Pelo mesmo motivo milho e soja são comodities valiosas, também com custos altos e cotações em dólares. “Produzir carne, leite ou ovos utilizando trigo, milho, sorgo, farelo de soja ou de caroço de algodão não poderá nunca ser feito de forma barata, pois todas estas comodities agrícolas tem alto valor no mercado internacional”, sentencia o pecuarista do Rebanho Caroatá, Luiz Felipe Brennand”.

Por que cultivar a palma

Para Luiz Felipe, a produção de milho não deveria ser uma atividade incentivada por governos, nem como atividade de subsistência. “Se a produção da proteína de origem animal, a partir de grãos colhidos nos maiores celeiros agrícolas do mundo – e portanto nos locais onde são cultivados pelos menores custos – não resulta em proteína animal barata, imaginemos a que custo poderemos fazê-lo, no semi-árido, com milho produzido localmente e colhido somente três ou quatro vezes a cada dez anos? “, questiona.

A palma forrageira, nome genérico de uma família de plantas de cultura permanente – plantada, portanto, uma única vez a cada 20 ou 30 anos – foi trazida do México com finalidade comercial no início do século XX. Foi a responsável principal pelo suporte alimentar das culturas pré-colombianas que floresceram naquela região, causando espanto e admiração aos espanhóis que lá desembarcaram. Multiplicadas por mudas caracterizam-se, principalmente, por serem pouquíssimo exigentes em água, conseguindo produzir um quilo de matéria seca por cada 100 litros de precipitação. Os capins da família dos “búfalos”, as menos exigentes das gramíneas, produzem o mesmo quilo de matéria seca com 300 litros.

 O milho, o que mais depende de água, só produz um quilo de matéria seca se receber acima de mil litros, com o agravante de que esta quantidade precisa vir distribuída em determinadas etapas de seu ciclo vegetativo, sem as quais não produzirá. Por outro lado, a palma é completamente adaptada às baixas precipitações, respirando durante a noite para não perder água, diferentemente de outras plantas que o faz durante o dia. A sua própria forma – de raquete e nascida ereta – faz com que se exponha ao sol numa pequena superfície. O sistema de raízes, colocado nos primeiros 15 cm da superfície, captura o máximo da pouca água disponível.

Paraíba e Pernambuco dão exemplo

Normalmente a produção é encontrada em regiões do semi-árido brasileiro com precipitações superiores a 400 mm. A região de Cabaceiras, na Paraíba, é considerada uma das mais secas de todo o Nordeste. Lá, a palma é encontrada de forma abundante e vem sendo cultivada com as mais diversas e rudimentares técnicas agrícolas, com espaçamentos a partir de 5 mil plantas por hectare. Na Fazenda Lagoa do Cavalo, onde está instalado o Rebanho Caroatá, a palma está sendo cultivada com uma lotação de 110 mil plantas por hectare, submetida a um rígido controle agronômico, com a finalidade de servir como campo de comparação a uma cultura de milho. Estão sendo utilizadas as mesmas tecnologias atualmente empregadas nas áreas mais produtivas de grãos do Sudeste ou do Centro-Oeste brasileiro. Nesta condição, o primeiro corte realizado entre outubro de 2005 e janeiro de 2006 produziu acima de 300 toneladas por hectare, devendo atingir produções acima de 400 toneladas por hectare a partir do segundo

corte, no final deste ano. O zootecnista e especialista em nutrição animal, Alberto Suassuna, explica que essas 400 toneladas de palma se transformarão em 40 toneladas de farinha de palma após a secagem realizada ao sol. “Os 40 mil kg de farinha correspondem a 32 mil kg equivalentes de milho, quando comparados os carboidratos presentes nas duas amostras”, complementa. O especialista diz ainda que no Brasil e em outros países as ótimas áreas de cultura de milho produzem aproximadamente 10 mil kg  por hectare. Com a palma, pode-se colher três vezes a produção de carboidratos do milho por hectare, todos os anos, nas adversas

condições climáticas do semi-árido.

Farinha de palma

Por conter 90% de água quando colhida, o consumo da palma se torna limitado. Para os animais receberem uma determinada quantidade de carboidratos necessária à sua alimentação, precisam consumir dez vezes esta quantidade, se a palma for fornecida in natura. Para ultrapassar esta limitação, foi desenvolvida a farinha da palma. Para o seu preparo, primeiro ela é colhida à mão, apesar de já estarem sendo desenvolvidas máquinas capazes de fazê-lo nas grandes áreas. Depois é levada a uma “fatiadeira” onde é cortada, dessa vez mecanicamente em fatias (como batatas fritas). Em seguida é levada a um pátio de secagem, semelhante a um terreiro de café, e é espalhada em uma camada de aproximadamente 10 cm. Permanece exposta ao sol durante cerca de quatro dias, para depois ser ensacada. A palma poderá ficar guardada em sacos até a época do consumo, ou ser ensacada depois de passar em um moedor, semelhante ao utilizado para produzir xerém de milho. E está feita a farinha de palma. Do mesmo modo que o milho, se for guardada por longos períodos, deve ser protegida do gorgulho.

Emulsão protéica feita de palma

 Como qualquer outro farelo vegetal rico em carboidratos, a farinha depalma, entre outros usos, pode servir de base alimentar para o crescimento de microorganismos úteis, ricos em proteínas. Para isso é necessário juntar com a farinha, diluída em água, fontes inorgânicas de nitrogênio, fósforo e enxofre, além de farto suprimento de oxigênio. Na presença desse nutriente, totalmente misturado, esses microorganismos são capazes de sintetizar tudo o que precisam, multiplicando-se de forma acelerada. Por isso foi possível desenvolver-se, ao longo dos últimos dez anos, uma emulsão protéica (ou uma sopa), para alimentação animal, feita a partir de 24 horas de fermentação do farelo de palma forrageira, minerais e oxigênio, juntamente com uma pequena população inicial – inoculo – desses microorganismos úteis.

Um teste comparativo entre esta emulsão protéica e o farelo de soja, feito no campus da Universidade Federal da Paraíba, com o uso de cordeiros, não mostrou diferenças significativas em ganho de peso,conversão alimentar e rendimentos das carcaças no abate desses animais.

Desafio aos governos

O Rebanho Caroatá lança um desafio aos governos estaduais do semi-árido: distribuir sementes de palma, em lugar das sementes de milho, acompanhado de um trabalho de extensão rural, como forma de criar uma produção sustentada de proteína animal na região, aumentando a renda e melhorando a vida dos nordestinos.

Nota

O desenvolvimento e as melhorias agrícolas, introduzidas na cultura da palma, que permitiram atingir-se em níveis tão altos de produtividade, assim como o processo de fabricação de farinha de palma, devem ser creditados ao trabalho incansável do zootecnista Alberto Suassuna, e são tecnologia de domínio público. A produção da emulsão protéica, também desenvolvida por Suassuna ao longo de uma vida dedicada à palma, e suas utilizações, é uma tecnologia complexa e protegida por patente.

Informações adicionais poderão ser solicitadas pelo e-mail

albertosuassuna@hotmail.com

Visitas ao campo de palma da Fazenda Lagoa do Cavalo poderão ser

agendadas pelo e-mail de Alberto Suassuna ou pelo endereço

revolucaodapalma@caroata.com.br, aos cuidados de Maria Marinho.

Da redação do Site Caroatá

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4 comentários

valdney Novaes 5 de abril de 2017 - 11:39

não sei se já existe, mas acho que o Suassuna deveria escrever um livro sobre a palma e sua utilização em ruminantes de leite e corte que fosse bem abrangente, principalmente no aspecto econômico. Abordasse desde o plantio até o fornecimento no cocho. Eu compraria um exemplar assim que saísse, mesmo por uns 200,00.

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Vanderli Teixeira Barbosa 16 de fevereiro de 2016 - 16:43

Pode se alimentar os porcos com a palma natural cortada e jogada aos porcos?

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Vilela 27 de setembro de 2012 - 22:42

Aqui no Piauí eu fui discriminado por plantar palma forrageira , inclusive por governantes estaduais e municipais e agora por causa da seca e da divulgação da palma pela tv eles me procuram pedindo sementes para plantar e escapar seus animais.
Continue em frente não desista pois o futuro do nordeste do brasil com seus animais depende das pesquisas de vocês e da palma, pode confiar.
Quem dera se eu conseguisse a semente da palma orelha de elefante?

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wagner 13 de setembro de 2012 - 15:20

Não adianta mostrar que da certo pois com as pragas ,doenças que atacam os palmais os produtores encontrarão dificuldades . A ideia é a boa so falta insentivo e apoio para quem quer realmente implantala nas propriedades pois tenho vontade, mas não se fala o preço que é muito alto e a distribuição das sementes de boa qualidade e resistentes pois as que o IPA distribui ainda não estão 100% aprovadas , os produtores estão emcontrando deficuldade em cultivala as variedades doce ou miuda pois ela pede muita agua e a orelha de elefante não é nem tão ressistente como se é divulgada .Então não adianta mostrar que la na PARAIBA da certo tem que ver se aqui no alto sertão tambem da certo pois, vale falar que ela é irrigada com 5litros de agua a cada metro linear e a cada 15 dias e pede muito adubo tanto quimico como organico a sua adubação é comparada a adubação da plantação de tomate .

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