Como observador externo, mesmo com muitas limitações, gostaria de emitir minha opinião sobre esse grande acontecimento. Primeiro, vou ser injusto, não conseguirei citar todos os personagens da sociedade civil que assisti e movimentando em torno desta agenda. A Univasf amadureceu, argumentos simplórios e infantis que outrora circulavam como a cloroquina do Bolsonaro (o bônus é para privilegiar os cursinhos, a família Coelho …), ficaram sem espaço, foram se reduzindo a pó. A sociedade civil se mobilizou com evidências, com uma argumentação técnica, ética e filosófica. É claro que o trabalho da Comissão criada para produzir o relatório sobre o tema foi importante, mas lá dentro e aqui fora havia uma concertação de forças políticas que criaram a tempestade perfeita. Quero me ater neste comentário aos personagens externos. ###
Tive a feliz oportunidade de ser testemunha da formação dessa tempestade. Sem a preocupação de buscar uma origem, uma essência e negar o debate já acumulado desde 2006, é importante destacar a participação da UESP nesta engrenagem com a campanha Incluir para Democratizar. Assumiu, sem preconceito, um dever inglório, digno apenas daqueles que têm coragem. Produziram uma potente concertação política de interesses em torno dessa agenda. ###
Sob a liderança do movimento secundarista, Paolo Francisco Presta Massena Filho habilmente teceu uma rede de apoio que permitiu dar maior densidade ao debate. Essa mobilização começou em abril de 2021. As conversas envolveram a Profª. Anete Ferraz (GRE-Petrolina), o Prof. Reginaldo Alves (NT10), a Profª. Mary Ann Saraiva Bezerra (Bios), o estudante João Rodrigues Neto (GUB), o representante da comunidade no CONUNI, Omar Babá Torres, o estudante do DCE Univasf, Bruno Abreu de Melo, e a jornalista Andressa Caroline Bezerra da Silva. Uma ofensiva política muito bem costurada diminuiu o espaço dos argumentos falaciosos de outrora. ###
Fora dos muros da Univasf, vinham ventos que ajudavam a acumular evidências seguras de quão injusto era jogar os jovens sertanejos a essa falácia de competição justa (os liberais adoram). Vi progressistas dentro da Univasf assumirem a igualdade formal como bandeira de luta, lamentável. A restrição do ambiente argumentativo dos que ainda se colocavam contra a política de bônus foi ficando cada vez mais evidente. Quando o Reitor eleito Télio Nobre Leite, que outrora já havia sido contrário ao bônus, e o Prof. Ricardo Santana (dois personagens do processo eleitoral à reitoria da Univasf) anunciaram apoio à política de bônus em matéria produzida pela UESP, era a senha de que o jogo dava sinais de mudança. Outros candidatos, infelizmente, silenciaram, silenciaram. ###
Aprendi que a história precisa ser generosa com os fatos. Mesmo sendo uma gestão contestada, a Reitoria da Univasf assumiu uma posição importante neste jogo, foi corajosa. A Comissão, coordenada pelo Prof. Sydney Leão, obteve todas as informações para produzir um relatório com fôlego para enfrentar os desafios do tema da bonificação. O principal, ser a única universidade do Brasil que discutia pela segunda vez uma política de bonificação. Para muitos, de diferentes correntes políticas internas, essa discussão tinha chegado a um ponto de não retorno. Em um dos eventos que participei, respondi ao Ricardo Banana, do Blog do Banana, que o diferencial dessa luta era a concertação política da sociedade civil e que os argumentos colocados na mesa deixariam muitos ruborizados. ###
Só faz sentido a autonomia universitária se for para democratizar o acesso. Não se democratiza a universidade produzindo um muro entre os “doutos” e os outros. Os destinatários da política assumiram com maestria este desafio. Muitos outros personagens, que dormirão no pântano do esquecimento, foram importantes, mas, fora dos muros, tinha algo de novo, a mobilização dos estudantes. Sei que fui injusto com muitos, e peço desculpas, mas testemunhei uma revolução silenciosa do lado de fora da Univasf. ###
Edmilson Santos dos Santos
Professor da Univasf