Numa luta de mais de 10 anos, ainda sem sede própria, e de maneira praticamente solitária, a ideia de um museu no município de Remanso era cada dia mais forte na mente da escritora e historiadora autodidata, Marisa Muniz; mulher forte, sertaneja, 71 anos, mãe de 09 filhos, casada também com um sertanejo, Washington Macêdo de Miranda, segundo ela, “o melhor vaqueiro da região”.
Com esse histórico e com a vontade de ver sua terra natal reconhecida culturalmente, tendo sua história e memória preservadas, Marisa Muniz abraçou essa luta e cuidou para que a chama do passado da velha Remanso nunca fosse apagada, que para ela continua acesa, viva, e que “enquanto vida eu tiver estarei aqui contando essa história, que não é só minha, é do povo de Remanso”.
Numa casa pequena, sem uma estrutura adequada, ainda sem banheiros, com um telhado velho, piso quebrado, porta apenas com ferrolho por dentro, e uma fachada precisando de uma boa reforma, ali está à sede atual do Museu do Sertão Antônio Coelho, que ao contrário de sua aparência física, é de uma riqueza cultural e histórica impressionante, rica em detalhes, minuciosamente cuidado e com um nome escolhido pela própria Marisa, numa homenagem póstuma ao seu padrinho, Antônio Coelho.
De acordo com Marisa Muniz, o prédio precisa de uma reforma urgente. Ela pede ao poder público ou a comunidade ajuda para a manutenção e a instalação de pelo menos um sanitário. “O que a gente pede pode parecer muito, mas não é em relação à importância que o museu tem para a cidade. Precisamos de um banheiro para as crianças que visitam o museu, do telhado forrado para diminuir a poeira, piso e uma melhora na fachada”.
Apoio solidário
A luta de “dona Marisa”, como é conhecida na cidade, vem desde 2002, quando o museu nem tinha ainda a sua sede própria, e que segundo ela, funcionava de maneira improvisada numa casa de aluguel. Em entrevista a reportagem do jornal A Notícia do Vale, Marisa Muniz fez questão de relatar toda a sua trajetória para a implantação em definitivo do Museu do Sertão Antônio Coelho.
“Ainda é uma luta solitária, porque estou com 71 anos e cuido sozinha desse museu, que na verdade é um patrimônio do município”, disse, lembrando de um grande incentivador de sua luta, o fundador da UNIFAN – Faculdade Alfredo Nasser de Remanso, Profº Alcides Ribeiro Filho, segundo ela, o amigo e principal benfeitor do Museu do Sertão, e responsável também pela publicação do seu segundo livro: “Remanso – pedaço de um chão II”.
Após muitos anos de luta com o museu e depois de sua divulgação, o Núcleo de Conhecimento Brasileiro Ágora, com pólo em Remanso, disponibilizou uma ajudante para dona Marisa, que sempre aparece para limpar a sede própria do museu. “Essa ajudante sempre vem, ela tem a chave e às vezes nem vejo quando ela aparece”.
De acordo com Marisa, o apoio do professor Alcides foi de fundamental importância na inauguração da sede própria do Museu, que completa 05 anos em 31 de outubro, data em que a escritora Marisa Muniz, fará o lançamento do seu terceiro livro, desta vez sobre o Museu do Sertão, também com o apoio do professor. “Fiz questão de homenageá-lo na placa de inauguração da sede própria e dentro do próprio museu, porque é um grande amigo e colaborador desse patrimônio, cuidado com muito carinho, porque aqui é a minha vida, já é parte da minha vida, é esse o presente que eu tenho pra oferecer para a minha cidade: o passado da Remanso Velha”, disse emocionada.
Destaques
E foi dessa forma, através de versos sobre a história de Remanso, que dona Marisa Muniz conquistou muitos admiradores em todos os eventos que se apresenta e leva o nome do Museu do Sertão Antônio Coelho. Coloca sempre sua luta e amor ao museu e a sua Remanso Velha como pauta de seu assunto principal em qualquer solenidade que se apresenta, e exemplo disso é o 2º Encontro Baiano de Museus, realizado em novembro de 2010, onde foi palestrante e num discurso emocionado foi aplaudida de pé pelos participantes do encontro. O Museu do Sertão de Remanso consta também na programação da 11ª Semana de Museus, realizada em maio deste ano, pelo Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM. Está lá entre os grandes museus do Brasil, esse “pequeno tesouro do interior baiano”.
Reconhecimento
Marisa Muniz, assim como o Museu do Sertão tiveram reconhecimento oficial na sua própria cidade, e em 17 de junho de 2009, pela Lei Nº 243, a Câmara Municipal de Remanso declara de UTILIDADE PÚBLICA a Associação de Amigos do Museu do Sertão Antônio Coelho, CNPJ 08.639.907/0001-07, fundada em 06 de março de 2001.
Ainda da Câmara Municipal, Marisa Muniz recebeu homenagem através de Moção de Aplauso pelo lançamento do seu livro “Remanso – pedaço de um chão II”. A Moção de autoria da vereadora Renata Lemos Rosal do Valle foi conferida a dona Marisa em 07 de abril de 2011 e aprovada por todos os vereadores.
Acervo do museu
Entre tantas histórias de dona Marisa e em tom de brincadeira ela nos revela que o acervo do Museu do Sertão, a maioria de suas peças são compradas e adquiridas com a colaboração e doação de amigos do museu. “Outras vezes até roubadas”, brinca.
Segundo ela, toda a indumentária de vaqueiro que está em exposição no museu ela “roubou” do marido, entre outras peculiaridades, cuidadosamente trabalhadas, para prestar o melhor serviço possível aos visitantes. Entre as peças do acervo, estão oratórios; peças e produtos da época da Remanso Velha; mercadorias, mobiliários; um modelo de Casa de Farinha, reprodução de uma casa de taipa e de como viviam seus moradores na caatinga; peças curiosas como a BRUACA, entre tantas outras, que ela faz questão de explicar em detalhes.
“As crianças das escolas de Remanso que visitam o Museu do Sertão ficam maravilhadas, para elas tudo isso é novidade, mas sabem que são do tempo dos seus pais, avós, bisavós e até tataravós, e eu vou mostrando e explicando minuciosamente cada peça em exposição, é um prazer”, disse entusiasmada.
O Museu do Sertão Antônio Coelho também conta com exposição fotográfica de várias épocas da Remanso Velha, coisas da cidade e do interior, e logo na entrada um painel em homenagem ao padrinho de dona Marisa, aquele a quem ela dedica o nome do museu, que não é somente do município de Remanso, é também do Sertão do São Francisco.
Serviço
Museu do Sertão Antônio Coelho
Rua Coronel Francisco Leobas, 586. Centro.
Remanso – Bahia
CEP: 47200-000
Fone: (74) 3535-1230
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