Geraldo Junior Secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão de Petrolina-PE; É Professor universitário, Bacharel em Economia com mestrado em Economia.
Cauby Fernandes>O senhor entende que Petrolina tem uma vantagem competitiva diferenciada em relação às outras cidades do Estado. Quais seriam essas vantagens?
Geraldo Junior> Petrolina teve seu primeiro projeto irrigado em 1968, que foi o Projeto Bebedouro. Em 1984 tivemos a implantação do que hoje é o Projeto Irrigado Senador Nilo Coelho e em 1996, o Projeto de Irrigação Maria Tereza. Veja que é um processo de consolidação que levou décadas e durante esse tempo Petrolina passou por fases, estruturando um espaço privilegiado na produção da fruticultura irrigada no país. E assim, tivemos a expansão para outros eixos de desenvolvimento como pólos de comércio e serviços, de educação, jurídico e saúde. Ou seja, nossa economia está mais diversificada. Petrolina e Juazeiro são um dos maiores exemplo de desenvolvimento regional-espacial na história da agricultura moderna no Brasil. Todo esse sucesso esteve vinculado à implantação do 1º e 2º Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), entre o final dos anos 60 e 70 do século passado. Foi um momento que o Brasil estava buscando consolidar seu complexo agroindustrial diante da iminente explosão demográfica que estava em curso e que colocava em risco a oferta de alimentos para suprir as demandas da população brasileira.
Assim, o Governo Federal passou a montar uma ampla estrutura para dar sustentação a esse crescimento a exemplo da criação da EMBRAPA, criação da EMATER’s, incentivo à instalação de indústrias de produção de adubos e fertilizantes, desenvolvimento tecnológico na agricultura, linha de financiamento rural, implantação de fábricas de máquinas e implementos agrícolas etc.
Cauby Fernandes Então o Senhor está dizendo que o que tivemos em Petrolina foi fruto de um grande projeto do Governo Federal à época?
Geraldo Junior – Exatamente. Existiam gargalos econômicos a superar e a agricultura foi um dos maiores instrumentos utilizados. Além disso, ainda existia a necessidade de realizar superávits na balança comercial porque o país precisava de dólares para fechar suas contas do balanço de pagamentos no final de ano. Até hoje a maior colaboração para a nossa balança comercial tem sido do segmento agroindustrial. A logística de Petrolina a favorece muito, isso é um dos seus maiores diferenciais competitivos que viabilizou a implantação dos projetos de irrigação aqui.
Cauby Fernandes > O senhor acha Petrolina mais Globalizada que a capital?
Geraldo Junior > Nós temos 30% da nossa economia vinculada à agricultura irrigada e parte significativa dela inteiramente vinculada aos fluxos globais de comércio. Petrolina é uma cidade que sofre de forma mais intensa qualquer oscilação na taxa de câmbio e/ou nas relações comerciais do Brasil com o mundo. Essa vinculação possui um lado bom que é o fato de necessitarmos estar antenados com o progresso tecnológico na agricultura e nos serviços a ela vinculado, cada vez mais em busca de inovações, mas também sofremos um grau de concorrência que é global nos segmentos de uva de mesa e manga, daí é preciso estar sempre acompanhando o grau de competitividade dos nossos concorrentes. Assim, as oscilações econômicas globais atingem nossa economia de forma mais intensa e veloz do que na capital do Estado (Recife), por exemplo, que possui uma economia mais diversificada com maior capacidade de amortecimento de oscilações.
É nesse sentido que somos mais globalizados. Pelas intensidades positiva e negativa a que a nossa economia está vinculada. Se nós estamos vinculados a essa economia global, certamente, nossos concorrentes também.
Cauby Fernandes > Qual a importância de Nilo Coelho para o desenvolvimento de Petrolina?
Geraldo Junior >Nilo Coelho foi um homem de sorte que estava no lugar certo, na hora certa. Foi o Governador que liderou a implantação do primeiro perímetro irrigado (Bebedouro). Ele governou o Estado de Pernambuco com um olhar do sertão para o litoral e isso fez Petrolina crescer quando precisava de desenvolvimento. Ele fez Petrolina se potencializar e ganhar musculatura como cidade, é tanto que inicia ali uma fase de crescimento demográfico intenso que permanece até hoje. Depois foram se criando novas infraestruturas para dar sustentação a esse crescimento.
Cauby Fernandes > Existe uma avaliação que o Ex-Ministro Fernando Bezerra poderia ter feito mais por Petrolina no sentido de industrialização e avanço na fruticultura irrigada. Como o Senhor vê isso?
Geraldo Junior >Eu diria que não dá para comparar os resultados dos dois em relação ao município. Nilo Coelho estava vinculado a uma estratégia de desenvolvimento regional e espacial de Petrolina. Avalio que o grande erro do ex-ministro foi não ter pensado Petrolina e a região Nordeste de forma estratégica. Fernando Bezerra foi Secretário de Desenvolvimento Econômico do Governo de Pernambuco; Ex-Ministro da Integração Nacional; Ex-Membro-Dirigente do Conselho Deliberativo da SUDENE; possuía poder e influência junto ao Banco do Nordeste etc. Passar por todas essas posições e não conseguir demarcar uma linha divisória no processo de desenvolvimento econômico da região e do município nos dias atuais foi seu maior erro e a história o cobrará por isso. Ou melhor, já está cobrando.
O Governo Federal mudou sua lógica de grandes investimentos desde 2003 com o Ex-Presidente Lula, trazendo o eixo econômico do Nordeste para Pernambuco. Durante esse período tivemos a transposição, Transnordestina, Fábrica da Fiat, Indústria Naval, Refinaria Abreu e Lima, Pólo Fármaco-Químico etc. Disso tudo o processo de desenvolvimento industrial permaneceu concentrado na faixa litorânea. Acho que essa é a maior dívida. É só ver os recursos de incentivos fiscais aprovados no Conselho Deliberativo do FNE-SUDENE. A própria Região Integrada de Desenvolvimento Econômico – RIDE, apesar de possuir um Plano de Ação foi deixado de lado porque isso poderia potencializar a posição do Prefeito de Petrolina. Ou seja, o Ex-Ministro foi menor do que o cargo.
Só sobrou para Petrolina de significativo, no âmbito do Ministério da Integração Nacional, o investimento no sistema de esgotamento sanitário do município, mas é uma obra que já estava garantida nos compromissos das obras de transposição, a pavimentação das ruas principais das agrovilas e a implantação de 16 sistemas simplificados de abastecimento de água.
Cauby Fernandes >Quais os desafios para Petrolina continuar sendo uma cidade atrativa para os que aqui nasceram e os que chegam?
Geraldo Junior > As cidades vivem ciclos e a cada ciclo é necessário redefinir, repensar e traçar os caminhos do futuro. Petrolina está consolidando a entrega de 10 mil novas moradias só do Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV. Isto significa que mais de 10% da população está se reposicionando espacialmente dentro do município. Isso traz necessidades de repensar o transporte público, a coleta de lixo, as escolas municipais, os postos de saúde, ou seja, todos os serviços públicos. Mas também o próprio setor privado se redireciona em seus investimentos. Permanecendo o patamar de crescimento demográfico atual, teremos no ano de 2028 aproximadamente 500 mil habitantes. Juntamente com Juazeiro teremos quase 1,0 milhão de habitantes. Cada vez mais os problemas das duas cidades têm que ser pensados conjuntamente. Isso vai necessitar redefinição federativa entre as cidades e os Estados de Pernambuco e Bahia.
As condições estão se potencializando cada vez mais para Petrolina. Temos novas áreas de expansão agrícola irrigada, mas temos também novos eixos se agigantando cada vez mais a exemplo do aeroportuário, hidroviário e rodoviário. Pela posição estratégica certamente teremos um ramal da transnordestina que nos ligará aos três principais portos do Nordeste: Suape – PE, Pecém – CE e Aratu – BA.
Cauby Fernandes: Como Gerenciar os gastos em uma cidade que não é ajudada pelo Governo estadual?
Geraldo Junior > Vejo como injusto o modelo de sistema tributário para os Municípios. Aproximadamente 65% dos tributos arrecadados ficam com o Governo federal, 27% com os Estados e apenas 8% com os Municípios. Isso cria uma enorme dependência dos municípios com o Governo Federal e Estadual. Ao longo dos anos o que a gente enxerga é a falta de implementação do Pacto Federativo com a cidade de Petrolina. Se a população for analisar houve um decréscimo significativo de convênios do Governo do Estado com a cidade. O governo Federal é o nosso grande parceiro, basta ver o montante de casas que estamos entregando na cidade. Em miúdos, o Governo de Pernambuco não nos ajuda muito.
Com recursos escassos e demandas crescente o que temos que fazer é definir estrategicamente os programas e ações que possuam maior benefício e menor custo de forma que possamos potencializar os recursos e investir de maneira estratégica com uma visão de curto, médio e longo prazo.
Cauby Fernandes > Quais projetos emergenciais para a cidade ter um mais avanços financeiros? Como atrair investidores?
Geraldo Junior > Petrolina precisa diversificar sua economia de forma que possamos ter outros setores com boa empregabilidade e possamos continuar atraindo pessoas para cá. O que precisamos é potencializar o que já temos e criar novos veios econômicos.
Vamos procurar potencializar os segmentos já existentes a exemplo da fruticultura e investir nos segmentos de confecção, criar um pólo coureiro-calçadista, estruturar um cluster logístico. Estamos já discutindo com o Governo Federal e Governo Estadual essas novas implementações e estamos satisfeitos com a receptividade que temos encontrado.
Cauby Fernandes >O que falta para essa cidade ser quem a população espera que seja uma cidade moderna, próspera e empregatícia?
Geraldo Junior > Petrolina já é uma cidade atrativa do ponto de vista da empregabilidade. As condições estão se dinamizando cada vez mais. Temos que potencializar os eixos aeroportuário, hidroviário e rodoviário, consolidando com a futura transnordestina em Petrolina, porque nós estamos situados no miolo disso tudo. Nós temos um grande desafio que é implementar novos modelos setoriais de crescimento econômico para a cidade. Se de um lado nós estamos buscando melhorias, por outro lado a cidade está recebendo gente advinda de todas as partes do país. Precisamos desse preparo e desse planejamento.
Cauby Fernandes > Há quanto tempo você reside em Petrolina?
Geraldo Junior > Há 5 anos e 8 meses apenas.
Blog do Banana
1 comentário
Bela explanação geoeconômica da região petrolinense voltada para a globalização. Também, não era para menos. O Dr. Geraldo é uma das poucas pessoas áptas e com tamanha habilidade no assunto pertinente a Petrolina. Deu um banho de informações micro e macro econômica. Esnobou a história passada, presente e o futuro da região, economicamente falando. Fico feliz ler informações assim, pois fica mais fácil para nos situarmos no contexto.
Por serem convincentes, dou verdade às palavras lidas.
Que Petrolina continue no caminho certo do crescimento capaz de trazer qualidade de vida para os que aqui moram, e para os que estão chegando. Aliás, nada mal investir também em lazer (mais eventos futebolísticos, eventos culturais, feiras típicas semanais, mini zoológico com animais regionais, popularizar a gastronomia local, desenvolver o esporte de areia na orla a nível nacional etc.), pois foi algo que senti falta quando aqui cheguei, vendo limitada as opções de entretenimento em torno de bares na orla fluvial e shopping. Mas confesso que a cidade não tem nada a dever a uma cidade de grande porte, com tamanha tranquilidade em morar aqui!
Parabéns ao povo de Petrolina e ao governo municipal por tamanha desenvoltura.