Comunidades tradicionais de fundo de pasto recebem mapeamento agroecológico

Por Ricardo Banana
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Mapas para gestão territorial com identificação de áreas que precisam de recaatingamento, entrevistas com moradores, registros dos locais históricos e das práticas culturais e de produção das comunidades.

Essas são algumas das informações documentadas no mapeamento agroecológico dos territórios de fundo de pasto de Esfomeado e Vargem Comprida, em Curaçá. O principal objetivo deste projeto é dar suporte à luta em defesa do território tradicional de fundo de pasto, ocupado há séculos por essa população.

O agricultor Eurico Nonato, da comunidade de Esfomeado, avalia o mapeamento das comunidades como uma forma de evidenciar a história para as futuras gerações e a importância do lugar. “Pegando aquelas histórias dos mais velhos, já que eles vão falecendo, vai ficando aqueles mais novos e vendo aquelas histórias. É importante porque, pelo menos, as pessoas entendem. Vê aquilo e entende que é importante. Porque pra mim foi importante”, afirma o morador.

Já a jovem Natália Cardoso, também da comunidade de Esfomeado, estudante na Escola Família Agrícola de Sobradinho (EFAS), acredita que, a partir dos conhecimentos documentados, o material pode contribuir na união das populações do território e servir de referência aos mais novos e para quem chega. “Para os jovens saberem os pontos que existem na sua comunidade e os visitantes, quando vierem, conhecer cada local e cada estrutura que tem na nossa comunidade de importante de cada tradição”, completa.

Entre as atividades produtivas dos/das agricultores/as do território, está o cultivo e o beneficiamento da palma. Atualmente a Associação de Mulheres em Ação da Fazenda Esfomeado (Amafe), entidade mantenedora da unidade de beneficiamento, produz 150 potes de geleia por mês. Além disso, a unidade produz licor de palma e biscoitos de mandioca para serem comercializados na região. Cristiane Ribeiro, presidente da Amafe, ressalta que esse mapeamento é importante para o futuro dos descendentes do território. “Ele nos permite conhecer, entender os processos dos antepassados com os processos vivenciados hoje. Qual a história que a gente precisa deixar, e que deve deixar, para as gerações futuras. É valorizar o que somos, o que fazemos e o que seremos”.

O conteúdo do mapeamento vai auxiliar no planejamento das ações na localidade, principalmente de recaatingamento. “É de suma importância, porque a gente conhece o nosso território, visualiza o que tem no território, sua potencialidade. Fica fácil planejar a recuperação de áreas degradadas, planejamento de capacidades da área de suporte animal. São várias ideias que a gente pode ter visualizando o território”, afirma Airton Gonçalves, agente de saúde nas comunidades do território e secretário da Associação Comunitária e Agropastoril dos Pequenos Produtores de Vargem Comprida e Adjacências.

Nesse sentido, Diego Limaverde, estudante de Agronomia na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) destaca a importância do mapeamento. “A intenção maior é dar esse fortalecimento para a comunidade. Para que esse reconhecimento [modo de vida das comunidades tradicionais] seja passado para as próximas gerações. É criar um produto que, no futuro, a próxima geração possa utilizar de alguma forma”, explica.

A identificação através da cartografia possibilita “Mostrar que este território é capaz de dar condições para as comunidades desenvolverem a sua renda, através do extrativismo e da criação de animais (…) Veio para fortalecer e mostrar à comunidade, às famílias que o território tem muitas riquezas e que a gente precisa dar visibilidade a isso”, reforça Judenilton Oliveira, colaborador do Irpaa.

Neste estudo, a população pode acessar diversas informações a respeito do modo de vida da população do território tradicional de fundo de pasto, como o uso compartilhado das áreas e raízes culturais. O material está disponível neste link: Mapeamento Agroecológico- Esfomeado e Vargem Comprida- Curaçá-BA.

O mapeamento agroecológico é resultado de uma ação colaborativa entre a Rede Territorial de Agroecologia do Sertão do São Francisco baiano e pernambucano, das Associações comunitárias do Território de Esfomeado e de Vargem Comprida, do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) e da Articulação Regional de Fundo de Pasto de Curaçá, Uauá e Canudos (CUC). A atividade contou com o apoio da Coordenação Ecumênica de Serviços (CESE) e Misereor.

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