Pesquisadores da Univasf desenvolvem respirador mecânico para ampliar a capacidade de atendimento de pacientes com Covid-19 em hospitais

Por Ricardo Banana
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Uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desenvolveu um projeto que pode contribuir para o aumento do número de respiradores pulmonares disponíveis nos hospitais da região do Vale do São Francisco. O grupo criou uma tecnologia que automatiza um respirador manual, conhecido como ambu. Com a automatização, o equipamento poderá atuar como um tipo de ventilador mecânico e colaborar na respiração de pacientes que necessitam de auxílio respiratório, mas não possuem problemas nos pulmões. Deste modo, será reduzida a demanda por respiradores pulmonares, aparelho mais complexo e vital para o tratamento de pacientes em estágio avançado de Covid-19.

A iniciativa parte de um grupo com nove pessoas, composto por docentes da Universidade, vinculados aos cursos de Medicina, Engenharia Mecânica e Engenharia da Computação, e funcionários do Hospital Universitário (HU-Univasf). A equipe de Mecânica atua na construção da máquina e dos aparelhos que fazem o seu motor funcionar, enquanto a Engenharia da Computação é responsável pelo sistema eletrônico que controla este funcionamento, adaptável às necessidades de cada paciente. Além disso, o grupo da área de saúde, que conta com integrantes da Comissão de Prevenção e Enfrentamento à Covid-19 da Univasf, orienta sobre o funcionamento da respiração mecânica e fiscaliza os parâmetros necessários para que haja aplicabilidade do produto.

O ambu é um aparelho utilizado no transporte de pacientes até o acoplamento de um respirador mecânico nas unidades de saúde. Este instrumento funciona como uma espécie de bolsa de ar que, para ventilar, exige que os profissionais da área de saúde realizem, manualmente, o constante movimento de pressionar e, em seguida, soltar o balão de ar do aparelho, de acordo com uma frequência específica.

O protótipo criado pelos pesquisadores da Univasf faz uso de peças da indústria automobilística para fazer com que estes movimentos sejam realizados por uma máquina com sistema computadorizado, que pode realizar de 10 a 30 destes ciclos por segundo. Assim, o ambu mecanizado não irá substituir um respirador pulmonar, mas, utilizado em pacientes com quadros mais simples, contribuirá para diminuir a sobrecarga do sistema de saúde e dos profissionais da área.

O aparelho é composto por dois sistemas: Eletromecânico e de Controle Embarcado. “O primeiro funciona como a mão do profissional de saúde e faz com que um tipo de ‘braço’ metálico e motorizado realize um movimento de pêndulo sobre o balão. Enquanto isso, o sistema de Controle Embarcado, formado por um microprocessador, sensores, botões e outros circuitos, é responsável por configurar o ritmo desta movimentação. Com ele, os médicos e enfermeiros poderão controlar os pulsos do respirador mecânico, ajustando a frequência respiratória dos pacientes e acompanhando-a através de um display”, explica o professor do curso de Engenharia da Computação da Univasf e integrante do projeto, Jadsonlee da Silva.

A equipe estima que o custo total da produção de cada ambu automatizado gire em torno de R$ 1,1 mil. O produto foi construído com o intuito de ser acessível e possui custo abaixo em relação aos respiradores pulmonares, cujo valor, em condições normais, é estimado entre R$ 50 e R$ 150 mil, preços que estão mais altos no momento atual, em virtude da pandemia. O protótipo está em fase de testes e o objetivo da equipe é produzir o equipamento em maior escala e encaminhar os produtos ao HU-Univasf, que está responsável por receber pacientes em estado grave de Covid-19. Além disso, a meta do projeto é, ao concluir esta etapa, partir para a elaboração de um aparelho mais complexo.

“Avançando com este protótipo, de tecnologia mais simples e que será utilizado em situações específicas, teremos uma aplicação e solução imediata para um momento de falta de respiradores em nossa região, liberando os equipamentos mais robustos para ventilar os pacientes em tratamento da Covid-19. Além disso, nós não paramos por aqui, continuamos desenvolvendo mais tecnologias, para produzir um respirador multiparâmetro, capaz de ventilar qualquer tipo de paciente”, conta o docente do Colegiado de Medicina da Univasf e presidente da comissão de Combate e Enfrentamento à Covid-19, Anderson Armstrong.

A produção do ambu mecanizado poderá impactar positivamente no tratamento dos pacientes infectados pela Covid-19 e, de acordo com Armstrong, a importância desta iniciativa está, também, em sinalizar o avanço da capacidade de produção tecnológica da região do Vale do São Francisco, visto que agora há, regionalmente, a elaboração de um tipo de equipamento que até então precisava ser importado do exterior.

Ascom UNIVASF

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