Projeto tem duração de dez dias
O projeto de expedição que sai do Porto do Recife, no centro da cidade, com destino à foz do Rio São Francisco, na divisa entre Alagoas e Sergipe, sai na tarde desta quinta-feira (18).A bordo estarão 16 pessoas, sendo dez pesquisadores e seis alunos do curso de oceanografia, tanto da Universidade Federal de Pernambuco, quanto dos estados de São Paulo, Bahia e Rio Grande do Norte. No centro dos estudos e da expedição está a análise da biodiversidade do Rio São Francisco.Durante esses dez dias, os estudantes vão poder conhecer as características do fundo do mar, se é duro ou composto por sedimentos. Nos fundos não consolidados, eles vão utilizar um equipamento chamado de ‘amostrador de mandíbulas’.
“Eles vão colocar esse equipamento no fundo do mar e trazer o material recolhido para cima. Ele alcança as profundidades de cinco, 50 e 500 metros. Iremos analisar a dinâmica sedimentar, se tem muita ou pouca corrente, e a composição desse sedimento, em relação à quantidade e qualidade da matéria orgânica e metais no sedimento, além de hidrocarboneto de petróleo para ver as características, se está sofrendo aporte somente de processos naturais ou se tem influência humana”, explica o professor de oceanografia geológica Roberto Barcellos.
O navio
Eles vão fazer o percurso no Navio-Laboratório de Ensino Flutuante (LEF) Ciências do Mar IV, que pertence à universidade pernambucana. Outras três instituições das regiões Norte, Sul e Sudeste também têm esse mesmo tipo de embarcação. A única diferença é o prefixo e poucas alterações na estrutura.Fabricado em fevereiro de 2014, o Ciência do Mar IV tem 32 metros de comprimento e possui capacidade para 26 pessoas, sendo nove tripulantes e 17 pesquisadores/alunos. Ele conta com cinco camarotes, nomenclatura dada aos quartos dos tripulantes. A embarcação também possui o passadiço, nome dado à cabine que fica o comandante e o imediato,, a pessoa que reveza a direção do veículo marítimo. A autonomia dele é de até 15 dias ou 3.300 milhas náuticas.
O navio possui três laboratórios, são eles:
- Úmido: onde são processadas amostras de água recolhidas para determinar a concentração de nutrientes e organismos planctônicos (produtividade marítima). Essa água é recolhida num equipamento de nomenclatura CTD, que significa Conductivity Temperature and Septo. Ele mede a condutividade/salinidade, temperatura e profundidade;
- Hidroacústica: faz o procedimento das imagens colhidas das colunas de água, para observar até 700 metros, a partir da superfície, todos os organismos que nela se encontram. As imagens conseguem registrar peixes, baleias e tubarões;
- Seco: onde acontecem as aulas e explicações. Nele não entra água. Com isso, os estudantes podem usar computadores.
Flávio Oliveira, de 25 anos, faz mestrado em biodiversidade e vai poder aproveitar a viagem para se dedicar à pesquisa de plânctons, que são organismos aquáticos de locomoção limitada, arrastados pelas correntes. Ele está otimista com a experiência e tem boas expectativas para os próximos dez dias da expedição.
“Para mim vai ser uma honra muito grande, porque eu vou estar aqui no Ciências do Mar IV para fazer essa pesquisa, que são pequenos organismos nos quais a gente pode saber como está a saúde do ecossistema aquático. Através de coletas multidisciplinares, a gente pode compartilhar saberes para que tenhamos resultados robustos para divulgarmos para a população. Esses dez dias serão maravilhosos”, declara.
Investimento
De acordo com a secretária executiva e pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Biodiversidade e Amazônia Azul (INCT), a coordenação do projeto é da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e vice-coordenação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Essa mesma metodologia está sendo usada nas outras três regiões brasileiras, que saem simultaneamente para, posteriormente, comparar as análises sobre a vida marinha.
A gente vai estudar o ambiente marinho que é influenciado por grandes massas de águas continentais de cada região. A nossa expedição vai ser frente ao Rio São Francisco; no Sul, será em frente à Lagoa dos Patos; no Sudeste vai ser na Baia de Guanabara; e no Norte na Foz do Amazonas. Esses pesquisadores vão fazer coletas para estudar a biodiversidade marinha e o ambiente em que ela vive”, pontua.
Ainda segundo a explicação de Bassoi, serão feitas coletas de animais do fundo do mar, que são chamados de bentos, além da coluna pelágica da água, zooplânctons, fitoplânctons, aves e cetáceos. A expedição conta com investimentos de parceiros. Somente o navio custa R$ 23 mil, por dia, bem como a alimentação, manutenção, equipamentos e insumos nele usados.
Essa quantia, que se totaliza em R$ 230 mil, é repassada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e a Petrobras cooperaram com o óleo diesel utilizado na embarcação.
O comandante Antonio Fernandes, que vai estar à frente do navio nesses dias, detalhou para a Folha de Pernambuco sobre a velocidade e o alcance que o veículo marítimo vai ter nesses dias. A programação só pode ser alterada em casos de imprevistos por comportamentos da natureza. Ele considera esse tipo de navio como estável.
Nós vamos navegar 225 milhas [equivalentes a 362,102 quilômetros], até o ponto inicial da missão, numa velocidade de 7.5 kn [equivalentes a 13,89km/h]. Isso significa que vamos em marcha lenta e depende dos ventos, do mar e interferências da natureza. Pode desenvolver para mais ou para menos”, explica.
