Ricardo Banana

O nim indiano: um problema para a Caatinga

imagemÁ arvore “nim” (nome científico: Azadirachta indica A. Juss.) é uma espécie exótica, originária da sul da Ásia. Na Índia, é bastante utilizada por adeptos da fitoterapia por possuir propriedades farmacológicas. A planta foi introduzida no Brasil na década de 1980, com o intuito de trabalhar como um pesticida “natural” em lavouras, mas se tornou uma planta com alto poder de toxicidade para a biodiversidade das Caatingas. Tem sido bastante utilizada, especialmente na região do Vale do São Francisco, no paisagismo urbano de ruas e calçadas.

O que poucos sabem, é que o nim, somente pelo fato de não ser uma espécie nativa do Brasil e muito menos da Caatinga, já representa uma ameaça real a nossa biodiversidade. Ela tem se adaptado com sucesso ao clima semiárido, respondendo bem até quando não recebe água regularmente. Isto se deve ao fato da árvore conseguir acessar a água nas camadas mais profundas do solo, com seu sistema radicular eficiente. Possui crescimento relativamente rápido, fornecendo sombra com poucos meses após o plantio. O crescimento rápido, a copa vistosa e o perfume de suas flores têm convencido cada vez mais os moradores a plantarem o nim em suas calçadas.

Um estudo realizado na Índia em 2013 faz um relato de caso de um humano que foi intoxicado após ter ingerido uma quantidade de 20 ml de óleo de nim, inclusive um dos sintomas foi a perda da consciência e convulsões. Um experimento com ratos concluiu que o nim foi responsável pela perda da capacidade reprodutiva temporária após a inserção do extrato de nim.

Um dos principais problemas causados pelo nim é o efeito de seu principal princípio ativo: a Azadiractina. É uma substância comprovadamente inseticida. Possui ainda efeitos sobre a reprodução de insetos nativos, inibindo sua a reprodução. Particularmente, as abelhas nativas, que são de extrema importância na polinização das flores da Caatinga. A abelha mandaçaia está sendo dizimada no momento que visita as flores do nim e são contaminadas pelo seu pólen tóxico. É importante lembrar que a mandaçaia e várias outras abelhas nativas da Caatinga são responsáveis também pela polinização de várias culturas agrícolas praticadas no Vale do São Francisco que já sofrem com o uso abusivo de agrotóxicos. Em consequência da polinização comprometida há uma sensível diminuição na produção de frutos que são comercializados pelos agricultores.

Neste sentido, propomos a substituição do nim por árvores nativas do bioma Caatinga, na arborização da cidade. Muitas espécies da Caatinga são capazes de oferecer sombra em nossas calçadas, e ainda não oferecem risco à encanação, pois possuem raízes pivotantes, que crescem verticalmente. A substituição não deve ser súbita. À medida que a espécie nativa for crescendo, uma poda preventiva pode ser realizada no nim. Assim você não ficará sem sombra.

Vamos ajudar o nosso bioma! A Caatinga precisa da ajuda de todos nós. E esta é uma forma simples e objetiva de você contribuir com a natureza. Para você que se interessou pela proposta, as mudas de espécies de árvores nativas do bioma Caatinga podem ser obtidas gratuitamente no Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas da Caatinga (CRAD), que está localizado no Campus de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Vale do São Francisco. O fone para contato é (87) 2101.4823. Agende sua visita e plante a sua muda!

Jose Alves de Siqueira Filho

Blog do Banana

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