Os “think tanks” e consultorias que alimentam o Pentágono, mesmo assumindo o risco econômico das sanções, insistem no que seria a postura mais “ética”
O conflito armado na Ucrânia intensificou a chamada “desgoblalização”, que ocorre à medida que países emergentes se recusam a aderir às sanções indiscriminadas impostas pelos Estados Unidos e seus aliados contra a Rússia.
Para Ian Bremmer, fundador da consultoria de risco político Eurasia Group, um ponto de ruptura foi atingido nas relações da Rússia com o Ocidente, especialmente após o presidente Joe Biden dos Estados Unidos chamar o presidente russo, Vladimir Putin, de “criminoso de guerra”. O Kremlin rejeita veementemente os insultos pessoais.
“A economia russa, que é muito importante em termos de commodities que são chave, como óleo e gás, será desvinculada do restante do Ocidente. Não há como reconstruir as relações econômicas quando o presidente dos EUA chama Vladimir Putin de criminoso de guerra”, disse Bremmer, conforme o Estado de S. Paulo.
Bremmer aponta ainda para repercussões contra a China, mas que não afetem a relação Rússia-China, assim como as relações de Putin com o restante do mundo emergente: “No melhor cenário, ainda haverá um movimento desfavorável à globalização e alguma repercussão contra a China”, diz.
“Putin pode se tornar um pária internacional, mas ainda fará negociações com a China, com o Brasil e com nações em desenvolvimento. A grande questão é se a Guerra Fria com a Rússia irá desencadear uma Guerra Fria com Rússia e China”, afirma Bremmer. “Se os chineses seguirem com apoio à Rússia, aí estaremos em um cenário de precipitação da fragmentação da economia global. E de possível desglobalização.”
Já a especialista em comércio internacional e professora adjunta de Direito Internacional da American University, Renata Amaral, aponta que este é apenas o fim da globalização como a conhecemos.
“Toda a cadeia de produção, distribuição de produtos e logística, toda essa geografia de comércio será afetada. Estamos presenciando um princípio de fim da globalização como conhecemos”, afirmou.
Os “think tanks” e consultorias que alimentam o Pentágono, mesmo assumindo o risco econômico ao adotar sanções contra a Rússia e seus aliados, insistem no que seria a postura mais “ética”.
“A resposta do mundo democrático à agressão e aos crimes de guerra de Moscou é correta, tanto do ponto de vista ético quanto de segurança nacional. Isso é mais importante do que a eficiência econômica”, escreveu o presidente do Peterson Institute for International Economics, Adam Posen, em artigo para a revista Foreign Affairs.
(Brasil 247).