Economia

Audiência na Assembleia debate ações emergenciais para o setor sucroenergético

Audiência na Alepe teve cobranças por subvenção, incentivos fiscais e ações imediatas para preservar empregos e competitividade do setor

O cenário do setor sucroenergético em Pernambuco voltou ao centro de debate ontem, durante audiência pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Na ocasião, deputados, empresários e representantes de sindicatos e movimentos sociais discutiram medidas emergenciais para evitar a paralisação de safra, preservar empregos e buscar alternativas para recuperar a competitividade da cadeia produtiva no estado.

A reunião, proposta pelo deputado Antônio Moraes (PP), teve como objetivo ouvir as várias frentes do setor para levar as demandas para o governo. “Precisamos apresentar novas soluções que sejam interessantes para todos, como num jogo de ‘ganha-ganha’, no qual ninguém saia perdendo”, afirmou.

O presidente da comissão de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Luciano Duque, reforçou que é necessário discutir linhas de financiamento para manter empregos e custear a safra, com a criação de um subvenção emergencial por tonelada de cana produzida. “Medida essa que já foi aplicada em crises anteriores e que agora volta a ser necessária diante da velocidade e do agravamento da situação”, ressaltou.

Debate
O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha, alertou para o avanço acelerado do etanol de milho no país e defendeu que Pernambuco avalie a possibilidade de  adotar  incentivos fiscais, no etanol anidro, para mistura à gasolina, semelhantes aos que foram concedidos por estados da região, como a Bahia e o Maranhão.

Segundo ele, que já procurou a Fazenda estadual, começa a entrar em uso, também pelas regras de adequação para a reforma tributária, mais estímulos à produção do etanol anidro que incrementam a arrecadação estadual caso esse tipo de etanol seja mais produzido e comercializado no estado  de origem. “Os estados que conseguirem crescer, não só  no hidratado, mas também com maior produção local no etanol  anidro, vão se beneficiar e garantir o equilíbrio fiscal dos esforços de produção.”

Ele lembrou que a cadeia sucroenergética pernambucana envolve agricultores, fornecedores, trabalhadores e usinas que mantêm, segundo ele, um histórico de diálogo e parceria. “Temos uma relação transparente, com convenções coletivas respeitosas e esforços conjuntos para atravessar momentos difíceis”, afirmou Cunha, enfatizando a finalidade de buscar soluções por meio da audiência.

O presidente do Grupo EQM e fundador da Folha de Pernambuco, Eduardo de Queiroz Monteiro, destacou o papel decisivo das cooperativas no desenvolvimento do setor e a importância dos fornecedores de cana, afirmando que nenhuma usina poderia operar sem essa base. “O setor primário é o elo mais frágil da cadeia produtiva e merece tratamento diferenciado.”

Eduardo de Queiroz Monteiro ressaltou que algumas soluções precisam ser tomadas com urgência, como a necessidade de assegurar insumos como herbicidas, fertilizantes e sementes para manter o “ativo biológico vivo”. “Como vamos chegar lá na frente, quando os preços voltarem, se não tivermos produto na prateleira? Precisamos garantir a continuidade da atividade agrícola”, afirmou.

O presidente do Grupo EQM defendeu que ações sejam articuladas no âmbito estadual e federal e reforçou o impacto social da cadeia da cana-de-açúcar. Segundo ele, o setor tem grande relevância não só econômica, mas também social. “Ele (setor) é fundamental para geração de emprego e renda, especialmente em um estado carente como o nosso”, finalizou.

Para o presidente da Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco (Faepe), Pio Guerra, o encontro foi uma oportunidade para unir todas as entidades de classe para fazer uma apresentação do problema e discutir alternativas com o governo. “Não adianta fazer isso sem conversar previamente com o governo, ver a disponibilidade orçamentária, ver até que ponto o governo está disposto a ir. Agora, fazendo isso o mais rápido possível, porque todos têm interesse em resolver”, alertou.

Entidades
O presidente do Sindicato dos Cultivadores de Cana-de-Açúcar (Sindicape), Gerson Carneiro Leão, afirmou que a união entre os governos estadual e federal é fundamental para evitar um colapso no setor. “Há mais de 50 anos que estou na ‘cana’ e nunca vi uma situação dessa”, declarou.

Gerson explicou que a queda no valor da tonelada de cana torna a atividade inviável. Segundo ele, no mesmo período do ano passado, os produtores recebiam R$ 172 por tonelada, enquanto hoje recebem R$ 117. Ele alertou ainda para o impacto social caso o governo não intervenha. De acordo com o presidente do Sindicape, muitos trabalhadores poderão ficar sem emprego, já que os produtores não têm recursos para manter a atividade até a próxima safra.

O presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (Afcp), Alexandre Andrade Lima, explicou que a combinação do tarifaço imposto pelos Estados Unidos e da queda no preço internacional do açúcar provocou um impacto direto no campo. “O preço da cana despencou quase 40%, com aumento de custo. É uma equação que não fecha”, resumiu.

O presidente citou a necessidade de aprovação de uma subvenção de R$ 12 por tonelada de cana, prevista na Medida Provisória 1.309/2025, que trata do Plano Brasil Soberano. “Esperamos sensibilizar a todos para termos êxito nessas ações e garantir condições mínimas para que os produtores continuem na atividade”, completou.

Documento
Ao final da reunião, ficou definido que a Comissão de Agricultura, em conjunto com os demais órgãos presentes, irá elaborar um documento reunindo as demandas, pedidos e apelos do setor. O material será encaminhado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que visita o estado hoje, e também à governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), em regime de urgênciaA audiência contou ainda com a participação da secretária-executiva da Secretaria de Agricultura do estado, Jackeline Gadé; do deputado federal Coronel Meira; e dos deputados estaduais Nino de Enoque, France Hacker, Henrique Queiroz Filho e Doriel Barros, que contribuíram com o debate e reforçaram a importância de união institucional para enfrentar a crise.

Fonte: FolhaPE

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