Hipótese de que FAB ajudou Olavo de Carvalho a fugir de intimação da PF é plausível e precisa ser investigada

Por Ricardo Banana
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Denúncia é grave, tem fundamento, e pode envolver diretamente o presidente da República.

A hipótese de que Olavo de Carvalho deixou o Brasil em avião da Força Aérea Brasileira (FAB) às pressas, para não depor à Polícia Federal, faz todo sentido, e é preciso ser investigada.

Atribuindo a informação a uma fonte “com boas ligações em Brasília”, a escritora Daniela Abade descreveu no Twitter os voos do Legacy prefixo VC99B, número de calda FAB2582, entre os dias 11 e 14 de novembro.

Dia 11 foi a data em que Olavo de Carvalho deixou, repentinamente a clínica Saint Marie, em São Paulo, onde estava internado havia alguns meses. E 13 foi a data em que um avião da FAB pousou no aeroporto Mac Arthur, de Long Island, Nova York.

Daniela diz que o avião que fez o pouso em Nova York teria decolado de São Paulo às 12h38 do dia 13. Essa informação é incorreta, de acordo com os próprios vídeos que ela posta com o deslocamento da aeronave captado pelos radares.

Mas esse equívoco não invalida a hipótese que Daniela levanta, com base na sua fonte de Brasília. O radar capta o movimento da aeronave a partir de um ponto de Goiás, que ela afirma ser o município de São Gabriel, e o aplicativo registra o horário 03h38 (UTC).

UTC é a sigla de Coordinated Universal Time, o horário de referência no mundo. No fuso brasileiro (três horas a menos), seria 00h38 (meia-noite e 38 minutos). Como o voo teria tido origem em São Paulo, é provável que a decolagem tenha se dado cerca de uma hora antes, às 23h38 do dia 12 aproximadamente.

Daniela explica que a Aeronáutica impôs sigilo nesse voo — portanto, as informações que levantou tiveram como base a sua fonte e dados disponíveis nos aplicativos que rastreiam voos no mundo todo.

O avião da FAB chegou ao aeroporto de Long Island (código ISP), às 13h45 (UTC), 10h45 no relógio brasileiro. É um aeroporto menor, usado para voos domésticos, e aí está um indício de que tenha servido mesmo para levar Olavo de Carvalho. Desse aeroporto saem voos para Petersburg, no Estado da Virgínia, onde mora o guru do bolsonarismo.

No dia seguinte, a aeronave já estava no aeroporto JFK, também em Nova York, onde o ministro Fábio Faria embarcou para viagens em território americano — ele esteve inclusive em Austin, Texas, onde se encontrou com o empresário Elon Musk.

Daniela enfatizou em suas postagens que Olavo de Carvalho teria voado no avião de Fábio Faria, o que permitiu a ele fazer um desmentido agressivo:

“FAKE NEWS!! Não conheço Olavo de Carvalho, nunca o vi na vida e não fui de FAB para os EUA. Irresponsabilidade soltar maluquices na imprensa sem checar. É preciso investigar e punir esses devaneios que se espalham irresponsavelmente”, disse, num post no Twitter em que marcou as contas do Supremo Tribunal Federal e Polícia Federal, certamente tentando se antecipar à abertura de qualquer investigação.

O que o ministro diz não é mentira, a se considerar que Olavo tenha mesmo sido levado neste avião para os EUA. De fato, Fábio Faria não foi para os EUA em avião da FAB.

A própria Daniela informa que Fábio Faria só entrou no avião em Nova York, depois que veio de Glasgow, na Escócia, onde tinha participado da COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas.

Fábio Faria poderia saber que o avião que partiu do Brasil para servi-lo a partir de Nova York teria trazido como passageiro Olavo de Carvalho? Talvez sim, mas pode dizer que não, e é difícil contestá-lo.

Na hipótese de que o avião da FAB tenha mesmo servido a Olavo de Carvalho, a responsabilidade maior é de quem autorizou a viagem sigilosa a partir do Brasil, com um passageiro que não é agente público e estava se furtando ao cumprimento de uma intimação da Polícia Federal.

Olavo de Carvalho estava obrigado a depor no inquérito sobre atos antidemocráticos aberto no STF, sob responsabilidade de Alexandre de Moraes.

O ministro da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, tem responsabilidade no caso? Certamente (repita-se: na hipótese de que Olavo foi mesmo o passageiro do voo).

Mas é improvável que o tenente-brigadeiro Baptista Junior tomasse uma decisão dessas sem que houvesse pelo menos o conhecimento de seu superior hierárquico, Jair Bolsonaro, que é quem tem relação antiga e direta com Olavo de Carvalho.

O guru do bolsonarismo, tão presente nas redes sociais, ainda não se manifestou sobre a informação divulgada por Daniela Abade. Mas falou sobre sua saída do Brasil, numa vídeo postado em 16 de novembro, três dias depois do pouso do avião da FAB em Long Island.

“Estou em casa, a mesma de sempre. A história é muito breve: eu estava no hospital e me ofereceram um voo repentino. Eu fui, entrei no avião e viemos para cá”, declarou, sem mencionar a intimação da PF e sem dizer quem lhe deu carona.

A filha mais velha de Olavo de Carvalho, que é rompida com ele e acompanha o desdobramento da revelação de Daniela Abade, acha que a história tem fundamento.

“Até porque ele disse dia 8 ou 9 de outubro que estava aguardando outra cirurgia, sair assim correndo sem fazer a cirurgia foi muito estranho. E provavelmente ele estava com medo de ir em voo de linha pelo fato da Polícia Federal tê-lo intimado”, afirmou Heloisa de Carvalho.

A Polícia Federal tem caminhos para verificar se a Aeronáutica serviu para ajudar um investigado a se furtar do cumprimento de uma intimação. O primeiro passo é levantar quem viajou no Legacy prefixo VC99B, número de calda FAB2582, entre os dias 11 e 13. Mas, além disso, pode verificar câmeras do aeroporto e ouvir testemunhas. É o primeiro passo.

(Brasil 247).

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