Por Arthur Cunha
Em 1987, a banda gaúcha Engenheiros do Hawaii lançou seu segundo álbum: “A Revolta dos Dândis”, um clássico do Rock brasileiro, estilo cuja representatividade da época era o equivalente ao Sertanejo ou ao Funk dos dias de hoje. Sob forte influência das obras de Albert Camus e Jean-Paul Sartre, e de um mundo ainda dominado pela Guerra Fria, Humberto Gessinger escreveu, entre tantas músicas marcantes para os fãs, como eu, a letra de “A Revolta dos Dândis II”, que fala, na minha opinião, da dicotomia Direita versus Esquerda, fruto daquele conflito. Passados mais de 30 anos do lançamento da canção, seu conceito ainda continua sendo muito atual para traduzirmos a guerra de egos que se tornou a disputa entre bolsonaristas e lulopetistas.
Diz um trecho da letra: “Pensei que houvesse um muro entre o lado claro e o lado escuro. Pensei que houvesse diferença entre gritos e sussurros. Mas foi engano; foi tudo em vão. Já não há mais diferença entre a raiva e a razão”. Ouvindo a música, ontem, eu só enxergava um jogo de imagens na minha mente intercalando a figura de Olavo de Carvalho, guru do presidente da República, destilando ódio contra os esquerdistas via redes sociais do seu computador iMac de última geração, bem confortável em um escritório na Virgínia (EUA); com a do ator José de Abreu, uma das vozes controversas do petismo, zombando sem nenhum respeito da dor do povo venezuelano ao se “autoproclamar” presidente da República com o único objetivo de criticar Bolsonaro e seus seguidores.
Além de duas criaturas bisonhas em busca de reconhecimento e “likes”, Olavo e Zé de Abreu têm em comum a mesquinhez de uma visão turva do processo de poder, que caracteriza, em pleno 2019, o debate entre as duas correntes de pensamento e ação política no cenário brasileiro. O embate Direita versus Esquerda por aqui é grotesco. Seus argumentos são elementares, preconceituosos e cruéis – dos dois lados! Descambou para uma troca de acusações mais demente que a discussão sobre futebol, ou mesmo sobre religião (esse tema merece outra coluna, e terá). Parecem crianças birrentas sem reconhecer seus próprios erros e as qualidades do outro.
Enquanto isso, o país está parado, administrado por um governo de Direita (?), que, se fosse de Esquerda, estaria, com certeza, adotando a mesma postura excludente – vide a recente era do PT. Economia com parca recuperação, povo sem emprego, reformas de base à espera e um presidente falastrão mais preocupado com questões menores. É Jair Bolsonaro, mas poderia ser Dilma Rousseff ou Lula. Por isso, volto à canção de Gessinger para terminar este comentário, infelizmente, lembrando o óbvio. “Tudo é igual quando se pensa em como tudo poderia ser. Há tantos sonhos para sonhar, há muitas vidas para viver. Nossos sonhos são os mesmos há muito tempo. Mas não há mais muito tempo para sonhar”.
“Os três patetas…” – Ainda na vibe de “A Revolta dos Dândis II”, outra imagem desse final de semana, coincidentemente, se encaixa na música escrita por Humberto Gessinger há mais de 30 anos. Estou falando da foto publicada por Rodrigo Maia de um almoço onde, entre outros, estavam presentes Jair Bolsonaro e Davi Alcolumbre, representantes de setores conservadores, e Dias Toffoli, ex-advogado do PT. “Esquerda & Direita; Direitos & Deveres. Os três patetas, os três poderes”.
“… os três poderes” – Ironias (merecidas) à parte, que esses senhores, chefes dos nossos poderes constituídos, se iluminem e trabalhem unidos pelo Brasil. Rodrigo Maia fala na postagem que o “espírito do encontro” foi fazer com que haja um melhor diálogo e um pacto da “relação de governabilidade do Brasil”. Antevendo algo, o presidente da Câmara, faz tempo, já se posiciona como uma espécie de moderador entre a institucionalidade e a opinião pública. Está, com certeza, vendo uma oportunidade. Afinal, como diria Gessinger: “ascensão e queda são dois lados da mesma moeda”.
Mandando recado – No melhor estilo Trump, Olavo de Carvalho está usando sua influência nas redes sociais e fora delas para mandar recados. Falando para uma plateia de cerca de 100 fãs e representantes da Direita americana, no Trump Internacional Hotel, em Washington, o guru do Bolsonarismo disse que, se continuar como está, o Governo Bolsonaro acaba em seis meses. Lembrando que o núcleo ideológico da gestão, ligado ao guru, está perdendo a quebra de braço para os militares. Olavo tem usado sua visibilidade para centrar fogo nos “milicos”.
Aniversário – Ontem (17), a Lava Jato completou cinco anos. Nesse período, além de inúmeras polêmicas e uma exposição monumental, a operação somou 2.294 anos de penas aplicadas e 159 condenados em primeira instância. Desbaratou um grande esquema de corrupção na Petrobras e em outros órgãos públicos. Um total de 47 pessoas permanecem presas pela Lava Jato, entre elas o ex-presidente Lula. O balanço ainda registra 426 denunciados, 269 mandados de prisão e 183 delações. Apesar dos números favoráveis, a operação ainda é alvo de muitas críticas por supostos exageros.
Curtas
ASSASSINATO – Ainda permanece sem a motivação conhecida o assassinato do vereador de Floresta, Beto Souza, morto a tiros por dois homens, ontem, na Fazenda Tabuado, zona rural do município. O parlamentar, que tinha 52 anos, presidiu a Câmara Municipal entre 2017 e 2018. Ele havia perdido um irmão nas mesmas condições.
REPRESENTAÇÃO – Representante do Grupo Ferreira Souza na reunião da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Alepe, Edésio Medeiros avaliou como positivo o encontro, mas lamentou a ausência de representantes de entidades e empresários do Sertão. “Especialmente do Araripe, a exemplo do setor gesseiro, da mandiocultura e da bacia leiteira de Bodocó. Precisamos ficar atentos e nos organizar para participar”, pontuou.
HOMENAGEM – O presidente da Câmara Municipal do Recife, vereador Eduardo Marques, foi o homenageado do bloco Galo Doido, nesse domingo. A folia pós-carnaval atraiu aproximadamente duas mil pessoas no bairro da Iputinga, na capital pernambucana.
Perguntar não ofende: E você, é mais para Olavo ou para Zé de Abreu? Resposta no (81) 999198-0838.
Por: Arthur Cunha – Jornalista