Candidatos reclamam da correção da redação do Enem nas redes sociais

Por Ricardo Banana
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Candidatos que conseguiram acessar as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012 e não gostaram do resultado na prova de redação usaram as redes sociais para reclamar da correção. Pela internet, eles se reuniram na tarde desta sexta-feira (28) para trocar experiências. Um candidato criou, no Facebook, um grupo para reunir pessoas interessadas em entrar na Justiça para conseguir uma nova correção. Em cerca de quatro horas, o grupo já reunia quase 200 membros.

Na maioria dos casos, candidatos insatisfeitos argumentam que levaram o rascunho da redação do Enem para casa e o mostraram a professores. Estes, depois de examinar o texto, teriam dito que suas notas seriam mais altas do que o resultado divulgado nesta sexta.

Maria Clara Lima, de 17 anos, fez o Enem neste ano para tentar uma vaga no curso de odontologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A estudante de Teresina disse que dois professores de seu cursinho pré-vestibular corrigiram o rascunho de sua redação e lhe deram como nota não-oficial entre 850 e 940. Porém, sua nota final foi de 620 e, agora, ela teme que não seja suficiente para conquistar a vaga.

“Estou indignada, afinal, ano passado, sem cursinho de redação obtive 800 no Exame”, afirmou ela. “Acredito que se tivesse conseguido a mesma nota de redação teria dado certo. Em redação, esse ano fui bem melhor que o ano passado. Estava jurando que eu ia conseguir.”

Maria Clara diz que aderiu ao grupo que estuda uma medida judicial para revisão das notas para buscar informações a respeito de uma possível mudança.

Andressa Suarez, de 19 anos, disse que ficou “surpresa” com a nota final de 320 pontos na redação. A estudante, que no ano passado tirou 860 na redação do Enem e conseguiu uma vaga no curso de letras na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), explicou ao G1 que decidiu refazer o Enem para mudar de curso e estudar jornalismo. Blogueira, ela contou que, durante o ensino médio, foi premiada por suas redações e chegou a ser a oradora de sua turma na cerimônia de formatura. Disse que, neste ano, se preparou para o Enem com simulados pela internet e que, em 2011, não estudou.

Apesar de considerar o tema do Enem 2012 menos tranquilo que no ano anterior, Andressa disse que não se conforma com a pontuação que recebeu.

Já o estudante Adriano Sousa Santos, de 18 anos, diz que fez o Enem 2012 para tentar uma bolsa de intercâmbio pelo programa Ciência sem Fronteiras. Estudante do primeiro período do curso de engenharia civil do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), o jovem, que fez o ensino médio integrado ao técnico no Instituto Federal do Maranhão (IFMA), onde recebeu bolsa de iniciação científica da Petrobras, afirmou que se inscreveu no exame pelo terceiro ano consecutivo para tentar aumentar sua nota e, consequentemente, sua chance de receber uma bolsa do programa.

Porém, a nota de sua redação caiu de 560 para 420 –em 2010, no primeiro Enem de Adriano, sua redação teve nota 740. “Nos vestibulares tradicionais que eu faço minhas notas foram muito melhores, entre 8 e 8,50”, afirmou o estudante, que agora não sabe se conseguirá atingir o objetivo de fazer intercâmbio na Espanha. “Posso usar a nota do ano passado, mas no Ciência sem Fronteira a melhor nota é a que se sobressai. Fiz novamente [o Enem] para melhorar, tinha tudo para ser melhor esse ano, sempre consegui boas notas”, disse.

Agora, ele e outros candidatos que prestaram o Enem estão organizando uma petição online para que a correção seja refeita. “Vamos tentar todas as medidas possíveis, o que for viável a gente vai fazer.”

Vista pedagógica

A assessoria de imprensa do Ministério da Educação afirmou que todos os candidatos terão acesso à “vista pedagógica” automaticamente a partir do dia 6 de fevereiro de 2013. As redações corrigidas estão sendo digitalizadas e serão carregadas no site de resultados do Enem.

Para acessar a correção, bastará inserir o CPF ou o número de inscrição do Enem 2012 e a senha individual do candidato.

Maria Clara, porém, teme que esse prazo seja tarde demais. “Não quero esperar porque vão soltar o espelho da redação depois que já tiverem saído todos os resultados do Sisu, e aí é inviável, impossível mudar a nota.”

Insegurança e sentimento de injustiça

O idealizador do grupo no Facebook é o estudante Gabriel Bieu, de 24 anos. Atualmente, ele cursa direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas decidiu fazer o Enem 2012 para tentar uma vaga no mesmo curso na Federal do Paraná (UFPR). Ele afirmou ao G1 que prestou o Enem pela quarta vez e que, em 2011, havia tirado a nota máxima na redação. Na edição atual, mesmo afirmando ter observado todos os critérios utilizados pelo MEC, sua nota final caiu para 520.

“Infelizmente o MEC ainda precisa evoluir muito nesses critérios de correção de redação. Gera uma insegurança e um sentimento de injustiça muito grande com uma coisa tão séria”, afirmou.

Correção aperfeiçoada

A prova de redação foi feita no dia 4 de novembro com o tema “Movimento imigratório para o Brasil no século 21”. Mais de 4 milhões de candidatos realizaram o Enem 2012 e mais de 5.600 professores foram contratados para fazer a correção das provas.

A partir deste ano, a redação passou a ser corrigida por dois corretores de forma independente, sem que um conheça a nota atribuída pelo outro. A nota final é composta de cinco notas, que avaliam competências específicas do candidato.

A nota final corresponde à média aritmética simples das notas atribuídas pelos dois corretores. Caso haja discrepância de 200 pontos ou mais na nota final atribuída pelos corretores (em uma escala de 0 a 1.000), ou de 80 pontos ou mais em pelo menos uma das competências, a redação passa por um terceiro corretor, em um mecanismo que o Inep chama de “recurso de oficio”.

Se a discrepância persistir, uma banca certificadora composta por três avaliadores examinará a prova. Os candidatos poderão solicitar vistas da correção, porém não poderão pedir a revisão da nota.

Em agosto de 2011, o governo firmou com o Ministério Público Federal um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), no qual se compromete a dar vistas à redação apenas a partir da edição de 2012 do Enem. O MEC afirmou, na época, que não havia uma ferramenta digital devidamente testada que comportasse a consulta pretendida. (G1)

 

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