A morte de Guardia foi confirmada pelo BTG. Guardia estava casado há quase 30 anos com a pedagoga Maria Lúcia e não tinha filhos
Morreu, nesta segunda-feira (11), aos 56 anos, o ex-ministro da Fazenda Eduardo Guardia, que comandou a pasta durante o último ano do governo Michel Temer, em 2018. Além da carreira política, dirigiu a BM&FBovespa (atual B3) e, desde fevereiro de 2019, era sócio e presidente-executivo da gestora de investimentos BTG Pactual Asset Management.
A morte de Guardia foi confirmada pelo BTG. Guardia estava casado há quase 30 anos com a pedagoga Maria Lúcia e não tinha filhos.
No início do governo de Michel Temer, em 2016, foi nomeado secretário-executivo da Fazenda, à época comandado por Henrique Meirelles. Em 2018, ainda sob a gestão de Temer, tornou-se ministro da Fazenda, quando o chefe deixou o cargo para concorrer à Presidência. Permaneceu no cargo até o dia 1º de janeiro de 2019.
Guardia era tido por colegas como um profissional sério e rígido quanto ao controle de despesas. Ficou marcado na área política do governo Temer como um homem cuja palavra “não” era recorrente em seu vocabulário. Deu tantas negativas que ganhou o apelido de “sr. Não”.
Ele sempre refutou, porém, uma postura inflexível. Dizia que essa impressão era natural para quem ocupava postos na Fazenda, especialmente num momento de crise econômica e de ajuste fiscal.
Como secretário-executivo da Fazenda, foi um dos responsáveis pela formulação do teto de gastos, a regra que trava os gastos federais e é considerada a principal âncora para as contas públicas do país.
Em entrevista ao Globo em agosto de 2018, Guardia fez uma defesa enfática da regra. Disse mais de uma vez que “o teto é crível, sustentável e eficiente” e argumentou que o foco da discussão fiscal tem que ser a necessidade de reequilibrar as contas públicas:
— O que me incomoda é que vocês erram o foco da discussão. O foco não é se o teto é sustentável ou não. É se o país é sustentável com um crescimento de despesa e com um déficit desse tamanho (2% do PIB).
Quando assumiu a vaga de Meirelles, Guardia fez questão de ressaltar em seu discurso o compromisso com a disciplina fiscal e com a agenda da produtividade e da eficiência. Essas áreas sempre acompanharam Guardia em sua trajetória.
Entre os servidores do ministério, Guardia era respeitado pelo respeito à posição da área técnica.
Funcionários da Fazenda que trabalharam com Guardia contam que ele trabalhou como uma barreira, na pasta, contra interferências políticas e sempre defendeu as posições técnicas do ministério.
Como ministro da Fazenda, teve que ajudar na negociação entre o governo Temer e liderenças de caminhoneiros para encerrar a greve que parou o país em maio de 2018. Chegou a dar entrevistas coletivas na manhã de um feriado e num domingo depois das 21h para explicar medidas adotadas pelo governo.
Como secretário e ministro, conduziu as principais negociações entre o governo e a Petrobras em torno da revisão do contrato de cessão oneresa (que permitiu o governo Bolsonaro fazer um megaleilão de petróleo em 2019).
Como secretário e ministro, também participou da construção da proposta de reforma da Previdência que, apesar de suspensa por falta de apoio no Congresso em 2018, antecipou o debate sobre pontos que viriam a ser aprovados no ano seguinte pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, como a criação da idade mínima para acesso às aposentadorias.
Mesmo indo com frequência a São Paulo, onde manteve residência e com a corrida rotina de ministro, Guardia ainda conseguia reservar algumas manhãs para praticar remo no Lago Paranoá.
Eduardo Refinetti Guardia nasceu em São Paulo, em 19 de janeiro de 1966. Antes de ingressar no mundo da política, fez carreira acadêmica. Obteve o título de doutor em sua pelo Instituto de Pesquisas Econômicas da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
O primeiro emprego como professor foi na na escola de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Depois, atuou como secretário da Fazenda do de São Paulo.
Ainda no governo do Estado de São Paulo, foi Pesquisador da Área Fiscal do Instituto de Economia do Setor Público da Fundação para o Desenvolvimento Administrativo (IESP/FUNDAP).
No início da década de 2000, no governo de Fernando Henrique Cardoso, foi nomeado secretário adjunto do Tesouro Nacional e depois oficializado Secretário do Tesouro Nacional.
Na BM&FBovespa, atual B3, exerceu o papel de diretor-executivo de produtos. Já entre 2010 e 2013, ainda na BM&FBovespa, ocupou o cargo de diretor-executivo financeiro.
(Folha de Pernambuco).