Prazo final para que os países zerem a emissão de gases de efeito estufa e alcancem a neutralidade de carbono é um empecilho.
A reunião de cúpula do G20 — grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia —, que aconteceu em Roma, no último fim de semana, ficou marcada pelas tentativas das nações que compõem o bloco em firmar compromissos para reduzir o índice de poluição da atmosfera e controlar o aquecimento global, mas as promessas firmadas no encontro não foram consenso entre todos os países.
Na declaração final da reunião, os líderes do G20 estabeleceram o compromisso de zerar as emissões líquidas globais de gases de efeito estufa e alcançar a neutralidade de carbono “por volta da metade do século”. Há a promessa de parte dos países do grupo em cumprir esses dois objetivos até 2050, como é o caso do Brasil, mas outras nações do G20 pedem pelo menos mais 10 anos para se livrar dos poluentes, a exemplo de China e Rússia.
O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, anfitrião do encontro deste ano, disse que a divergência entre as nações não é um problema tão grave. Segundo ele, o importante é que todos os membros do grupo, pela primeira vez, definiram um marco temporal para cumprir as promessas, por mais que ele seja vago.
“Não é um compromisso específico, de que será exatamente em 2050. Mas, antes, não havia compromisso algum. Havia um discurso de ‘talvez, antes do fim do século’. Agora, esse discurso é completo de esperança. É claro que há ajustes e mudanças no papel, mas, gradualmente, as coisas acontecem. Lentamente, vamos chegar lá”, destacou Draghi, em entrevista coletiva ao fim do encontro.
O primeiro-ministro disse que tentou ouvir os motivos de cada um dos países que não se comprometeram em alcançar os objetivos até 2050 e evitou polemizar. “O fato de que alguns países estão relutantes em mudar… Eles têm razões por trás disso. Nós ouvimos e entendemos o ponto de vista dos outros, mas mantivemos vivas as nossas ambições e compartilhamos com eles. Se nós entrarmos nessa briga de clima, não vamos a lugar algum”, frisou.
De todo modo, a ausência dos presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, na reunião revelou um resquício da falta de alinhamento entre os países do G20 sobre o tema. Ambos enviaram discursos em vídeo para a cerimônia. Xi disse que os países do grupo precisam de ações concretas para “acelerar a transição verde”. Já Putin, enfatizou que a Rússia não vai apenas atingir a neutralidade de carbono, mas garantir que, nas próximas três décadas, o volume acumulado de emissões líquidas de gases com efeito de estufa seja inferior ao dos vizinhos europeus.
Por mais que Draghi tenha tentado amenizar o fato de que nem todos os países vão zerar as emissões de gases de efeito estufa e alcançar a neutralidade de carbono no mesmo tempo, outros líderes mundiais criticaram a falta de acordo.
“A decepção está relacionada ao fato de que a Rússia e a China basicamente não apareceram em termos de nenhum compromisso para lidar com a mudança climática. Eu me decepcionei. Problemas climáticos são questões permanentes”, reclamou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também em entrevista à imprensa.
“Deixo Roma com minhas esperanças não cumpridas, mas pelo menos elas não estão enterradas”, ponderou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres.
Outras metas
A reunião do G20 também selou o compromisso de manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2 °C e fazer esforços para limitá-lo a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.
“Manter 1,5 °C ao alcance exigirá ações significativas e eficazes e comprometimento de todos os países, levando em consideração diferentes abordagens, por meio do desenvolvimento de caminhos nacionais claros que alinhem a ambição de longo prazo com objetivos de curto e médio prazo e com a cooperação internacional e apoiar, incluindo finanças e tecnologia, consumo e produção sustentáveis e responsáveis como facilitadores críticos, no contexto do desenvolvimento sustentável”, diz a declaração final do encontro.
Outro objetivo estabelecido pelas nações foi o de mobilizar o financiamento público e privado internacional para apoiar o desenvolvimento de energia verde, inclusiva e sustentável, para encerrar o fornecimento de financiamento público internacional para a geração de energia a carvão no exterior até o final de 2021.
“Reconhecemos a estreita ligação entre clima e energia e nos comprometemos a reduzir a intensidade das emissões, como parte dos esforços de mitigação, no setor de energia para cumprir prazos alinhados com a meta de temperatura de Paris. Cooperaremos na implantação e disseminação de emissões zero ou de baixa emissão de carbono e tecnologias renováveis, incluindo bioenergia sustentável, para permitir uma transição para sistemas de energia de baixa emissão.”
Para combater a degradação da terra e criar novos sumidouros de carbono, os países se comprometeram em plantar coletivamente 1 trilhão de árvores, com foco nos ecossistemas mais degradados do planeta. Além disso, o G20 vai doar 100 bilhões de dólares por ano até 2025 para ajudar os países em desenvolvimento para o financiamento de projetos que minimizem o aquecimento global.
(Texto R7).