A presidente Dilma Rousseff só vai concluir a reforma ministerial depois de seu retorno de Nova York, na próxima semana. Mas ela deixa praticamente acertado o acordo com o PMDB da Câmara, que terá as pastas de Saúde e Infraestrutura, e com o PDT, que voltará à base do governo com a indicação do atual líder André Figueiredo para a pasta de Comunicações. O ministro Manoel Dias deixará o Ministério do Trabalho, que deve ser fundido com Previdência. Resta saber se o PDT passará mesmo a votar com o governo pois tem votado sistematicamente contra.
Uma das razões para o adiamento foi a necessidade de um encontro com os movimentos sociais relacionados com as pastas temáticas que serão agrupas numa só: Mulher, Igualdade Racial e Direitos Humanos, para explicar-lhes as razões do governo. O ex-presidente Lula insistiu muito neste conselho a Dilma. Outro motivo, a necessidade de mais conversas com o vice-presidente Michel Temer e com o PMDB do Senado, representado pelo presidente da Casa, Renan Calheiros, e o líder Eunício Oliveira. Dilma quer manter um ministro da cota de Temer, possivelmente Henrique Alves, de Turismo, e tende a manter os ministros senadores Katia Abreu (Agricultura) e Eduardo Braga (Minas e Energia). Mas Katia o PMDB diz que é uma escolha pessoal de Dilma e não uma indicação do partido. Então não conta. Quanto a Braga, a presidente quer ter certeza de que sua permanência atenderia a Calheiros e Eunício. Diz-se no Congresso que eles est/ao mais interessados em Integração Regional, pasta em que Dilma prefere manter o PP.
No fundo, ela está renegociando o apoio do PMDB é com Eduardo Cunha e Renan Calheiros, embora ambos não apareçam como negociadores de cargos, ficando a tarefa para os líderes Leonardo Picciani (Câmara) e Eunício Oliveira (Senado). Cunha se esquiva por conta do atritos que já teve com o governo e Calheiros com a desculpa de que seu cargo não recomenda este tipo de participação. Esta política da “barriga de aluguel”, de indicar na conta de outros, também é cômoda: amanhã, se faltarem ao governo, não serão chamados de traidores.
Uma evidência de que Cunha se esconde atrás do líder na Câmara foi a indicação, pela bancada, de dois nomes a ele ligados. Para a Saúde, foram indicados Manoel Júnior (PB), ligadíssimo a Cunha, e Marcelo de Castro, que com ele já teve atritos. Outro arqueiro de Cunha, Celso Pansera (RJ) aparece na lista para Infraestrutura, ao lado de José Priante (PA) e Newton Cardoso Júnior (MG). Este acordo tácito com Cunha, que jamais será anunciado ou confirmado, assegura os votos da bancada e seu controle sobre o tempo e o rito do processo de impeachment que a oposição tentará mover contra a presidente. Ele já deu indicativo disso ao decidir, no rito de tramitação, que a presidência da Câmara não tem prazo para marcar a votação de eventual recurso da oposição ao plenário contra sua negativa de autorizar a votação do pedido de abertura de processo.
Com a incorporação da pasta de Pesca por Agricultura, Dilma garantiu também ao PMDB a transferência do atual ministro, Helder Barbalho, para a presidência da Eletronorte, estatal do setor elétrico mais poderosa que o pequeno ministério do pescado. E com isso, atende ao senador Jáder Barbalho, afora agradar Renan.
No mais, Dilma tende a manter Gilberto Kassab, do PSD, em Cidade, mas entregando a presidência da CBTU (Companhia Barsileira de Trens Urbanos) ao PP, que manterá Integração Regional. Armando Monteiro, apesar das críticas que fez ao ajuste fiscal, deve ser mantido no MDIC, ganhando ainda o partido a presidência da Conab.
Obviamente esta é uma reforma mais complicada do que outras, pois com a redução de dez pastas, haverá mais gente frustrada que contemplada. Mas se Dilma conseguir uma acomodação razoavelmente satisfatória para todos os aliados, e proporcionar a Ricardo Berzoini as condições básicas para uma exercer a coordenação política (o que pode significar, também, autonomia , não interferência de outros ministros e cumprimento dos acordos feitos), poderá superar este que vem sendo seu pior momento no cargo. A crise ainda não estará vencida mas o governo já terá recuperado forças para a luta política. Inclusive para a luta do impeachment.
Em Nova York Dilma participa de uma reunião ordinária da ONU sobre clima, assistirá à fala do Papa e terá vários encontros bilaterais antes de fazer o discurso de abertura da Assembléia Geral anual, na segunda-feira. (247)
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