A eleição de Luís Inácio LULA da Silva em 2022 não foi meramente a escolha de um nome para a presidência. Foi também a escolha de um modelo econômico centrado em uma maior atuação do Estado nos mais variados segmentos, sobretudo em projetos de infraestrutura, estatais, serviços públicos e política social.
O terceiro governo Lula possui como objetivo central a retomada da atividade econômica centrada no consumo de massa e investimentos em setores estratégicos que conduzam ao crescimento. O governo buscará sincronizar o uso das políticas fiscal, monetária, cambial e de rendas para atingir seu objetivo central. As quatro políticas precisarão estar perfeitamente sincronizadas para trazer as principais variáveis macroeconômicas para patamares aceitáveis dentro do que se espera do objetivo central. Essas variáveis são taxa de juros, taxa de inflação, taxa de câmbio, taxa de desemprego, arrecadação, desoneração fiscal, taxa de poupança e formação de capital fixo, investimento externo direto, etc.
Assim, as duas variáveis mais visíveis como taxa de juros e inflação mostrarão os ímpetos dos consumidores e empresários em meterem ou não a mão no bolso e realizarem suas compras ou investimentos. Em termos de política fiscal o governo não medirá esforços para conduzir a economia a um ambiente de ampliação do crescimento e um primeiro grande passo é a continuidade em 2023 do Auxílio Brasil que é uma peça-chave nesse tabuleiro do crescimento, além da remodelagem de incentivos fiscais para determinados setores, incluindo infraestrutura, e as famosas desonerações fiscais.
Teremos uma outra variante que é uma política monetária, sincronizada com a política fiscal, que busque reduzir os juros básicos da economia – SELIC, num horizonte de médio prazo, de forma gradativa, trazendo a reboque uma redução da inflação e o aumento do poder de compra dos salários e, mais uma vez, gerando um efeito multiplicador no conjunto da economia.
Vale salientar que vários aspectos vão interferir nos juros e inflação que vão desde o consumo de produtos básicos como alimentos, passando pelos preços de tarifas públicas (preços administrados) até produtos que são influenciados pela paridade do dólar, porém, um aspecto é central nesse processo que é o equilíbrio entre oferta e demanda de bens e serviços, dentro de um patamar estabelecido pelo objetivo central da política macroeconômica.
Outro aspecto significativo é a política cambial do governo e como será conduzida já que temos nos dias atuais um câmbio super desvalorizado com a paridade de US$1,00 (dólar) valendo mais de R$5,00 (reais). Esse modelo favorece aos setores da economia que estão vinculados à exportação, porém, nesse patamar tendem a produzir enormes desequilíbrios macroeconômicos na inflação, taxa de juros e consumo.
Por fim, a política de rendas (rendimento das classes) em que, já em curso, o governo de transição visa consolidar o Auxílio Brasil e um aumento do salário mínimo acima da inflação, como instrumento de potencializar as condições de consumo no conjunto da economia brasileira.
Resumidamente esses serão os 04 eixos centrais da receita econômica do governo Lula nos primeiros 12 meses. Lógico que todas essas variáveis precisam ser monitoradas pela equipe econômica do governo diariamente, com o objetivo de corrigir distorções que vão surgindo ao longo dos caminhos e, também, as influências que fatores externos podem trazer na política macroeconômica.
O fato é que em 2023 vai ficando cada vez mais claro que vai saindo o ambiente de incerteza, posto pelas turbulências do processo eleitoral atípico, e vai entrando um horizonte de maior racionalidade econômica e uma análise mais fria e crua dos dados, sem o calor do ambiente eleitoral até pouco tempo atrás.
O que é perceptível é que existe junto às pessoas uma enorme expectativa de melhoria do seu padrão de consumo e na outra esfera existe um empresariado que, em sua grande maioria, possuía uma escolha, mas que diante do resultado das urnas já está com os olhos voltados para o conjunto das oportunidades de negócios e lucros que o ambiente econômico de 2023 trará, porque afinal de contas o “capital” não tem cheiro, cor e nem bandeira, mas apenas um interesse: valorização!!!
Geraldo F. S. Junior – Bacharel e Mestre em Economia (UFPB) e foi Secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão de Petrolina – PE.