Espaço do leitor: Eleições, Juventude e a dita tese da alternância…

Por Ricardo Banana
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imagemDe todos os argumentos repetidos a exaustão nesta eleição, sem dúvidas, o de que: é preciso ter alternância no governo, por que o PT já está há muito tempo no poder, bateu todos os recordes. A ideia, no entanto, por si só já basta para se anular. Primeiro porque poderíamos facilmente afirmar em condições normais de temperatura e pressão só duas coisas podem ocorrer: nada, ou pouca coisa.

Segundo que um governo de esquerda em um país que viveu quase quatrocentos anos em regime de escravidão, servindo de colônia e que passou por transições conservadoras até uma recente e frágil democracia sustentada em poucos e parcos direitos e garantias sociais, certamente precisa de algum tempo para conseguir realizar qualquer transformação ou mudança. E precisará de muito tempo caso queira que estas sejam profundas e permanentes.

Mas neste exato momento do ano de 2014, aonde a eleição presidencial chega ao segundo turno pondo em disputa dois projetos antagônicos, a tese da alternância de poder tão fácil de repetir precisa ser analisada com todo o cuidado possível.

Primeiro porque, possivelmente, a maior parte da população e dos eleitores brasileiros deve concordar que é importante a dita alternância (exceto claro, a maior parte dos paulistas acerca do Governo do Estado, mesmo que aparentemente não usem o mesmo raciocínio para o resto do país). Mas devemos nos questionar: Qual alternância é essa? E porque ela só serve para o Governo Federal? E porque mais precisamente para os governos do PT, pois até quando a reeleição não existia, criaram para manter o Fernando Henrique Cardoso como presidente.

Sejamos sinceros, pois uma coisa é avaliar a capacidade de certo governante concretizar o programa defendido por ele em sua campanha e em sua plataforma eleitoral e uma vez identificando que este não possui as condições para realizá-lo, escolher outro que reúna estas condições. Outra coisa é não concordar com o programa, e, portanto escolher outro, que tenha outros princípios, eixos e caminhos. E uma terceira coisa é o simples mudar por mudar, porque “mudar é importante”.

A propalada tese de alternância que hoje ganha volume aponta para qual destas situações? Certamente existem entusiastas de todas, mas é visível que a ideia de alternância no mudar pelo mudar, mesmo com sua frágil consistência, é que mais ganha mais volume, principalmente na juventude e quando associada ao nefasto antipetismo forjado e reforçado todos os dias nas redações dos principais jornais do país.

E por esta razão devemos buscar demonstrar que, a mudança pela mudança, em especial nas atuais circunstâncias, pode facilmente significar uma mudança para pior. Pois o que está em disputa não são dois projetos desconhecidos. Pelo contrário. A disputa no segundo turno das eleições presidenciais é a expressão da disputa entre dois projetos de sociedade que já foram (e um ainda está sendo) postos em prática.

Nesse cenário, a defesa da ideia da alternância na mudança pela mudança significa na verdade, a opção por outro programa que já é bem conhecido por todos, pois foi colocado em prática ao longo de todos os anos noventa. Logo, não há mudança pela mudança. Há a possibilidade da alternância, mas neste caso, para uma opção que significa o retrocesso.

Principalmente porque o marco desta alternância não é a definição de quem dará continuidade aos programas de governo ou a implantação de políticas de estado. O marco desta alternância se dá na definição de qual projeto de sociedade queremos, o que é muito mais do que programas de governo ou políticas de estado.

Por esta razão, é ilusão se apegar as promessas do PSDB de manutenção dos programas sociais ou da continuidade da melhoria do padrão de vida dos mais pobres, pois tais questões não cabem no projeto de sociedade defendido por eles.

Da mesma maneira que precisamos identificar que os programas de governo e as políticas de estado que vem sendo implementadas desde 2003, compõem, mesmo que de maneira tímida, os elementos para a construção do projeto de sociedade que defendemos, com mais direitos, sem opressões e sem exploração.

Exatamente por isso, a luta pela alternância precisa se dar no terreno da disputa por este projeto de sociedade. Qualquer alternativa que esteja fora deste terreno precisa ser combatida. E este combate precisa ter os jovens como seus principais protagonistas, pois aqui disputamos os modelos de desenvolvimento para o país, que atingirão principalmente as novas e futuras gerações. Pois qual o modelo de desenvolvimento que queremos? Um Democrático e Popular, que aponte para transformações cada vez mais profundas, ou um conservador que enxerga o futuro olhando pelo retrovisor?

Depois de doze anos de governos encabelados pelo PT, valendo lembrar que chegar ao governo não implica necessariamente chegar ao poder. Mas este é um importante instrumento de transformação, decisivo para que se tenham condições de enfrentar os adversários dos trabalhadores, que seguem detendo, pelo poder econômico, o controle dos meios de comunicação, do judiciário e do legislativo.

*Patrick Campos é estudante de Direito e diretor da União Nacional dos Estudantes.

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