Manuca e o tempo que tudo transformará

Por Ricardo Banana
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“Depois da tempestade vem a poesia”. A citação, escrita em um pedaço de papel rasgado e colado sobre a capa do livro ‘Seu Emmanuel, quando o amor venceu a dor’, de Manuca e Lu Almeida, já dá o tom e o ritmo da história terminal do poeta que enfrentou um câncer durante sete meses. Partindo da ideia de que, a exemplo da tempestade, tudo passa nessa vida, e que ao escrever versos, os homens seguem qual passarinhos cantantes, a obra é um alguidar de dores e amores.

Escrito a punho por Emmanuel Gama de Souza Almeida, nome de pia de Manuca, e Lu Almeida, a companheira de 35 anos, o livro expõe em 155 páginas um inventário sincero de sentimentos; da perplexidade e o medo com a descoberta da doença até a crença que poderia vencê-la. “Hoje eu preciso do que a gente não juntou”, escreveu ele no dia que tomou conhecimento que só estava começando o momento mais difícil da vida.

Depois veio literalmente a queda física e um somatório de sinais preocupantes. “O medo deu lugar a fé. Já não tenho medo de mim”, disse ao começar a fisioterapia. Criador de sonhos, o poeta, ator, produtor e compositor de cerca de 600 canções, muitas delas gravadas por nomes como Gilberto Gil, Ivete Sangalo e Dominguinhos, disse numa visita ao Centro Espírita Complexo Luz, “Eu nunca tive medo de Deus…”.

Cheio de esperança e fé, Manuca chega ao dia 19 de junho de 2017 ao Hospital do Câncer de Barretos – SP, e depois de quatro meses de luta, recebe uma visita do amigo Jorge Reis, que musicou o poema ‘De que vale’. Um presente que o deixou tão feliz que fez nascer outro, ‘O Caminho que nos restou’. É, Seu Emmanuel diminuiu o ritmo, mas não deixou de lado a irreverência e de compor e imprimir sua marca de amor que não se mede. O mesmo modelo e figurino que fez conhecida de muita gente a canção ‘Esperando na janela’, feita em parceria com Targino Gondim e Raimundinho do Acordeom, vencedora do Grammy Latino de 2001 (melhor música brasileira).

Os saraus poéticos, tendo como plateia os profissionais de saúde e outros pacientes, entraram para a história da recepção do hospital, sempre lotada e as lágrimas que invariavelmente rolavam são testemunhos da força e da fé do poeta que tatuou a palavra resiliência em seu corpo.

“Um guerreiro firme que já conhecia bem aquele campo de batalha”, reconheceu a Terapeuta Ocupacional, Renata Cardoso, em depoimento emocionado que ressalta a importância da dedicação de Lu Almeida para a construção da história de vida onde o protagonista é o amor.

Manuca Almeida, autor de proposições como ‘Só o amor é maior que o amor que já existe’, ‘Se alguém lhe amar como eu não é alguém sou eu’ e ‘Tudo que você tem não é seu/tudo o que você guardar/ pertence ao tempo que tudo transformará’, nos deixou às 21h10 do dia 11 de novembro de 2017 aos 53 anos. O livro ‘Seu Emmanuel, quando o amor venceu a dor’, realizado com apoio da Secretaria de Cultura de Juazeiro com recursos financeiros da Lei Aldir Blanc, foi lançado virtualmente no último dia 25 de abril durante a Flijua – Festa Literária de Juazeiro.

Filho de Aracaju – SE e amante sem limites da cidade baiana de Juazeiro, da esposa, três filhas e dois netos, Manuca acreditava que a esperança, mais que uma promessa de futuro, era algo assim como a própria poesia que tudo pode transformar.

Carlos Laerte é poeta, jornalista e diretor da Clas Comunicação e Marketing.

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