Abril é mês de lutas: contra a opressão colonial (dia 21), pela valorização dos povos tradicionais (dia 19), pela Reforma Agrária (dia 17), contra o Golpe Militar (dia 1°). Acontecimentos que ficaram registrados na paisagem social brasileira e compõem o calendário de celebrações da memória daqueles/as que, com coragem e ousadia, se rebelaram contra o julgo do autoritarismo e da exploração. É em homenagem aos lutadores e lutadoras do povo que um coletivo de ativistas sociais do município de Petrolina realiza há dois anos o projeto “Abril pra Luta”, iniciativa que tem movimentado os bairros José e Maria, Santa Luzia e Terras do Sul, na periferia da cidade.
A programação deste ano, com o tema “Reaja Periferia, conhecimento é poder!”, iniciou no dia 18 de abril, em uma das escolas do bairro José e Maria. O assunto discutido na abertura do evento não poderia ser mais oportuno: “Mídias Livres e contexto político atual”. Em diálogo com esse mote, foram realizadas ao longo da semana oficinas de Teatro e Fotografia, para exercitar o olhar dos participantes sobre a sua realidade e a possibilidade de construir narrativas performáticas e imagéticas.
“Ministrar o 1º módulo da Oficina de Fotografia dentro da proposta das Mídias Livres foi uma experiência primorosa”, destacou a fotógrafa e ativista social Lizandra Martins. Segundo ela, trabalhar a linguagem fotográfica trouxe “a possibilidade de compartilhar o que tenho vivenciado como fotojornalista e no percurso de militância, com a proposta de aprender também junto com os alunos, construindo pontes através desse olhar”.
No dia 19 de abril, o Pátio da Feira do José e Maria foi o palco da exibição do “Cine Reaja”, com o filme “Uma história de amor e fúria”, cujo protagonista passa por momentos marcantes da história brasileira: os conflitos indígenas contra a invasão europeia, a insurreição popular dos balaios (Balaiada), a ditadura militar e até uma guerra pela água no futuro próximo de 2096.
Já no dia 20, foi a vez de o bairro Santa Luzia sediar a Aula Pública “O golpe no Brasil recente”, que discutiu os impactos da destituição da presidente eleita Dilma Rousseff. Na oportunidade, foram ainda exibidos os vídeos “Quem matou Eloá?”, um documentário sobre a cobertura midiática de casos de feminicídio, e trechos editados de especialistas em política e economia sobre a conjuntura em que aconteceu o golpe de 2016.
O Cine Reaja voltou ao bairro José e Maria nesta quinta-feira (26), com as exibições do curta “Ilha das Flores”, uma crítica pungente ao modo como a economia capitalista gera relações desiguais entre os seres humanos, e do longa “Linha de Montagem”, que documenta o processo de mobilização e organização dos operários no ABC paulista, nas greves de 1979 e 1980. Desta vez, a mostra foi realizada na Associação das Mulheres Rendeiras.
“As exibições do ‘Cine Reaja’ têm sido espaços construtivos e de trocas com o público, trazendo o cinema como ponte para a reflexão”, destacou Lizandra. Seja através de uma animação ou de um documentário, a reunião de estudantes e outros moradores das comunidades nas exibições dos vídeos tem gerado importantes e necessários diálogos.
No último dia de programação do Abril pra Luta, na próxima terça-feira (1°), serão realizados um torneiro de futebol de travinhas, das 8h às 10h, apresentações artísticas no espaço “Arte em Movimento”, das 17h às 19h, e uma caminhada do bairro Santa Luzia até o José e Maria, às 19h30.
Um dos idealizadores do evento e morador do bairro José e Maria, o músico Maércio José dos Santos afirma que “o Abril pra Luta nasceu da necessidade, gritante, de espaços e canais onde o povo da periferia pudesse dialogar sobre Política com “P” maiúsculo, ou seja, “reaprender” a se organizar além das redes sociais”. Entre os objetivos da iniciativa, estão o de “buscar um protagonismo periférico do fazer política comunitária, com pautas locais e nacionais, além de provocar a descentralização das manifestações políticas e sociais”, afirmou ele.
Todas as atividades do Abril pra luta são gratuitas, abertas ao público e organizadas com a mesma coragem e ousadia daqueles/as que se rebelaram e seguem se rebelando contra o julgo do autoritarismo e da exploração, na construção de paisagens sociais livres e emancipatórias.