Haverá um Brasil antes e depois das delações?

Por Ricardo Banana
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imagem2Nos próximos dias, mais de 80 colaboradores da Odebrecht entregarão às autoridades depoimentos escritos e documentos que compõem os mais de 300 anexos da maior delação premiada de todos os tempos.

Já se sabe, por exemplo, que a delação implica o presidente Michel Temer, que pediu R$ 10 milhões num jantar no Palácio do Jaburu, o ministro Eliseu Padilha, que teria recebido R$ 4 milhões em dinheiro, e o chanceler José Serra, beneficiário de um depósito de R$ 23 milhões na Suíça.

Além deles, serão citados centenas de parlamentares e mais de uma dezena de governadores, especialmente os que conduziram grandes obras nos últimos anos, como as arenas da Copa do Mundo de 2014.

Outro acordo praticamente fechado é o da Delta, de Fernando Cavendish, que dominou as obras públicas no Rio de Janeiro, durante o governo de Sergio Cabral, mas também participou ativamente de grandes projetos paulistas, como o Rodoanel.

Cavendish já disse ter bancado farras em Paris e dado um anel de R$ 800 mil à esposa de Cabral, personagem que poderá se transformar no símbolo da quebra do Rio de Janeiro, estado que hoje taxa os salários dos servidores em 30%, aumenta impostos e extingue programas sociais, como os restaurantes populares.

Se isso não bastasse, outras duas empreiteiras, a Andrade Gutierrez e a Camargo Corrêa, foram convocadas a complementar suas delações, porque haviam omitido informações nos depoimentos anteriores. E a OAS, outra gigante do setor, também negocia seu acordo.

Consta que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, teria dito que o “fim do mundo” no Brasil ocorrerá em março, quando todos esses acordos estarão maduros.

No entanto, nunca se deve subestimar a capacidade de reação do sistema político. Dois movimentos paralelos, a lei de repatriação de recursos no exterior e a anistia ao caixa dois, poderão beneficiar centenas de delatados.

Até agora, não se sabe se a conta clandestina do PSDB na Suíça já foi devidamente investigada. O que se sabe é que o empresário e banqueiro Ronaldo Cezar Coelho – apontado pela Odebrecht como um dos operadores dos R$ 23 milhões repassados pela construtora, via caixa dois, à campanha presidencial de Serra – aderiu ao programa de repatriação de recursos do governo.

De acordo com a lei de repatriação, os brasileiros que admitiram manter recursos não declarados no exterior e pagaram impostos e multas estão anistiados de crimes como sonegação, falsificação de documentos, falsidade ideológica e evasão de divisas.

Paralelamente, o Congresso tenta votar, a toque de caixa, a anistia ao caixa dois. Em resumo, essa anistia e a repatriação de recursos, que pode até beneficiar parentes de políticos, parecem estar sendo desenhadas para salvar figurões delatados pelas empreiteiras.

(originalmente publicado na Revista Nordeste) (247)

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