CPI, mensalão e eleições: Dilma quer distância

Por Ricardo Banana
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Vivemos neste momento uma situação inusitada na cena política em Brasília, cidade habituada a girar em torno do protagonismo da figura presidencial.

Já há vários meses o noticiário político é dominado por três assuntos: CPI do Cachoeira, mensalão e eleições municipais. E o nome da presidente Dilma Rousseff raramente aparece relacionado a qualquer um deles.

Ao contrário, o que a presidente mais quer é continuar mantendo a maior distância possível dos três principais polos geradores de manchetes na imprensa.

Até aqui, de fato, Dilma tem conseguido seu objetivo de dedicar a maior parte do tempo à administração e ao gerenciamento dos efeitos da crise mundial na economia brasileira.

A visão do governo federal para cada um destes temas no momento é a seguinte:

Mensalão _ O atraso previsto no início do julgamento, marcado para 1º de agosto, pode criar uma situação que obrigará Dilma a escolher um nome para o lugar do ministro Cezar Peluso, que se aposenta no início de setembro e corre o risco de não poder dar seu voto no processo.

Neste caso, a presidente da República sofrerá pressões dos dois lados: a dos que defenderão que ela indique logo um novo nome para substituir Peluso no Supremo Tribunal Federal e a dos que defenderão, em contrário, que seja adiada esta nomeação para depois do julgamento (em caso de empate entre os dez membros restantes, o direito penal brasileiro prevê que o réu será beneficiado).

Dilma já está avaliando esta possibilidade e pensando em nomes, mas ainda não tem nada definido.

CPI do Cachoeira _ O distanciamento ostensivo que Dilma resolveu manter do caso desde a instalação da CPI, já está provocando críticas de integrantes da base aliada, reclamando que “a gente nunca sabe o que o governo quer”.

Na verdade, o governo não quer nada. Quer apenas que esta CPI acabe logo para que o Congresso Nacional possa dedicar mais tempo à discussão de temas relevantes para o país.

Divergências na condução dos trabalhos e nos objetivos da CPI têm colocado muitos vezes em lados opostos o PT e o PMDB, os dois principais partidos da base aliada, que vivem num clima de tensão permanente.

Isto se explica em parte pela condição do vice-presidente Michel Temer, que deve o cargo à sua condição de principal lider do PMDB, o partido que disputa espaço no governo com o partido da presidente.

Este problema não havia no governo anterior, quando o vice de Lula era José Alencar, um empresário que nunca teve militância partidária e era uma indicação pessoal do então presidente.

Mais do que a CPI, porém, que na avaliação do governo já deu o que tinha que dar _ a iminente cassação de Demóstenes, com Carlinhos Cachoeira mantido na cadeia e a Delta deixando as obras do governo _ o que preocupa o governo central nesta história de confrontos na base aliada é a aproximação das eleições, em que tanto PMDB quanto PT jogam seus trunfos já pensando em 2014.

Eleições municipais _ Além da já prevista disputa de PT e PMDB no campo da situação, o fato novo analisado pelo governo de Dilma é a emergência na boca do palco do aliado Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB, que resolveu entrar já no clima de 2014, jogando pesado em várias mesas ao mesmo tempo.

Por cálculo ou circunstâncias da vida real, o fato é que para levantar vôo próprio o seu PSB já rompeu antigas alianças com o PT no Recife e em Fortaleza, mas pode se tornar sócio do partido de Lula numa eventual vitória de Fernando Haddad em São Paulo, além de manter a joint-venture em Belo Horizonte.

Dilma acompanha de longe os percalços enfrentados por Lula para alavancar a campanha de Haddad em São Paulo, que o levaram a tirar fotos até com Paulo Maluf na casa do ex-inimigo, , mas se preocupa mais com a saúde do amigo do que com os resultados das eleições. Para ela, Lula está sempre certo, ninguém entende de política mais do que ele, e ponto final.

Na avaliação do governo federal, não muda nada o eixo da política nacional ganhar ou perder em São Paulo porque ali já é um reduto da oposição tucana faz muito tempo. “Quem tem que ganhar são eles. Para nós, o que vier é lucro”, raciocina-se no Palácio do Planalto.

Fonte: R7

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