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Saíde tem 17 anos e mora no Bairro da Paz, em Salvador. Ele passou a fazer parte do coro do Neojiba quando tinha sete anos de idade, encantado pela irmã ser a primeira oboísta do núcleo instalado na mesma localidade em que mora. Um grande incentivo foi dado pela mãe, que queria que seus filhos fossem músicos. Ficou no projeto até 2018, quando resolveu sair. Na audição para clarinetista, em 2019, a música escolhida foi Asa Branca, de Luiz Gonzaga. Em 2023, passou a integrar o Núcleo Central, que está localizado no Parque do Queimado, no bairro Liberdade. “Para mim está sendo uma experiência incrível! O que eu costumo dizer: o Neojiba não é só um projeto artístico, um projeto que entrega as músicas para as pessoas de Salvador e da Bahia. Mas sim um projeto que, de fato, transforma a vida”, conta ele que sonha em se tornar diplomata.
O Neojiba está dividido em quatro formações: Orquestra Neojiba, Orquestra Castro Alves, Orquestra Pedagógica Experimental e Orquestra de Cordas Infantil, que conta com crianças, adolescentes e jovens com idade entre seis e 29 anos.
Quem também tem uma história longa no projeto é Esdras Salatiel. O jovem morador do bairro do Uruguai foi incentivado pelo pai, que toca violão, a entrar no mundo da música. Depois de fazer um curso de musicalização na Universidade Federal da Bahia (Ufba), entrou no Neojiba com seis anos. Com 16 já é chefe de naipe da Orquestra Neojiba, a principal formação, tocando contrabaixo. Ele também é monitor. Com o grupo, já participou de turnês em seis países: Bélgica, Dinamarca, França, Holanda, Itália e Portugal. Esdras destaca a importância da experiência internacional em sua vida. “Experiência maravilhosa! Fui o primeiro da família a sair do país e foi um motivo de orgulho. Foi uma experiência marcante a turnê: novos ares, contato com pessoas falando outras línguas. Tem o contato com outras orquestras, poder trocar experiências, foi muito importante para o crescimento da orquestra”, enfatizou.
O programa Neojiba é uma política pública prioritária do Governo do Estado, executada pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH). A iniciativa foi criada em 2007. Neste período, mais de 30 mil crianças e adolescentes tiveram as vidas transformadas pela prática musical coletiva. Impacto percebido também no cotidiano de Thaíssa Dórea, que tem 18 anos e mora no município de Simões Filho. Ela e a irmã gêmea, Raíssa Dórea, tocam violino na Orquestra Castro Alves. Integrante do Núcleo Central, ela conta que já participou de intercâmbio em Portugal. “O Neojiba me proporcionou tanto conhecer outras pessoas, conhecer outras culturas, conhecer outros países e, através da música, eu me tornei um pouco mais comunicativa. A música me transformou tanto na comunicação, quanto na expressão musical”, afirma.
Atualmente, o programa beneficia 2,4 mil integrantes diretos em seus 13 núcleos, em Salvador, Jequié, Simões Filho, Lauro de Freitas, Feira de Santana, Vitória da Conquista e Teixeira de Freitas, e outros seis mil indiretos em ações de apoio a iniciativas musicais parceiras. “Eu gosto muito daqui porque a gente aprende as notas musicais, a cantar. Eu acho muito legal as aulas. Eu gostaria que todas as crianças viessem conhecer o Neojiba, porque é o melhor lugar que uma criança pode aprender”, declararam Lara Cristal, Iana Souza, Laura Daltro e João Levi, integrantes do coro infantil.
O programa
O fundador e diretor-geral do Neojiba, o maestro Ricardo Castro, explica que o objetivo da iniciativa é promover o desenvolvimento e a integração social de crianças, adolescentes e jovens em situações de vulnerabilidade, por meio do ensino e da prática musical coletivos. “A gente fica muito feliz de circular hoje na Bahia, não somente em Salvador, e ver uma juventude feliz, com instrumentos nas mãos, sabendo se comunicar, comprometida socialmente, porque esse programa promove o surgimento de lideranças, promove a solidariedade entre os jovens e crianças e a gente tem aí uma nova geração de artistas, que veio mostrar que é possível a gente fazer mais e mais pela nossa juventude”, pontuou o maestro Ricardo Castro.
Além das aulas de iniciação musical, os participantes ainda são capacitados na arte da luteria. Eles aprendem a prática de fabricação e conserto de instrumentos musicais. As atividades acontecem na oficina localizada no bairro do Barbalho. Tem ainda o Arquivo Físico e Digital, que capacita os jovens para atuarem como arquivistas e copistas musicais na organização, revisão, edição, salvaguarda e disponibilização de acervos de partituras e outros materiais em suporte físico e digital, integrando partituras, CDs, DVDs e livros. O setor tem a responsabilidade pela memória do programa, reunindo a sua história e trajetória através do registro das atividades realizadas em arquivos de áudio, vídeo, fotos, artigos, revistas, jornais e boletins.
Para celebrar o aniversário de 17 anos, o Parque do Queimado, onde funciona a sede do programa, irá abrigar três dias de apresentações. As sessões ocorrem em diversos horários, entre 19 e 21 de julho, com entrada gratuita. Este é o segundo ano que o Neojiba comemora o seu aniversário em julho. Anteriormente, as celebrações aconteciam no dia 20 de outubro, quando aconteceu a primeira apresentação pública do programa, em 2007.
Desde o ano passado, a data de referência passou a ser o dia 20 de julho, quando o Neojiba foi oficialmente lançado pelo então governador Jaques Wagner. A mudança também abrange a comemoração pelo aniversário do Parque do Queimado, inaugurado em 9 de julho de 2019, e que este ano completa cinco anos de requalificação. Aliada à programação festiva, 30 músicos de diversos países da América Latina participam do projeto Neojiba Conecta. A ação ocorre até o dia 30 deste mês.
Ascom