FUP e sindicatos alertam para risco de falta de gás de cozinha e aumento dos preços do produto

Por Ricardo Banana
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A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos alertam para o risco de faltar gás de cozinha no mercado brasileiro, assim como de uma escalada de preços do produto. O GLP é produzido na mesma corrente de refino que a gasolina, cuja produção vem sendo reduzida pela Petrobrás devido à queda da demanda provocada pelas medidas de isolamento social na pandemia da Covid-19. Assim, o Brasil fica mais dependente da importação do gás de cozinha, e portanto sujeito à oferta e às flutuações do preço do produto no mercado internacional, assim como à cotação do dólar. Soma-se a isso a estratégia equivocada da atual gestão da empresa de vender ativos como a BR Distribuidora, distribuidora de combustíveis, e a Liquigás, de gás de cozinha, que davam à Petrobrás posição de liderança no mercado de derivados e a possibilidade de beneficiar o consumidor.

Dados do monitoramento da cadeia de fornecimento e distribuição de gás de cozinha feito pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que, na primeira quinzena de abril, apenas oito dos 26 estados do país e o Distrito Federal registraram vendas estáveis ou queda, segundo as distribuidoras de GLP. Os demais tiveram aumentos entre 10% e 30% das vendas de gás de cozinha.

O crescimento da procura pelo gás de cozinha já vem provocando desabastecimentos pontuais e aumento dos preços. A gestão da Petrobrás anunciou que aumentou a importação do produto para suprir a demanda crescente, mas continua reduzindo a carga de suas refinarias. Entretanto, com estoques elevados de gasolina, a tendência da empresa é diminuir ainda mais a produção de GLP, ficando ainda mais à mercê do mercado internacional e da cotação do dólar.

“Falta transparência à atual gestão da Petrobrás em mostrar o que de fato está acontecendo. A empresa vem hibernando plataformas de petróleo, reduzindo a carga das refinarias, mas não diz quais são as unidades que vão ser paradas, o que afeta também os trabalhadores da empresa. Com isso, não sabemos sequer qual vai ser o impacto sobre a produção de combustíveis, incluindo o gás de cozinha”, diz o coordenador geral da FUP, José Maria Rangel.

Função social

A preocupação da FUP e seus sindicatos em relação ao GLP aumentou nesta sexta-feira (17/4), com o conflito entre o setor de etanol e a Petrobrás. Durante teleconferência, a diretoria da petroleira sinalizou que poderia haver problemas de abastecimento de gás de cozinha se o governo atendesse à reivindicação do setor de etanol de aumentar o valor da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que incide sobre a gasolina.

“O gás de cozinha é produto essencial, ainda mais para a população de baixa renda. E neste momento tão difícil para todos, a atual gestão da Petrobrás, em vez de exercer a função social que a empresa tem desde sua criação, ameaça a segurança do abastecimento por causa de uma disputa tributária com o setor de etanol. Continua a preocupação de privilegiar apenas os acionistas da empresa”, reforça Rangel.

Em fevereiro, durante a greve dos petroleiros, a FUP e seus sindicatos promoveram a campanha “Gás a Preço Justo”, quando o preço médio cobrado pelo botijão foi de R$ 40. A campanha, além de beneficiar a população com um produto mais barato, mostrou que é possível vender o GLP a preços mais baixos com ganhos para as distribuidoras, os revendedores de gás de cozinha e os cofres públicos. E mesmo sugerindo redução da margem de lucro da Petrobrás ou subsídio por parte do governo federal, a proposta mostra que o GLP representa menos que 5% da receita bruta da companhia com a venda de combustíveis, o que não impactaria significativamente seus ganhos.

A FUP e seus sindicatos também vêm se articulando no Congresso Nacional para aprovar o projeto de lei no 1.482/2020, do deputado federal Rogério Correia (PT-MG), que propõe garantir gratuitamente a oferta de um botijão de gás de cozinha por mês para famílias do Bolsa Família e do Cadastro Único durante o estado de calamidade pública, decretado pelo governo federal por causa da pandemia da Covid-19. O PL também quer garantir que famílias que ganhem até quatro salários mínimos mensais paguem R$ 40 pelo botijão durante o mesmo período.

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