No primeiro ano de seu governo, em 2003, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou pela primeira vez do Natal dos Catadores e ganhou o título de “Amigo do Catador”. No final do segundo mandato, em 2010, um de seus últimos compromissos oficiais foi no mesmo evento, comemorando a entrada em vigor da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305). Nesta quarta-feira (22), Lula encontrou-se com catadores e também com moradores de rua, em São Paulo, e falou em um governo de “concertação” a partir de 2023. E disse que não adianta o atual mandatário esbravejar: “(Jair Bolsonaro) Vai sair de mansinho, porque o povo brasileiro que vai dar um golpe nele e tirar ele da Presidência da República”.
No encontro na tarde de hoje, na quadra do Sindicato dos Bancários, região central da capital paulista, o petista ouviu testemunhos, “entrevistou” pessoas, ganhou panetone feito pela população em situação de rua e até ouviu o pedido de uma representante dos catadores, Claudete Costa, que disse querer se tornar ministra do Meio Ambiente no governo Lula. Ele brincou dizendo que não tinha sido eleito e não podia prometer cargos, mas disse ter certeza de que ela se sairia muito melhor do que “esse cara que foi ministro do Bolsonaro”. Recebeu outro pedido: “A gente quer que o senhor assine a Política Nacional para a População em Situação de Rua”.
Fome, violência e gripe
De Sebastião, Walter, Darcy, Régis (o Jamaica), Edvaldo, Robson e outros, Lula escutou relatos sobre pobreza e superação, muitas queixas contra a violência policial e descaso do poder público. O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, da Arquidiocese de São Paulo, falou da fome e do recente surto de gripe, que está atingindo “duramente” a população. “Nas unidades básicas não tem dipirona”, alertou.
Proteção social não é apenas transferência de renda, lembrou o padre. “Temos que acabar com os resquícios da Lei de Segurança Nacional e da lei de terrorismo.” Ele observou que a população de rua vem aumentando em proporção maior que a do crescimento demográfico. Antes de ler um trecho do Evangelho de Lucas, também fez referência ao slogan do atual governo: “(Deus) está no meio de nós. Não acima. Quem diz que Deus está acima é protofascista”.
No evento, estavam dois ex-prefeitos de São Paulo: Fernando Haddad, que deve concorrer ao governo estadual, e a ex-petista Marta Suplicy, que se referiu a Lula como “lutador, que tem meta, diretriz, força interna”. A presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), também fez um breve pronunciamento.
Depois de perguntar a alguns representantes dos movimentos sobre seus sonhos, Lula recebeu a questão de volta. Falou em um país melhor e completou: “Vamos começar a realizar esse sonho em 1º de janeiro de 2023”.
Um psicopata no poder
O ex-presidente disse que é preciso “humanizar” a sociedade brasileira e “extirpar” o ódio. E defendeu mudança de pauta. “Pra que que a gente elege um governo, um prefeito, um governador? Só tem sentido se essa pessoas cuidar dos interesses da maioria do povo”, afirmou. Para ele, o Brasil, vive uma crise inédita, não só econômica e social, mas moral, de falta de respeito, solidariedade e afeto. E “crise de um psicopata que está governando este país, que não se importa com as 600 mil vidas perdidas pela covid”.
Segundo Lula, o atual presidente “não tem sentimentos”, nunca visitou um hospital, nem conversou com algum parente de vítima da covid-19. Ele pediu que as pessoas continuem se prevenindo. “Nós vamos ter que tomar vacina, nós vamos ter que usar máscara e vamos ter que evitar grandes aglomerações.”
Recuperar a soberania
O petista voltou a enfatizar o papel do Estado na economia. “Quando tem crise, os autores da crise desaparecem e quem aparece é o Estado. Precisamos fazer uma concertação. E é este o meu objetivo. Só tem uma razão para eu voltar a ser candidato: eu quero provar que é possível a gente recuperar a soberania. Tomar conta de suas fronteiras, do seu espaço aéreo, suas florestas, sua água, melhorar a vida do povo”, disse Lula.