Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Genética do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) identificou dois genes que, em conjunto com uma vacina imunoterapêutica, diminuem a reprodução viral de pacientes com HIV. A partir disso, pessoas soropositivas que possuem esses genes poderão, futuramente, trocar o coquetel de remédios que usam atualmente por uma vacina. Este resultado foi alcançado após o estudo do genoma de 18 pacientes submetidos ao tratamento, com 8 deles tendo a sua carga viral reduzida até quase zero.
“Ainda não sabemos quantas doses ou que outros genes respondem à vacina, mas isso já é um resultado muito promissor. Quanto mais genomas nós analisarmos, mais genes vão ser descobertos e mais refinadas as vacinas poderão ser”, disse o titular do Departamento de Genética da UFPE e líder da pesquisa, professor Sergio Crovella.
“As pesquisas sobre a Aids não costumam focar muito no ser humano, apenas no vírus e na composição da vacina. Mas é como uma aspirina: algumas pessoas respondem melhor que outras devido a seu código genético”, informou Crovella. Com isso em mente, ele, com uma equipe de outros dois professores, quatro alunos de pós-graduação e um clínico, começaram a avaliar o DNA dos 18 pacientes e concluíram que os portadores de pelo menos um dos dois genes, CNOT1 e PARD3B, foram os que melhor responderam ao tratamento.
Os resultados foram apresentados no congresso internacional Aids Vaccine 2013, em Barcelona, na Espanha, em outubro passado. “É um encontro voltado só para o desenvolvimento de vacinas contra a Aids, com os países mais desenvolvidos do planeta. Foi nossa Copa do Mundo e saímos de lá vitoriosos, pois nomearam a UFPE como o local de referência para todos os estudos sobre o genoma do hospedeiro de todos os pacientes submetidos a vacinas terapêuticas no mundo”, revelou o professor.
Isso significa que todas as amostras do mundo voltadas para esse tipo de estudo vão ser encaminhadas para o laboratório do CCB, onde serão analisadas. Os primeiros 78 espécimes devem chegar da Espanha no fim de março. “Em três meses, devemos finalizar o mapeamento completo dessas amostras e identificar outros genes”, afirmou o doutorando em genética Ronald Moura, que participa da pesquisa e, em parceria com o também doutorando Antônio Campos, desenvolveu um software que acelera o processo de identificação dos genes.
Pesquisa
Iniciado em 2004, o estudo começou com o interesse em criar uma vacina que “reiniciasse” o reconhecimento do sistema imunológico humano do vírus, pois a Aids o desativa. Após anos, cientistas da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da UFPE desenvolveram a vacina terapêutica, que reduziu para quase zero a carga viral de 45% dos pacientes.
Após testes, a equipe de Sergio Crovella decidiu, em 2012, fazer o mapeamento do genoma de 18 pacientes portadores do vírus HIV que não apresentavam sintomas da doença e não recebiam nenhum tipo de tratamento. O objetivo era identificar que fatores individuais de cada um influenciavam no funcionamento da vacina desenvolvida. Depois de dois anos de trabalho, a equipe identificou os genes CNOT1 e PARD3B, que reprimem a reprodução viral. (G1)
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