Professor de ética e política da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Romano discutiu em entrevista à TV 247 o que pode acontecer na sociedade brasileira caso Lula seja impedido de disputar a presidência. “Significa que você está colocando o fósforo muito perto do barril,” diz ele.
Para Roberto Romano, 73 anos, sete livros publicados, uma atitude drástica contra o presidente pode eliminar atenuantes políticos e colchões sociais que contribuem para a preservação das instituições brasileiras e produzir “uma explosão sem que você saiba quais são os riscos.”
Intelectual conhecido pela postura independente, de quem já fez críticas duras ao Partido dos Trabalhadores e à esquerda em geral, Roberto Romano diz na entrevista que o enfraquecimento de Michel Temer é um elemento de preocupação para a evolução da situação política.
“Quando você fica acuado você fica inventivo”, diz, referindo-se a Temer. “Sobretudo quando tem sinais de outros poderes – e agora o Judiciário está dando sinais, mais e mais – de que uma regressão institucional seria aceitável”.
Na entrevista, o professor diz que a Lava Jato emprega “métodos de investigação conhecidíssimos no Brasil: os métodos autoritários”. Afirma que se ignora a presunção da inocência dos acusados, transferindo para eles a “coleta de provas. Isso é próprio de regimes ditatoriais”. Referindo-se a entrevista do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal e também do TSE, que antecipou uma visão contrária a presença de Lula na campanha, Romano afirma que “este senhor deveria ter mais contenção. Na Constituição está claro que você não pode abolir o princípio de presunção da inocência.” Conforme o professor, “ele está no lugar errado. Ou volta a uma leitura coerente com a Constituição ou seria necessário que fosse impedido ou saísse”.
Estudioso com um ótimo manejo de inglês e francês, um domínio acima do razoável do alemão e capaz de boas leituras em russo, Roberto Romano emprega uma imagem do filósofo holandês Baruch Espinoza (1632-16677) para explicar a importância de Lula no atual momento político brasileiro, que descreve como “regressão antropológica, regressão cultural e nas liberdades públicas.” Lembra que, pelas regras do Direito Natural, “o peixe grande come o pequeno. Mas como ele (Espinoza) é um democrata, a única maneira de acabar com esse monopólio é os peixes pequenos se juntarem e fazer força suficiente para barrá-lo”. Ele foi a assinatura numero 13 de um manifesto que pediu o lançamento da candidatura de Lula em março e está convencido de que ele representa uma “defesa social” para barrar “essa avalanche de direita” no país. Mesmo reconhecendo que o papel dos intelectuais, na vida pública, é diferente daquele assumido pelos políticos, o professor adverte para um ponto que tem preocupado eleitores dentro e fora do PT: “cuidado com essas alianças. Se alguém traiu uma vez trairá de novo. O PMDB tem-se mostrado especialista nisto.”
Convidado frequente para debates sobre questões éticas na política, Roberto Romano acha que o país enfrenta “uma inflação” de discussões sobre esse assunto e faz uma pequena provocação quando lhe perguntam se o Brasil é o país mais corrupto do mundo. “Quer exemplo de sociedade corrupta para caramba? Chama-se Suíça,” explica, lembrando que naquele país se faz a lavagem mundial de recursos criminosos – terrorismo, narcotráfico, corrupção – e a maioria da população não reclama disso. “E não me venha com a história do que o povo suíço não sabe”, ri. (247)
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