O ministro de Minas e Energia do Brasil defendeu nesta terça-feira a mineradora Vale como vital para a economia do país, mesmo após os promotores acusarem a companhia de pressionar auditores a suprimir evidências de que a barragem de Brumadinho era instável, meses antes de a represa desmoronar em janeiro, matando centenas.
Bento Albuquerque disse que executivos provavelmente aprenderão com o desastre, que matou mais de 300 e provocou um clamor por regras mais rígidas no setor de mineração.
O desastre de janeiro foi o segundo rompimento de barragem mortal em pouco mais de três anos no Brasil
Albuquerque disse à Reuters que a maior produtora global de minério de ferro desempenha um papel importante no desenvolvimento econômico do Brasil.
“A empresa é muito importante para o Brasil, para a economia de muitos Estados do Brasil, e nós a consideramos como tendo um papel importante em nosso desenvolvimento”, disse Albuquerque, durante uma conferência de mineração em Toronto, no Canadá.
Na passada semana, promotores brasileiros alegaram que a Vale rompeu contrato com uma empresa de inspeção meses antes do desastre, porque a companhia se recusou a certificar uma de suas represas como segura.
Albuquerque reconheceu a gravidade das alegações, que, entre outras coisas, levaram o Ministério Público a recomendar o afastamento de importantes executivos da Vale, incluindo o CEO.
“Se a certificação, por qualquer meio, foi adulterada, então eles podem ser acusados de conluio ou obstrução”, disseAlbuquerque, um almirante da Marinha brasileira.
Ainda assim, a argumentação de Albuquerque, apesar de uma série de críticas à Vale, sobre o que muitos chamam de um desastre evitável, indica como a influência da empresa poderia levar alguns políticos a se oporem a regulamentos mais duros.
“Eu acho que eles aprenderão as lições e terão sucessoem superar esta situação “, disse Albuquerque.
O Brasil proibiu o tipo de barragem de rejeitos de mineração usada pela mina de Brumadinho, e o presidente-executivo da Vale, Fabio Schvartsman, afastou-se temporariamente ao final da semana passada.
O Conselho de Administração da Vale nomeou no sábado Eduardo de Salles Bartolomeo para ocupar interinamente a presidência da empresa.
Após o desastre, a indústria global de mineração prometeu padrões mais rígidos para barragens de rejeitos.
Ainda assim, o mundo está faminto pelo minério de ferro da Vale, um ponto de orgulho na maior economia da América Latina.
A Vale possui mais de 100 mil funcionários. Albuquerque disse que seu ministério iniciou uma inspeção detodas as barragens de rejeitos no Brasil, um trabalho que deve ser encerrado até o final do ano.
O ministério espera finalizar mudanças no processo de certificação de barragem de rejeitos até junho, disse ele. O governo federal do Brasil e a Vale sempre tiveram “boa comunicação”, o que deve continuar sob a nova liderança, disse Albuquerque.
Ainda não está claro se a nova gestão será tornada permanente.
Além da mudança na presidência da companhia, Claudio de Oliveira Alves, atual diretor de Pelotização e Manganês, ocupará interinamente a função de diretor-executivo de Ferrosos e Carvão, e Mark Travers, atual diretor jurídico, de Relações Institucionais e Sustentabilidade de Metais Básicos, será o diretor interino de Metais Básicos.
O diretor de Ferrosos da Vale, Peter Poppinga, também se afastou após pedido de autoridades.
As ações da Vale listadas nos Estados Unidos fecharam no azul nesta terça-feira, assim como na véspera, uma indicação de como poderão reagir às mudanças na companhia, no retorno do feriado, na B3, na quarta-feira. (247)