O ministro Cid Gomes deu uma longa entrevista ao 247, na semana passada, marcada por momentos difíceis para o governo Dilma: dias depois da vitória folgada de Eduardo Cunha na disputa para presidente da Câmara, que foi seguida de uma pesquisa do Datafolha que mostrava uma queda imensa da aprovação da presidente.
Repetindo um comportamento já demonstrado pelo irmão Ciro Gomes, que exibiu uma lealdade absoluta a Luiz Inácio Lula da Silva quando este enfrentava momentos difícies no primeiro mandato, Cid ironiza os movimentos da oposição que falam em fim de governo (“Meu pai dizia que quem faz uma previsão não consegue escapar de seu próprio desejo”), critica a “pobreza programática” dos adversários e diz que apoia o ajuste de gastos e investimentos no início do governo. “Fiz a mesma coisa quando era governador do Ceará e quando era prefeito de Sobral. Fui reeeleito as duas vezes.”
Ministro da Educação num governo que adotou o lema “Pátria Educadora”, Cid Gomes iniciou a gestão em alta velocidade em Brasília. Com encerramento previsto para 2 de março, até o início da semana passada uma consulta pública sobre o papel dos diretores de escola já tinha alcançado 1,3 milhão de acessos no site do MEC. Em seguida, o ministério abre o debate – em nova consulta pública – sobre FIES, sistema de bolsas para alunos de baixa renda. Mais tarde, haverá uma consulta sobre o ENEM, a prova de alunos do ensino médio, que Cid Gomes planeja transformar num exame on line.
“Acredito que se recebe boas ideias de onde menos se costuma esperar,” diz o ministro, para justificar o apego as consultas públicas – online.
Leia, abaixo, sua entrevista:
247 – Depois da derrota para Eduardo Cunha na eleição para presidente da Câmara, a oposição diz, em Brasília, que o governo está acabando antes de começar…
CID GOMES – Meu pai dizia que toda pessoa que faz uma previsão não consegue escapar de seu próprio desejo. Eu acho que é isso o que está acontecendo aqui. Você dificilmente consegue escapar da própria vontade, da sua opinião. Os adversários do governo que querem um cataclisma acabam enxergando aquilo que querem ver. Torcem por uma crise grave. Não é como eu vejo. Na eleição para presidendência da Câmara houve uma disputa entre dois candidatos da base e agora é preciso chegar a um entendimento. Todos têm seus compromissos institucionais. Admito até que eu tambem possa estar torcendo de acordo com minha opinião, mas eu acho que há um grande exagero nessa visão da oposição. Eu sempre torci pelo Brasil. Sempre enxerguei a política como instrumento para melhorar o país e não como uma finalidade em si. Papel de oposição não pode ser esse, de querer que as coisas se acabem para chegar ao governo.
247 – E qual deveria ser este papel?
CID – O papel deveria ser ter projetos para economia, para educação, para saúde e, mesmo tendo uma ideologia, de direita ou de esquerda, apoiar medidas que podem ser uteis para o país. O normal, depois de uma eleição, é dar um voto de confiança – no fundo, nada mais do que um voto de confiança no eleitor – para permitir que uem ganhou nas urnas possa começar a trabalhar. Só que não é isso que a oposição está fazendo. Age de forma muito passionalizada. O Brasil está vivendo esse clima.
247 – Esse comportamento vem da onde?
CID – Sinceramente, isso vem da pobreza de nossas lideranças. Pobreza espiritual, e especialmente programática. Sabemos que a maioria dos líderes de oposição não padecem de probreza material. A pobreza programática é que leva a torcer pelo quanto pior, melhor, quando deveria sossegar um pouco. Mas não vejo propostas para os problemas que eles mesmos apontam.
247 – Para o Ceará, a crise na Petrobras se traduziu pelo abandono do projeto de construção de uma refinaria no Estado. Como o senhor vê isso?
CID – A gente tem nossos instintos, como todo mundo. Meus instintos dizem que a Graça Foster é uma pessoa séria. Mas como liderança de meu Estado estou muito chateado pela forma como foi desfeito um compromisso com o Ceará. Estou convencido de que a construção uma refinaria, no Ceará, não é apenas uma necessidade do Estado, mas do Brasil. A refinaria foi pensada, inicialmente, para exportar combustíveis. Já seria um grande investimento. Mas o Brasil cresceu tanto, o mercado interno se ampliou tanto, depois disso, que ela se tornou uma necessidade para o mercado interno. Hoje o Brasil exporta petróleo bruto e importa diesel e gasolina. Durante muito tempo, essa situação foi, do ponto de vista financeiro, desfavorável a Petrobras. Embora a empresa nunca tenha deixado de gerar lucros — e nunca é demais lembrar disso – esses ganhos eram menores porque o preço que se pagava no exterior não podia ser repassado no mercado interno. Hoje a situação se modificou, o preço do petróleo é outro. Mas a refinaria continua fazendo falta. Quando a economia voltar a crescer – e minha previsão é que isso pode começar a acontecer em 2016 — isso vai ficar ainda mais claro.
247 – O senhor conhece o novo líder do governo, José Guimarães, que é do Ceará, e acaba de assumir o lugar de Henrique Fontana. Qual a vantagem?
CID – O Henrique Fontana é um grande político, bem preparado. Mas o Guimarães é mais dinâmico, tem muitas entradas no Congresso. Sua presença na liderança vai dar um novo ritmo ao trabalho do governo entre parlamentares.
247 – Uma pesquisa Datafolha mostrou uma queda impressionante na aprovação do governo…
CID – Esses números mostram o desafio que o governo tem pela frente. Não valem como avaliação mas como uma primeira impressão. Não contesto a pesquisa mas lembro que na vida real nenhum governo é avaliado em um mês mas ao longo de todo o mandato.
247 – O senhor vem tomando uma neste início de gestão no MEC. Logo depois do Carnaval, termina uma primeira consulta pública, feita pela internet, sobre diretores de escola pública, que já teve 1,3 milhão de acessos. Depois, o senhor vai iniciar outra consulta, sobre o ENEM. Também quer discutir o FIES. Vamos falar por partes. Por que priorizar a atenção nos diretores de escola?
CID – Porque é a melhor iniciativa que podemos tomar, dentro das condições que possuímos, para produzir uma melhoria rápida e eficiente nas escolas da rede pública.
247 – Como assim?
CID – É certo que,se nós vivessemos num mundo ideal, eu teria condições de gastar R$ 9.000 com cada aluno da rede publica, por ano. Mas não tenho isso. Podemos gastar R$ 2.000 por ano. Se eu pudesse, estaríamos pagando R$ 8.000 por mês para cada um de nossos 2 milhões de professores. Mas também não temos condições de fazer isso, elevando nossas despesas de uma hora para outra. Cumprimos a regra que manda reajustar o salário dos professores,todos os anos, mas não podemos,evidentemente,dar um salto tão grande. Nesta fase inicial, meu plano é investir nos diretores de escola.
247 – Por que?
CID – Porque está provado que, entre os vários fatores que ajudam a melhorar a educação, que é um mundo bastante complexo, o diretor de escola costuma fazer uma diferença decisiva. Você pega duas escolas na mesma condição socio econômica, no mesmo bairro, sob uma mesma gestão, estadual ou municipal, e pode encontrar alunos diferentes, com desempenho diferente,que terão uma história diferente. Se procurar a causa disso, muito possivelmente irá encontrar diretores diferente, com um preparo desigual, com uma dedicação diferenciada. Queremos, num primeiro momento, investir aí. A consulta pública irá trazer ideias, comentários, observações que poderão ser uteis para uma intervenção nessa area decisiva.
247 – O senhor acredita que as consultas públicas podem trazer sugestões úteis de verdade?
CID – Não tenho dúvida. Acredito naquela visão que diz que as boas ideias costumam surgir onde você menos espera. Confirmei isso quando era prefeito de Sobral, minha cidade. Nós estavamos fazendo um reservatório, na entrada de Sobral, quando um cidadão que eu nem conhecia me parou na rua para dar um ideia. Perguntou por que eu não aproveitava os fundamentos do reservatório para construir uma segunda ponte daquele lugar. Custaria muito menos e ajudaria a aliviar o transito na entrada de Sobral. Pedi a nossos engenheiros que fizessem os calculos e eles acabaram concluindo que a segunda ponte era possível, e gastaríamos muito menos do que se tivessemos de refazer tudo de novo. Fizemos a obra sugerida por um cidadão que me parou na rua, imagine, e foi um tremendo sucesso.
247 – O senhor também está falando em fazer mudanças no FIES, sistema que troca tributos devidos pelas escolas privadas ao Estado por bolsas destinadas a ajudar alunos de famílias mais pobres a pagar o ensino superior. O que pretende?
CID – Nós sabemos que o FIES é um sucesso absoluto. Min
247 – Como assim?
CID – Precisamos debater critérios e conceitos para seguir subsidiando estes estudos. Não estamos colocando em questão nenhuma bolsa já assegurada, nenhuma matricula já feita. O que queremos é debater o futuro. Vamos começar essa discussão. Por exemplo: será que o MEC deve seguir patrocinando matrículas em instituições que tem nota zero nos conceitos próprio ministério?
247 – O que o senhor acha?
CID – Na minha opinião pessoal, a nota mínima para uma universidade fazer parte desse programa deveria ser 5. Eu acho que nesse patamar você tem seguança do que está fazendo. Mas é uma visão pessoal, do ministro, não do ministério. Isso deve ser debatido. Não é meu ponto de vista que irá prevalecer. Queremos construir um consenso, a partir do debate mais amplo possível.
247 – O senhor também fala em mudar o ENEM que, no futuro, poderia ser um exame on line…
CID – Vamos começar essa discussão também. A consulta pública sobre o ENEM terá início logo depois do carnaval e vai levantar sugestões que permitam uma melhoria no futuro. Sei que pode parecer estranho para muitas pessoas, mas achamos que é possível fazer um exame on line, onde cada aluno será examinado individualmente, de forma segura, para ele e para os demais estudantes. Acho que podemos fazer do ENEM um evento menos estressante do que é hoje, sem alterar nenhum dos benefícios já obtidos. Queremos debater isso na consulta pública, num processo no qual cada dúvida que surgir possa ser explicada e esclarecida. Uma diferença do ENEM on line são os custos. O exame atual tem uma logística que envolve gastos de 1 bilhão de reais por ano. Pela internet, as despesas seriam infinitamente menores, sem prejuízo para a qualidade dos testes.
247 – O senhor tem falado bastante em custos e gastos. Como vê o ajuste que o governo está fazendo?
CID – Apoio o ajuste e acho que é uma medida que deve ocorrer em todo início de governo. Fiz assim quando era prefeito de minha cidade e quando era governador do Ceará. Eu sucedi a mim mesmo nesses lugares e fiz ajuste entre o primeiro mandato e o segundo. É normal. No mundo inteiro as pessoas têm uma tendência ao conforto, que leva ao relaxamento, em qualquer área da atividade humana. Em muitas casas, é costume deixar a lampada ligada, o ar condicionado funcionando, quando ninguém está usando, não é mesmo? Imagine o que acontece na máquina do governo, quando se gasta o dinheiro da viúva. Eu acho que nessas condições, os ajustes podem ser necessários e benefícos. No fim dos mandatos, iniciados com ajustes, sempre tive a aprovação dos eleitores. Este é o critério que importa para os homens públicos. (Agência Brasil)
Blog do Banana
1 comentário
O Ministro tem razão quando se reporta a oposição que o que estamos vendo são discussões em que não apresentam sugestões, ou seja, porque tiveram 51 milhões de votos se acham no direito criticar por criticar, quanto ao enem “on line” além dos custos menores poderemos ter um resultado mais rápido e podendo ter a mesma ou melhor segurança sem contribuir com a corrupção.