Nelson Mandela, pela sua dimensão amplamente humana e ético-moral, cuja aura intensamente luminosa foi capaz de iluminar mentes e tocar os corações em todo o mundo, deixa-nos órfãos dos seus ideais de paz, conciliação, perdão e de amor para com toda a humanidade. Deixa-nos, porém, o seu monumental exemplo pessoal de dignidade, persistência e desprendimento, só raramente encontrado na História. Como Mahatma Gandi, Martin Luther King, Sócrates, Thomas Morus, Mandela se integra ao reduzido círculo de pessoas que souberam colocar os seus ideais e princípios – e mesmo a própria vida- a serviço da Humanidade. Como cometas, demoram a surgir na Terra, mas, quando o fazem, iluminam os nossos céus, mudam as nossas percepções, tornam-nos seres humanos melhores e, sem mais, partem tão rapidamente quanto chegaram.
Chefes de Estado do mundo inteiro manifestam à África do Sul e ao seu povo a sua perda. Ainda que por formalidade diplomática, em alguns casos, o sentimento revelado por esses Chefes de Estado dá a medida da magnitude do significado da passagem de Mandela por este planeta tão descurado, já que estúpida e irresponsavelmente teimamos em destruí-lo. Em suas palavras de pesar, o presidente Obama se refere a Mandela nos seguintes termos: “Ele realizou mais do que podia ser esperado de qualquer homem. Hoje ele se foi para casa. E perdemos um dos seres humanos mais influentes, corajosos e profundamente bons com que qualquer um de nós partilhará nesta Terra. Ele já não nos pertence, ele pertence às eras”.
Emergindo de 27 duros anos de prisão, em momento algum pensou em retaliação. Contrariando os próprios camaradas de luta, abdicou de qualquer sentimento de vingança, optando pelo perdão e pela reconciliação dos povos formadores da Nação Sul Africana, absolutamente consciente de que só assim deixaria para trás os terríveis tempos do Apartheid e suas lembranças, substituindo-os pelo esforço conjunto e irreversível de reconstrução de um país dividido pelo ódio. Presidente da África do Sul, resistiu a qualquer tentativa de recondução ao poder, algo tão do gosto dos políticos da atualidade.
O Presidente Obama relembrou declaração de Mandela que tão bem o caracteriza: “Lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Acalentei o ideal de uma sociedade democrática e livre em que todas as pessoas vivessem juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e alcançar. Mas, se necessário for, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer.”
Para nós, brasileiros – sobretudo para os nossos políticos -, habitantes de um País maculado desde sempre pela mais desbragada corrupção, pela ampla impunidade, pelo obsceno desrespeito aos direitos dos cidadãos e pelas mais clamantes desigualdades sociais, fica este maravilhoso exemplo de cidadão, autêntico, humano, ético, inquebrantável, inabalável ante todos os desafios que teve de enfrentar, que foi NELSON MANDELA.
Valdenor Ramos
Blog do Banana