Por Áureo Cisneiros, Presidente do SINPOL-PE
Quando a governadora Raquel Lyra pediu a confiança do povo pernambucano, em 2022, prometeu um estado mais seguro e uma polícia valorizada, com condições dignas de trabalho. Hoje, quase três anos depois, afirmo com responsabilidade e tristeza: essas promessas não chegaram na vida da população e muito menos ao cotidiano dos policiais civis e demais forças de segurança,
A realidade resiste a qualquer propaganda. Pernambuco segue entre os estados mais violentos do Brasil, com o terceiro maior índice de crimes violentos e a segunda maior presença de facções criminosas. Em 2025, já ultrapassamos 70 feminicídios e Pernambuco continua sendo o estado que mais mata mulheres no Nordeste e um dos piores do Brasil nesse tipo de crime. E caminhamos, tragicamente, para encerrar o ano com mais de 3 mil homicídios. Esses números não aparecem nas campanhas publicitárias, mas pesam na vida real de quem vive aqui.
A violência se expande por todo o estado. Caruaru, mesmo com dois programas chamados “Juntos pela Segurança”, voltou a figurar entre as cidades mais violentas da América Latina. Nada disso é coincidência; tudo isso é consequência da ausência de políticas públicas efetivas, estruturadas e planejadas.
A Polícia Civil vive sua pior crise histórica. Temos mais de 94 mil inquéritos parados, sendo 14 mil relacionados a homicídios. E se hoje os homicídios diminuíram, alguns percentuais em relação ao ano anterior, é fundamental dizer a verdade: essa significativa queda não se deve ao governo, mas ao sacrifício, suor e sangue das forças de segurança, policiais civis, militares, penais e científicos que vêm sendo sacrificadas por um projeto
político de poder, e não por um projeto de Estado. Cadê a Lei Orgânica da Polícia Civil? Qual a dificuldade do governo modernizar, de verdade, legalmente, por dentro, a Polícia Civil.
Somos nós, policiais civis, que estamos pagando essa conta com a saúde, com a vida familiar e, muitas vezes, com a própria vida.
Delegacias continuam fechando à noite, nos finais de semana e feriados, incluindo Delegacias da Mulher, que por lei deveriam funcionar 24 horas, mesmo com o crescimento brutal da violência contra mulheres. É um contrassenso inexplicável diante da realidade que vivemos.
Nas delegacias, os policiais trabalham com o pior salário do Brasil, em prédios sucateados, sem efetivo, sem internet, sem equipamentos e, muitas vezes, sustentando a própria unidade. Há locais onde os servidores se unem para comprar água mineral, material de limpeza e itens básicos de expediente. Adoecemos tentando manter de pé um sistema que o governo abandonou. Se existem investimentos, como diz a propaganda, por que tudo piorou?
Nunca esqueço do vídeo em que a então candidata Raquel Lyra dizia que “nas delegacias falta tudo”. Ela reconhecia que faltava água, estrutura, dignidade. Hoje, três anos depois, ela esqueceu dessa realidade ?
Enquanto candidata, Raquel Lyra conhecia cada uma dessas dores, conhecia cada uma dessas carências e sabia exatamente o impacto que a falta de investimento em investigação tem sobre a expansão do crime organizado. Bastou sentar na cadeira de governadora, comer caviar, fazer umas viagens internacionais, limpar os pés em tapetes Persas do Palácio que mandou comprar que esqueceu da segurança pública.
Durante a campanha, Raquel Lyra esteve no SINPOL-PE, assinou compromissos, prometeu valorização e investimento real na Polícia Civil. Mas o que vemos é um estado que não valoriza quem investiga o crime, um estado que não entrega as condições prometidas, um estado que, ao ignorar sua polícia investigativa, escolhe fortalecer o crime organizado.
A governadora anuncia cifras bilionárias de investimentos, mas a investigação policial, que é a espinha dorsal da segurança pública, segue abandonada. A pergunta que ecoa, entre policiais e entre a população, é simples: Onde estão os investimentos? Nas contas bancárias de donos de locadoras de veículos (viaturas) ou com os empresários de agências de propaganda?
A violência é a maior preocupação dos pernambucanos e também um dos maiores entraves ao nosso desenvolvimento econômico. Ela afeta o turismo, os empregos, os investimentos e a autoestima do povo. Nos últimos 3 anos, nos carnavais, tivemos turistas vitimados e episódios de extrema violência que mancharam a imagem de Pernambuco.
Segurança pública não é slogan. Não é improviso. Não é lacração para redes sociais.
Segurança pública é vida, dignidade e soberania. É direito!
Pernambuco não aguenta mais promessas vazias. O povo quer andar na rua sem medo. Quer ver o Estado funcionando de verdade. E nós, policiais civis, queremos apenas aquilo que nos foi prometido: valorização, estrutura e condições dignas para investigar o crime e proteger a população, algo que, até hoje, não saiu do papel.
A governadora fez e continua fazendo promessas. Conseguirá cumprir? .
Porque quem sangra, quem sofre e quem morre com a falta de segurança não é o governo. É o povo pernambucano.
