Embrapa aposta em parceria com setor privado

Por Ricardo Banana
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Cobrada a ser mais ágil e eficiente no mercado, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) faz um movimento ambicioso no mundo das parcerias com empresas do setor privado para tentar diminuir, pelo menos parcialmente, a dependência dos cofres públicos. Como parte de uma grande reestruturação da estatal – já em curso -, fundos de investimentos passarão a fazer aportes em empresas do agronegócio brasileiro dispostas a financiar projetos ou produtos que tenham tecnologias desenvolvidas pela Embrapa, e assim se tornar sócias da estatal.

O primeiro caso concreto e pioneiro nesses moldes já existe: o Cedro Capital, um fundo com sede em Brasília e focado no Centro-Oeste, aliou-se à Embrapa no fim deste ano para custear projetos de companhias privadas nas áreas de agricultura de precisão, automação, drones ou biorreatores. Sete startups do setor agropecuário, que já foram selecionadas por edital dentro de um processo com 38 inscritas, poderão receber até R$ 5 milhões cada para tocar seus projetos.

“A ideia é monetizar os ativos da Embrapa para dividir os custos de produzir ciência de qualidade com o setor produtivo”, diz o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, em entrevista ao Valor, na capital federal. “Precisamos fortalecer nosso orçamento também, mas tenho que me virar, não posso mais ficar de pires na mão a vida inteira pedindo recurso do Tesouro Nacional”. Ele observa que a Embrapa já mantém diversas parcerias com multinacionais como Monsanto e Basf, por exemplo, mas de maneira “muito burocrática” e pouco ágil.

Em meio ao cenário de ajuste fiscal, a Embrapa conseguiu manter seu orçamento para 2018 na casa dos R$ 3 bilhões, número praticamente estável nos últimos cinco anos. Ainda assim, apenas 30% desse montante são destinados à área de pesquisa. O restante é destinado ao custeio da estrutura da empresa e em pessoal. Daí a necessidade de a Embrapa “ir ao mercado”, para buscar parcerias, afirma Lopes, que descarta uma eventual privatização da empresa. “Isso não faz o mais absoluto sentido, a chance de a empresa ser privatizada é igual a zero.”

O que a Embrapa pretende, afirma ele, é se conectar com uma realidade mundial já testada por países como Coreia do Sul, Estados Unidos, Alemanha e Israel, onde 75% dos investimentos em ciência e inovação são bancados por dinheiro da inciativa privada. “Hoje a gente tem um setor privado que aceita mais colocar dinheiro, e já tem muito empresário que já está atinando: se ele não tirar um pouco do bolso, investir em inovação e correr risco junto com o Estado talvez não consiga competir no futuro”, ressalta Lopes.

Em outra frente, a empresa pública também busca “embalar” para o mercado pesquisas inovadoras que muitas vezes ficam na gaveta. Outros exemplos de potencial interesse de investidores, e que já vêm sendo preparados para tal, são a Embrapa Agroenergia, que recentemente foi certificada pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) a buscar sócios privados dispostos a comercializar, por exemplo, produtos elaborados a partir de novas enzimas ou energia a partir da biomassa.

Lopes também defende que a Embrapa passe a explorar mais áreas de pesquisa ou atuação novas para a empresa, como turismo e gastronomia, ou antecipar tendências de mercado, como desenvolver mais variedades com vistas a aumentar a produção de grão-de-bico no Centro-Oeste, de lentilhas no Sul ou de cafés especiais no Sudeste.

Com esse objetivo, a Embrapa vem se preparando para se inserir numa lógica mais enxuta de pessoal e de estrutura física. Após aprovação pelo seu conselho de administração, a estatal iniciou um processo de reformulação interna, que resultará no enxugamento de unidades de pesquisa e serviços – 41, em vez de 46; redução de 48% dos cargos comissionados com previsão de gerar uma economia mensal de R$ 700 mil mensais; diminuição de 19 para seis secretarias.

Além disso, ainda está por vir um Plano de Desligamento Incentivado (PDI), que vem sendo costurado pelos ministérios da Agricultura e do Planejamento, com a intenção de renovar até 20% do atual quadro de 2,4 mil pesquisadores. A ideia é que a estatal possa fazer um novo concurso público para contratar mais profissionais de áreas como física, engenharia, estatística, engenharia, tecnologia da informação, bioeconomia, e focar menos na contratação de agrônomos e médicos veterinários, que concentram mais da metade do corpo técnico da empresa, hoje.

“Eu quero tornar a Embrapa mais ágil, fortalecer nossa capacidade de antecipar o que está vindo e preparar a empresa para correr atrás das mudanças, para isso precisamos de mais gente especializada em outras áreas”, aposta o presidente da estatal. (Valor Econômico)

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