A policial militar e a mídia

Por Ricardo Banana
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Andréia é brasileira, baiana, mulher preta, formada em Direito, mãe de um advogado de 32 anos e de uma jornalista de 27. Trabalha há duas décadas na mesma instituição. Em sua ficha, seus superiores anotaram que ela é uma “excelente profissional, dedicada, assídua, pontual, proativa e disciplinada”. Também é elogiada por seus colegas de trabalho.
Porém, nos últimos dias, no cumprimento do dever, ela quase teve sua reputação destruída. Um vídeo repetido à exaustão, feito com um aparelho celular, no Hospital da Mulher, em Salvador, a fez viver dias terríveis. Andréia Carla de Brito Ribeiro, de quem falamos, é uma dedicada e respeitada policial militar.
Ela foi vítima da insanidade dos veículos de comunicação de Salvador, da Bahia, e até mesmo do Brasil, que, lamentavelmente, fizeram da busca pela audiência sua prioridade, relegando ao limbo o cuidado de comunicar bem e com responsabilidade social.
Na última terça-feira, Andréia foi recebida pelo secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner, e pelo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Paulo Coutinho, em reconhecimento aos serviços prestados ao longo de sua carreira. Ambos prestaram solidariedade a ela, em razão da injustiça a que foi submetida pela mídia.
Relembrando o caso, há poucos dias Andréia foi acionada por funcionários do Hospital da Mulher, no largo de Roma, para ajudar a conter uma paciente que se recusava a observar as orientações dos atendentes. O vídeo que viralizou mostra apenas um trecho do que de fato ocorreu.
O que mais revolta é que não houve, da parte de nenhum veículo de comunicação, a preocupação com aquilo que era e ainda deveria ser sagrado no jornalismo: colher a versão de quem foi citado ou exposto. O principal esforço foi fazer o vídeo ser visualizado pelo maior número de pessoas. Isso, obviamente, atrai anúncios! A lógica foi essencialmente financeira, e chegar a essa conclusão é entristecedor.
Na descuidada corrida contra o tempo, veículos publicam imediatamente o que chega às suas mãos, muitas vezes sem dar espaço ao outro lado e sem checar a veracidade da informação. O desequilíbrio é patente. A informação mal apurada e descontextualizada corre o mundo, com a velocidade da internet, das TVs e das emissoras de rádio.
Para simular imparcialidade, pedem aos citados uma nota de resposta, que geralmente é editada com pouco destaque e que muitos chamam pelo sintomático nome de notapé – espécie de rodapé da notícia.
Assim, o dano à imagem é consumado. Quem é acusado de forma leviana dificilmente consegue limpar sua reputação por completo. Mais intensa, a mentira se sobressai sobre a verdade, e quem mais perde nesse jogo desproporcional é a sociedade.
Esta é a triste notícia: ninguém se preocupou em ouvir a policial militar.

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