Passado cerca de quinze dias da invasão do Exército a ilha do fogo e mais de cem dias desde que a população de Juazeiro e Petrolina tomaram conhecimento de que a Superintendência de Patrimônio da União (em Recife) concedeu a posse da ilha do fogo ao Exército e a justiça federal em Petrolina decidiu pela desapropriação do comerciante que ali se instalou por força de um título de posse, concedido pela prefeitura de Juazeiro há cerca de vinte anos. Ainda continuamos a esperar o seu pronunciamento. O senhor que foi prefeito da cidade de Petrolina, filho da família mais influente, de políticos proeminentes e que tem reduto eleitoral na região, deve saber do valor histórico, antropológico, místico e cultural da ilha do fogo para os ribeirinhos, deve saber também que para muitos petrolinenses pobres a ilha é a única forma de lazer gratuita e familiar.
O principal argumento para que o Exército tenha a posse da ilha foi o seu abandono, as drogas, o tráfico e a prostituição. Mesmo que durante os últimos 96 meses não tenha registro de um único boletim de ocorrência envolvendo homicídio ou arruaças na ilha. Esse argumento requentado tem sido oferecido à população para justificar a retirada brusca e inconstitucional do lazer. Vale salientar que quando falam que a ilha era abandonada, atingem também as suas três gestões a frente da prefeitura de Petrolina, os seus mandatos de parlamentar, de secretário de estado e de ministro.
Queremos entender o seu silêncio, será obsequioso? Gostaríamos de acreditar que o desejo obstinado em fazer do filho parlamentar gestor de Petrolina, tenha ocupado a sua agenda de forma que as coisas ditas pequenas da população podem ficar para depois. Mas temos uma inquietação: será senhor ministro que o seu silêncio em torno de uma questão tão polêmica, necessária e urgente, não está ligado ao contrato milionário do Ministério da Integração Nacional, via Codevasf com o Corpo de Engenheiros do Exército Americano (http://www.codevasf.gov.br/noticias/2007/codevasf-e-exercito-americano-discutem-contrato-de-cooperacao-para-estruturacao-da-hidrovia-do-sao-francisco) para estudos da navegabilidade do Rio São Francisco? Diante disso, sabemos que a ilha do fogo se constitui como um excelente espaço para a instalação de uma base militar, pois no trecho dito navegável de Pirapora/MG a Juazeiro/BA seria o único ponto estratégico próximo a dois grandes centros urbanos com aeroportos e rodovias necessárias a paranoia de segurança e bem-estar americano. Então ministro, se é isso, estamos diante de um problema de soberania nacional, pois se retira do povo brasileiro o direito constitucional ao lazer, ao esporte e ao entretenimento para entregar e satisfazer aos desejos do Exército Americano, não seria nada menos do que o entreguismo do patrimônio do povo brasileiro, aliada a subserviência ao império norte americano.
A ILHA DO FOGO É DO POVO RIBEIRINHO E DOS PESCADORES!!!
Maria Lúcia Gomes
Universitária, residente em Petrolina/PE.
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