“Homens de bens foram à rua reivindicar a volta dos trabalhadores ao trabalho. Aqueles que produzem as riquezas dos homens de bens”, diz professor em artigo

Por Ricardo Banana
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O Professor da UNEB (Universidade do Estado da Bahia) e primeiro Doutor em educação da cidade de Curaçá, no Norte do Estado, Josemar Martins, o popular Pinzoh, escreveu um artigo sobre as manifestações recentes por parte do empresariado brasileiro pela volta do trabalho em meio a pandemia do novo Coronavírus. A previsão das autoridades sanitárias e da ONU é que até o mês de agosto, o Brasil viverá a curva do pico da doença, que mais que uma “gripezinha”, é um inimigo invisível que poderá ceifar milhares de vidas no país.

Confira abaixo a íntegra do artigo escrito em uma rede social do professor Pinzoh:

DICIONÁRIO DE PALAVRAS SOLTAS EM DESORDEM CRESCENTE

  1. Homens de bens

Em meio à pandemia que já vitimou quase 30 mil, os homens de bens continuam indo à rua reivindicar a volta ao trabalho: ao trabalho de explorar trabalhadores, diga-se. Em seus carros de luxo, exibem símbolos que eles assaltaram da nação, como sendo apenas símbolos seus. Peguei um certo abuso pela bandeira nacional, pelos símbolos pátrios sequestrados. Faz tempo eles servem a esta idiotice raivosa e pouco esclarecida. E piorou muito isso daí. Juro que abusei. Este país precisa de uma reinvenção, e que ela não seja odiosa. Por mim se faria justiça ao pau-brasil e se colocaria na bandeira um pouco de cor brazilina. Se tantos tecidos tingiu o pau-brasil, quem distinguiria esta cor do próprio sangue? E por que somente à bandeira nacional não atingiu? Se tantas pessoas tombaram, que a bandeira assuma esta verdade e se tinja, porque até a isso nos negaram e nos lograram essa ausência na invenção do Brasil, “lavado em sangue índio e sague negro” – como nos dizem Caetano, em Verdade Tropical, e Darcy Ribeiro, em O Povo Brasileiro. E tantos outros.

Os homens de bens foram à rua reivindicar a volta ao trabalho. A volta dos trabalhadores ao trabalho – entenda-se. Aqueles que de fato produzem as riquezas, as riquezas dos homens de bens, as riquezas de uma nação de tantos, e a pobreza da maioria. Por um instante pensei que ali os homens de bens declarariam o seu amor maior aos trabalhadores, e jurariam diante dos símbolos pátrios sequestrados que, dali em diante, reconhecendo a falta que eles fazem, tratariam melhor os trabalhadores, que lhes vendem a preço baixo, seus serviços essenciais. Mas, os homens de bens, que sobre as costas dos trabalhadores acumularam as condições de viverem refestelados em suas casas e carrões, como hedonistas endinheirados, que podem até comprar uma passagem para a lua (mas preferem comprar um paredão), esses, esses mesmos, andam agoniados. E certamente não estão dispostos a pagarem um mês ou dois ou mais de salário para quem lhes serve a vida inteira. Ao invés de declararem o seu amor maior aos trabalhadores, os homens de bens exibem ódio e vão à rua insultá-los. Xingam, cospem, batem, empurram, chutam. Eles têm dado um show de selvageria.

Os homens de bens dizem que detestam a política e que detestam os políticos. Não leram o Analfabeto Político, do Bertholt Brecht. E para eles, um deputado que passou 27 anos mamando nas tetas do estado e levando toda a sua família de milicianos para fazerem o mesmo, não é um político. O acham honesto. E apesar de este urrar como um animal em defesa do seu território, de querer ganhar no grito e na bala, apesar disso, os homens de bens preferem a fabricação de uma narrativa do absurdo, em forma de uma ideologia da ignorância, que conta com fake news e templos que ostentam um Deus igualmente velho e violento.

Houve um tempo, talvez, em que pelo menos uma parte dos homens de bens tinha certos pudores, certos brios, fazia o esforço da ilustração, comprava livros, pianos, mandava os filhos para as artes liberais. Alguns até iam bem nisso e até gostavam de artistas nacionais, mesmo que esses fossem cabeludos. Outros permaneciam presos à estética da violência, da força para manter seus privilégios. Dispostos a esmagar qualquer sobrevivente da violência oficial que reivindicasse também fazer parte do Brasil. E a bandeira permaneceu isenta de cor brazilina. A safra atual de homens de bens é mais desta segunda cepa, que tem desprezo por qualquer disfarce de sua estupidez. Já não lhes interessa isso. Esquecem apenas que, de tanto isso, uma hora dessas o vermelho brazilino de todos os sacrifícios tinge a bandeira nacional.

Uma pergunta de professor: acreditamos na educação dos homens de bens?

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