Essa é uma linda e tocante história de um marceneiro. Durante vinte e sete anos de idade, vivia de maneira muito simples. Não tinha aspiração e nem perspectiva de futuro. Até que um dia passando perto de uma placa da empresa CHESF, já com vinte e oito anos de idade, um ano depois, encontrou escritas as seguintes palavras: “Prepare-se! Daqui a cinco anos só terá vez, quem souber ciência”. Aquela mensagem foi como um raio de luz. Causou tamanho impacto em sua vida, que sentiu a urgente necessidade de estudar. Nessa época tinha pouca leitura, praticamente sem nenhum grau de instrução, já era casado. Estava tão decido buscar essa tal ciência que não se importou com os obstáculos e críticas de qualquer pessoa. Talvez pensassem que ele estava ficando louco, porque decidira encarar esse desafio na idade adulta. Contou com a ajuda da esposa e de sua irmã nesse processo de aprendizagem e progresso de leitura. Submeteu ao supletivo e logrou êxito. Pouco a pouco aquele marceneiro ia descobrindo o prazer de abrir um livro, absorver seus conhecimentos e enxergando um mundo de maneira diferente. Tinha naquele momento a oportunidade reconstruir uma nova história. O desejo de busca dele era muito mais forte que as dificuldades, algo mágico, um sonho que não poderia ser adiado. Agora ou nunca, não queria voltar atrás nessa prazerosa ambição de ser alguém além da marcenaria. Não parou no supletivo, queria mais e sabia que poderia ir mais longe. Tentou o vestibular na FAMESF, na UNEB para área de Agronomia aqui em Juazeiro-BA. Naquele tempo tinha uma percentual de vagas reservadas para os filhos de coronéis. Mesmo com essas restrições e limitadas vagas, conseguiu aprovação com mérito. Em sala de aula aquele marceneiro surpreendia a todos com a mente aguçadíssima que chamava à atenção de professores e colegas estudantes. Contudo, não teve vida fácil, as marcas do sofrimento o acompanhavam sempre, mesmo na vida acadêmica. Não dispunha de recursos financeiros, era um período de escassez e privação. Deslocava-se a pé para ir à faculdade do outro lado da ponte e, para retornar do mesmo modo. Não tinha recursos para comprar livros, a única alternativa era copiar a matéria e trazer as informações para casa. Um quadro penoso, mas tinha uma vibração contagiante, um entusiasmo capaz de ultrapassar os próprios limites. As circunstâncias desagradáveis não pararam por aqui. Mesmo depois de formado não era permitido lecionar matemática. O que ele fez então? Fez outro vestibular para matemática na UPE na FFPP. Saiu-se tão bem que de aluno tornou-se professor efetivo daquela instituição de ensino, com bravura, ousadia e, coragem de um gigante. Você sabe quem é esse grande algebrista? José Petrúcio de Queiróz. Esse arguto professor é um gênio, tem uma mente fértil, uma inteligência acima da média. Possui uma capacidade extraordinária, não só na área do universo dos números, mas também, em escrever poesias, poemas e na arte literária. Sem dúvidas, o mesmo é uma grande referência do curso de matemática. Não querendo desmerecer nenhum outro docente da FFPP, contudo, Petrúcio constitui uma grande inspiração para qualquer pessoa que pensa em crescer profissionalmente. Principalmente aqueles que dizem que estão com idade avançada e acham que por conta disso não conseguem se realizarem na vida. Em certo sentido, o conceito de idade é relativo, a morte pode bater à porta de quem é novo e de quem é mais idoso. Quantos alunos brilhantes passaram por esse professor e, hoje, dão um show de exata em colégios, universidades, cursinhos e outras áreas de conhecimento? Conheço vários deles, só não citei o nome de alguns porque correria o risco de esquecer outros, cometeria sem querer uma grande injustiça. Tive o privilégio de ter sido um aluno dele, e fui testemunha ocular do grande zelo e dedicação naquela faculdade. Doava-se integralmente de corpo e alma, nunca vi coisa igual, quando chegávamos à sala de aula, a lousa já estava com os assuntos daquele dia. Recentemente publicou um livro de brinquedo, ele tem essa característica de não vangloriar pelo o que faz. Não vejo nele o querer ser o centro das atenções, não é exibicionista, fica mais no anonimato, sempre modesto e extremamente simplista. Nessa preciosa obra publicada, contém a façanha de ter descoberto o conjunto que gera todos os conjuntos dos números primos. Proeza genial, há anos que tal fenômeno vem sendo estudado e ele desenvolveu esse estudo com muita elegância. Além disso, descrevem as conjecturas do azedo zero, conjectura do azedo um, a conjectura do azedo dois, assuntos tão profundos e complexos que temos dificuldade de ler o próprio enunciado. Bichão, assim se expressa ele no livro: “Muita gente pensa que o zero é uma roda, se o zero é uma roda completa ele, então o número um é uma estaca e o número três é tridente”. Nessa relíquia publicada narra com muita propriedade no capítulo I sobre a história dos números primos, no capítulo II afirma: “Quem muito dorme, pouco vive”. Finalmente, práticas de exercícios e alguns conceitos sobre a vida. Petrúcio é isso e muito mais, conheça a sua história e ficarás maravilhado com a grandeza desse raríssimo ícone da matemática.
Antonio Damião Oliveira da Silva (damis.oliver@hotmail.com)
Guarda Municipal Petrolina
Graduado em Matemática
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