Em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) disponibilizou um número de WhatsApp para que produtores rurais possam entrar em contato e relatar possíveis problemas de saúde ou que comprometam a produção no campo. O número é o (61) 9 3300-7278.
A produtora rural Cleide Barbosa, de 64 anos, trabalha com a criação de ovinos e caprinos e mora em Alfenas, no sul de Minas Gerais. Ela já fez o uso da ferramenta e conta que teve uma boa experiência.
“O retorno foi muito rápido. Fiquei até impressionada. Com um órgão do porte da CNA, achei que eu fosse mandar uma mensagem e ia demorar para ser respondida. Muito pelo contrário. Foi muito rápido, me deram atenção, consegui fazer um desabafo sobre os nossos problemas aqui. Achei bem interessante”, relata.
Já o produtor rural José de Assim, de 62 anos, ainda não precisou recorrer ao aplicativo, mas se diz mais tranquilo se houver alguma dúvida. O morador de Brazlândia, no Distrito Federal, mexe com frutas e hortaliças e tem sentido no bolso os reflexos da crise.
“Eu acho que é muito bom que os produtores tenham um canal em que é possível buscar informações que ajudem a superar a dificuldade que estamos passando no momento. Estamos tendo muitos problemas com o escoamento dos produtos. O tomate, que deveria ser vendido, em média, a R$ 130, agora é comercializado a R$ 70”, lamenta.
O diretor-geral do Sistema CNA/Senar, Daniel Carrara, explica que todas as sugestões e pedidos de orientações enviados pelos produtores serão respondidos por profissionais técnicos, capacitados para esta atividade. Segundo Carrara, até o momento, pelo menos 3 mil produtores já fizeram contato pelo número disponibilizado pela entidade.
“O objetivo é termos uma visão nacional dos problemas e das possíveis soluções. O problema de São Paulo, certamente não será o mesmo de Porto Velho ou de Manaus. A nossa ideia é interagir com os órgãos, sejam federais, sejam estaduais, para resolvermos e destravarmos gargalos nessa garantia de abastecimento da população brasileira”, ressalta o diretor-geral Sistema CNA/Senar.
Carrara aponta que as dúvidas mais relatadas são sobre os pagamentos de parcelas que estão para vencer, já que as instituições financeiras estão fechadas. Além disso, os trabalhadores têm compartilhado dificuldades em comercializar produtos e, por isso, pedem linhas de crédito rural para terem capital de giro.
Doação
Além de disponibilizar o WhatsApp como canal de comunicação entre os produtores rurais e técnicos do Sistema CNA/Senar, a confederação doou R$ 5 milhões ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para ajudar em ações de combate ao novo coronavírus.
“A orientação do governo é acessar a plataforma ‘Todos por Todos’, que vai centralizar o recebimento dessas doações. Nós resolvemos fazer isso sob orientação da ministra [Tereza Cristina]. Tínhamos algumas alternativas, como comprar respirador, atender a asilos, mas achamos que, para resolver essa crise, tem que haver uma coordenação nacional. A gente pode intervir, sugerir, mas a coordenação tem que ser nacional”, esclareceu o diretor-geral do Sistema CNA/Senar, Daniel Carrara.
Apesar de não sugerir em que área o dinheiro deve ser aplicado, a CNA vai pedir informações de como o valor foi aplicado, para que haja uma prestação de contas junto aos produtores e a sociedade civil.
Atividades essenciais
O presidente Jair Bolsonaro determinou, por meio de um Decreto (10.282/2020) e uma Medida Provisória (926/2020), que autoridades competentes possam restringir, excepcional e temporariamente, a entrada e saída de produtos por rodovias, portos e aeroportos, como medidas emergenciais contra o novo coronavírus. Essas normas, em contrapartida, garantem a manutenção do exercício e o funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais.
Diante disso, Daniel Carrara assegura que a população não ficará sem o abastecimento de alimentos, já que essa atividade é essencial para a sobrevivências das pessoas. “Nós verificamos que alguns produtos estão com o preço aumentado em função dessa falta de maior oferta, mas os produtores não pararam de produzir. É justamente essa é a orientação que nós estamos dando”, pondera.
“Se, por acaso, tiver alguma paralização de uma rota ou impedimento de trânsito de alimento, por exemplo, nós vamos acionar a Justiça para garantir, como atividade essencial, que funcione. Nem as agroindústrias podem parar. Elas precisam tomar cuidados de higiene e reduzir a quantidade de pessoas, dependendo do espaço, mas o processamento do alimento e sua distribuição não podem parar”, garante Carrara. (Agência Radio)