Artigo: Ex-prefeito Julio Lóssio envia documento ao governador Paulo Câmara sobre preocupação de uma usina nuclear se instalar às margens do Rio São Francisco

Por Ricardo Banana
A+A-
Reset

Em ofício enviado ao governador Paulo Câmara, o ex-prefeito Julio Lóssio demonstrou grande preocupação, pois uma notícia vinda das redes sociais do senador Fernando Bezerra Coelho, do MDB de Pernambuco, diz que existe a possibilidade da vinda de uma usina de energia nuclear ser instalada às margens do Rio São Francisco, no município de Itacuruba, sertão de Itaparica. No texto, Lóssio alerta do risco desse projeto e que existe fontes limpas de energia em que o Nordeste vem se destacando como a eólica e solar. Confira:

Senhor governador,

Paulo Henrique Saraiva Câmara

Acabo de ler a matéria veiculada nas mídias sociais em que o Senador Fernando Bezerra de a instalação de uma usina de energia nuclear em nosso estado, mais precisamente na cidade de Itacuruba, às margens do São Francisco. Senhor Governador, sei que, em tempos de crise e desemprego, as promessas megalomaníacas de grandes investimentos e geração de empregos seduzem os homens de visão imediatista ou com interesses “iceberguianos”.

O nosso Rio São Francisco já alimenta as turbinas geradoras de energia limpa das nossas hidro-elétricas de Xingo, Paulo Afonso I, II ,III e IV, Sobradinho, Apolonio Sales e Itaparica. Nos últimos anos também observamos em todo Nordeste uma expansão extraordinária das usinas eólicas, que já produzem cerca de 80% da energia consumida na região, e que ainda possui grande capacidade de expansão. Estamos ainda vivendo o início do processo de expansão da energia solar, por meio de micro geração e com grandes parque solares, cujo potencial, falando apenas do nosso semiárido, é gigantesco

Causa-me calafrios pensar na possibilidade da instalação de uma usina nuclear em nosso estado, sobretudo às margens do nosso Velho Chico. Passado o momento do investimento inicial, com a geração de empregos – na sua grande maioria de baixo valor agregado, nas obras de construção civil, o que nos restaria?

Uma usina nuclear com capacidade de produzir 6600 megawatts? Energia essa que poderia ser facilmente gerada por fontes mais seguras, a exemplo da Eólica e solar.

E um passivo que podemos dividir em dois grandes aspectos: O primeiro diz respeito ao real risco de vazamento nuclear, cujas consequências seriam devastadoras para região do São Francisco, para Pernambuco e para o Brasil. Basta lembrar o acidente da usina de Chernobyl, na antiga União Soviética no ano de 1986.

Vale salientar que o as partículas radioativas que vazaram no acidente foram detectadas em vários países da Europa, contudo Rússia , Ucrânia e Bielorrúsia foram os mais atingidos pela proximidade. A Bielorrúsia país membro da antiga união soviética teve 23% de seu território atingido, tendo perdido cerca de 264 mil hectares de terras cultiváveis por conta da radiação. Só a título de comparação, o polo de irrigação de Pernambuco e Bahia no São Francisco possui cerca de 160 mil hectares.

O prejuízo estimado pelo governo da Bielorrússia entre 1986 e 2016 causado pelo acidente foi de cerca de 235 bilhões de dólares. Nessa escala, o valor de investimento da ordem de 2,5 bilhões de dólares torna se insignificante. A região de Chernobyl deverá permanecer inabitada por 20 mil anos, ou seja, 10 vezes o que a humanidade já viveu desde a era Cristã.

Imaginemos um vazamento nuclear às margens do São Francisco, com contaminação radioativa da água que utilizamos para consumo humano, animal e para a irrigação em todo semiárido? Imaginar tal situação é viver um pesadelo acordado.

Utilizo aqui o exemplo de Chernobyl, pois foi ele o mais grave e emblemático sobre o assunto. Mas poderíamos falar também do acidente com o Césio 137, em Goiânia. Ou mesmo o acidente em Three Mule Island, na Pensilvânia, ou o que ocorreu na Usina de Mayak, na cidade de Ozyorsk. Além desses, poderíamos aqui também citar os mais recentes, como o de Tokaimura, no Japão (1999), ou a explosão de um reator na usina de Severk, na Sibéria (1993), ou até mesmo Fukushima, também no Japão, em 2011.

O segundo é que teríamos ainda um grande risco de imagem para nosso estado e região, pois, no mundo das fake news, quem consumiria frutas vindas de uma região onde “dizem” ter havido um vazamento nuclear? Quem gostaria de consumir o leite de nossas bacias leiteiras, usar as roupas do nosso polo de confecção ou frequentar as praias em um estado onde dizem ter havido um vazamento nuclear?

Valeria a pena por tanta coisa em cheque, por algo que podemos ter a um custo infinitivamente menor quando comparado com os riscos Com todo o respeito: Essa usina não deve ser instalada no Brasil. Essa usina não pode ser instalada em Pernambuco.

Assim sendo, Governador:

Salve a terra dos altos coqueiros!

De belezas soberbo estendal!

Nova Roma de bravos guerreiros

Pernambuco, imortal! Imortal!

Atenciosamente,

JULIO EMILIO LOSSIO DE MACEDO

Ex-Prefeito de Petrolina-PE, gestões 2009-2016.

Related Posts