Dermatologistas explicam uso seguro do fenol e comentam resolução da Anvisa que proíbe a substância por tempo indeterminado

Por Ricardo Banana
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Uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicada nesta terça-feira (25), que proíbe a importação, fabricação, manipulação, comercialização, propaganda e uso de produtos à base de fenol em procedimentos de saúde em geral ou estéticos, surpreendeu a classe médica do país.

A decisão do órgão regulador acontece após a morte de um jovem, de 27 anos, em São Paulo, no início do mês, decorrente de complicações geradas por um peeling de fenol. Segundo a Anvisa, até a presente data não foram apresentados estudos que comprovem a eficácia e segurança do produto fenol para uso em procedimentos de saúde em geral ou estéticos. No entanto, em ofício, o próprio Conselho Federal de Medicina (CFM) pediu para que a Anvisa reveja a proibição e ressaltou que a regra precisa de ajustes.

De acordo com a Dra. Pollyanna Melo, dermatologista do Núcleo GA Petrolina, o fenol é um agente químico utilizado há décadas para tratar várias condições da pele, pois produz um rejuvenescimento facial intenso, com resultados extraordinários, quando utilizado da forma correta.

“Há diversas evidências sobre a eficácia e a segurança do fenol, quando indicado corretamente, quando o procedimento é realizado com os cuidados que são imprescindíveis, em ambiente adequado, com monitoramento cardíaco, hepático e renal. Além disso, o uso do fenol é seguro e eficaz quando é realizado por um profissional médico habilitado e capacitado, de preferência um dermatologista ou um cirurgião plástico, que tenha conhecimento da técnica e das possíveis complicações e como conduzir essas complicações”, disse a médica.

O peeling de fenol pode ser feito tanto de forma isolada, ou seja, em região periorbital, e em toda a face. Entretanto, é muito importante que os pacientes sejam criteriosamente escolhidos. Nem todo paciente está apto a ser submetido a esse procedimento, já que o fenol é uma substância tóxica, e não é isento de riscos, assim como outros procedimentos estéticos, como explica a dermatologista, Guilárdia Duarte, que também integra a equipe médica do Núcleo GA Petrolina:

“O paciente ideal é o paciente de pele clara, pele fina e pele ressecada. Pacientes com doenças cardíacas, renais, hepáticas, pacientes que têm recorrência de herpes, uso recente de isotretinoína, e predisposição à queloides fototipo alto, ou seja cor de pele mais escura, não são indicados como pacientes para o peeling de fenol. Assim como, os pacientes que apresentam instabilidade psicológica, já que o pós peeling é complicado e doloroso. O fenol é uma substância tóxica para todas as células. Quanto maior a concentração dessa substância no sangue, maior o efeito tóxico no miocárdio, o que pode evoluir para arritmias cardíacas, taquicardias, contrações no ventrículo prematuras, fibrilação latria e ventricular, o que pode levar o paciente a óbito”, detalhou.

Em tom de alerta, a Dra. Guilárdia ressalta a importância da escolha do profissional para a realização desse tipo de procedimento, que demanda formação, habilitação, experiência profissional e ambiente clínico adequado.

“Os profissionais que não são médicos, não estão habilitados a resolver efeitos colaterais como arritmias cardíacas ou parada respiratória. O procedimento deve ser feito por um médico habilitado, com motorização cardíaca, além da administração de fluídos para ajudar na excreção dessa substância. Então, você tem que ter certeza sobre a quem você está confiando a sua vida, e saber se esse profissional tem todo suporte e aparato necessário para resolver possíveis intercorrências”, ressaltou.

Sobre a resolução, a Dra. Pollyanna reforça o entendimento do CFM, reconhece a importância da preocupação com a integridade dos pacientes, mas classifica a proibição do uso do fenol, como “equívoco”.

“A resolução surpreendeu toda a classe médica, que considera um equívoco a proibição do uso de produtos contendo fenol para todos os procedimentos de saúde, inclusive, procedimentos invasivos realizados por médicos. Nós médicos aplaudimos a preocupação dos órgãos reguladores. De fato, existe atualmente uma banalização dos procedimentos estéticos que estão cada vez mais sendo realizados sem a indicação precisa, por profissionais não habilitados, sem competência técnica para conduzir as possíveis complicações. Contudo, nós também entendemos que regulamentar não é o mesmo que proibir”, finalizou.

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