Combustível negociado nas refinarias brasileiras com valor 3% acima dos preços internacionais pode baixar R$ 0,14 por litro
Com a queda de 4,9% no preço da gasolina nas refinarias da Petrobras, que entrou em vigor na quarta-feira (20), aumentaram as especulações e apostas de que também vai haver redução no valor do óleo diesel. Esse combustível é vendido no Brasil com valor entre 2% e 3% mais alto que no mercado externo; antes do reajuste, o preço da gasolina nas refinarias era 8% maior que fora do país (R$ 0,30 por litro).
A diminuição foi possível devido a dois fatores principais: a política de redução de impostos do governo, implementada nas últimas semanas, e a manutenção do câmbio em um nível alto, o que gerou um leve aumento nos preços de referência do diesel e da gasolina no mercado internacional.
Segundo a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), o litro da gasolina R$ 0,20 mais barato zerou a defasagem do combustível no mercado interno em relação ao comercializado no Golfo do México, usado como referência nas negociações no Brasil. “Havia espaço para a redução, devido à queda dos preços no mercado internacional. Do ponto de vista técnico, esse reajuste faz sentido”, afirma Sérgio Araújo, presidente-executivo da associação.
Por meio de nota, a Petrobras diz: “A redução de R$ 0,20 aplicada aos preços da gasolina comercializada pela Petrobras acompanhou a evolução dos preços internacionais de referência, que se estabilizaram em patamar inferior para este produto, e é coerente com a prática de preços, que busca o equilíbrio com o mercado global, mas sem o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio.”
Na comparação do PPI (Preço de Paridade de Importação) dos dois combustíveis com os preços domésticos, calculada pela Abicom, a defasagem média da gasolina na quarta (20) ficou em 0%, e a do óleo diesel foi de 3%. Isso indica que a primeira atingiu a paridade, zerando a diferença de preço em relação ao mercado internacional. O diesel teve redução da defasagem positiva, que diminuiu ainda mais ao longo da semana, chegando a 2% na quinta (21) e na sexta-feira (22).
A associação informa que, para os cálculos, são usados como referência os valores para gasolina, óleo diesel, câmbio, RVO (Obrigação de Volume Renovável) e frete marítimo, no fechamento do mercado do dia anterior.
Se a estabilização do preço da gasolina internacionalmente contribuiu para a redução de seu valor no mercado interno, a diminuição na defasagem do diesel não teve o mesmo efeito, ainda, devido à volatilidade. “O diesel está sendo negociado nas refinarias brasileiras com valor 3% acima dos preços internacionais, sendo possível uma redução de preços nas refinarias brasileiras da ordem de R$ 0,14 por litro”, avalia Araújo.
Para ele, a Petrobras deve aguardar uma maior estabilização do mercado externo, talvez até a metade da próxima semana, para, então, decidir pela redução. “Hoje, a possibilidade de uma pequena dimunuição no preço do diesel vendido aqui existe, mas é preciso ter muita cautela. Eles não podem se antecipar e, depois, voltar atrás. Ainda há muita incerteza por causa da crise do fornecimento de gás pela Rússia para a Europa”, explica o presidente da Abicom.
Apesar de não confirmar, a Petrobras também não descarta uma queda no preço desse combustível: “Com relação ao diesel, é importante esclarecer que cada produto derivado do petróleo possui mercado e dinâmica de valorização próprios, de acordo com seus balanços de oferta e demanda global. Dessa forma, a Petrobras segue monitorando o mercado e, por questões concorrenciais, não pode antecipar suas decisões sobre manutenção ou reajuste de preços.”
Para Luciano Losekann, professor de economia e coordenador do Grupo de Energia e Regulação da UFF (Universidade Federal Fluminense), as decisões que envolvem o diesel exigem maior cuidado da petrolífera. “É um produto que a gente precisa importar mais, a participação das importações na oferta doméstica é maior, e o mercado está curto, a demanda internacional também é grande. É difícil fazer uma previsão sobre a precificação da Petrobras, levando em consideração que os últimos passos nesse assunto foram influenciados por interfêrencia politica”, diz.
Além de estar instável fora do Brasil, o diesel tem preços mais elevados que os da gasolina no país, por ter sido menos beneficiado pelas novas medidas do governo. Já não incidiam sobre ele os impostos federais, e as alíquotas de ICMS eram menores, próximas ou abaixo dos percentuais adotados para os produtos essenciais (entre 10% e 18%, dependendo do estado). Depois dos cortes das taxas estaduais, a queda nas bombas foi de apenas 1,2%.
A alta demanda internacional pelo óleo diesel pode ser vista como um problema de segurança, segundo Losekann. “O governo tem falado sobre a estoques reduzidos. No mundo todo, há países revendo seus estoques, alguns passaram por desabastecimento, outros estão preocupados com suprimentos. No nosso caso, seria interessante mantrer a paridade internacional, para estimular a importação e evitar a redução de estoques”, avalia o professor.
Araújo, da Abicom, diz que entre 25% a 30% do diesel consumido no Brasil vem de fora, o que faz o país ser dependente da importação. “A partir de setembro, também há um movimento maior, é a época de transporte mais intenso de safra, e a disponibilidade do combustível fica baixa”, diz.
Para ele, o governo está atento aos estoques. “Não acredito em um desabastecimento generalizado. Pode ser que ocorra em um ou outro porto, por alguns momentos, mas vai ser uma coisa pontual”, fala o presidente-executivo da Abicom.
(Portal R7).