“É preciso falar mais sobre a hanseníase”, garante Tânia Moreno – dermatologista da UPAE/IMIP de Petrolina

Por Ricardo Banana
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O mês de janeiro também é conhecido em todo o Brasil pela campanha do “Janeiro Roxo”, que faz um alerta sobre a hanseníase – doença que afeta nervos e pele. De acordo com informações do Ministério da Saúde, o Brasil é o segundo país com mais casos da doença, atrás apenas da Índia, devido à sua maior população.  
 
Por ano, são registrados perto de 30 mil casos nos vários estados brasileiros. E, apesar desse número estar decaindo, a falta de tratamento dos casos existentes aumentou o número de pessoas com incapacidade física. “Isso devido à pouca familiaridade dos profissionais de saúde com a doença e às falhas da vigilância epidemiológica no Brasil”, acredita a sanitarista, hanseniologista e dermatologista da UPAE/IMIP de Petrolina, Tânia Moreno. “Por isso, nós devemos aumentar o debate sobre a hanseníase e levar mais informação à população sobre a doença, que ainda é cercada de preconceitos, mas tem tratamento e mais de 90% de chance de cura”, afirma.  
 
A doença
 
De forma simples, pode-se definir a hanseníase como uma doença infecciosa causada por uma bactéria que lesiona os nervos periféricos e diminui a sensibilidade da pele. É a doença mais antiga da humanidade e que ainda ameaça, principalmente a população mais pobre, que não tem acesso aos serviços adequados de saúde e educação, por exemplo. Traiçoeira, ela chega sem alardear e instala-se no corpo com lentidão, podendo deixar fortes sequelas físicas e emocionais. O perigo tem nome bíblico: lepra. Ou Mal de Hansen ou hanseníase, como é definida no país desde 1976.
 
Preconceito
 
“O preconceito vem desde a antiguidade quando era considerada uma praga. Os doentes eram isolados, as roupas queimadas e eles rotulados de ‘imundos’. Por isso, acreditamos que ainda hoje algumas pessoas tenham medo do diagnóstico e retardem o tratamento. Para se ter uma ideia, o Brasil é um dos poucos países no mundo a chamar a doença pelo nome de hanseníase e não lepra”, esclarece a especialista.  
 
Orientação
 
Diante disso, a orientação é que as pessoas procurem o serviço de saúde assim que percebam o aparecimento de manchas, de qualquer cor, em qualquer parte do corpo, principalmente se a área apresentar diminuição de sensibilidade ao calor e ao toque. “Temos que ficar atentos diante de uma mancha, que pode ser de qualquer cor, mais clara ou mais escura do que a pele, ligeiramente avermelhada, plana ou elevada, tendo como característica comum a falta de sensibilidade no local”, acrescenta.
 
Diagnóstico
 
“O diagnóstico e acompanhamento da hanseníase devem ser feitos nos postos de saúde, pois em geral, não há a necessidade de um especialista”, afirma Tânia. “Tudo pode ser feito na atenção básica, por isso, os profissionais dever estar cientes e serem conhecedores das manifestações da doença. Se não diagnosticada e tratada a tempo a hanseníase pode deixar sequelas nos braços, pernas, pés, mãos e olhos, a ponto da mão ficar totalmente em garra ou de impedir o paciente de dirigir e trabalhar. Em casos mais graves, as reações da doença podem atingir fígado, rins e outros órgãos importantes”, complementa.  
 
Tratamento
 
O tratamento é todo normatizado a nível mundial e, em geral, dura um ano com medicamentos específicos. Ele é todo feito com medicação oral, fornecida pelo Ministério da Saúde, de forma gratuita. Após iniciado o tratamento, o paciente para de transmitir a doença quase que imediatamente. “Atualmente, já existem vacinas e tratamentos pós-exposição, indicados aos familiares e ao grupo de comunicantes do paciente com hanseníase. São tratamentos preventivos e que a maioria da população desconhece”, constata a profissional.
 
Sensibilização
 
O paciente com hanseníase deve ser tratado por uma equipe multidisciplinar que inclui, médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, agente de saúde, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo e outros. “É preciso sensibilizar o olhar dos profissionais com relação à doença, efetivar as políticas públicas e promover saúde, para que doenças tão antigas quanto essa e ligadas à pobreza, possam ter a devida atenção”, conclui a dermatologista Tânia Moreno.
 
“Com relação ao serviço público, a UPAE/IMIP de Petrolina já disponibiliza dermatologistas que entendem bem da doença e fazem uma condução correta do tratamento, mas, ainda é preciso muita atenção na rede básica para que o paciente não progrida para uma forma mais grave da doença”, finaliza. 
Ascom

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