Apesar de governos planejarem ou financiarem mudanças em prol do meio ambiente, são os indivíduos que têm tomado medidas para se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas. Isso é o que sugere um estudo publicado na revista Nature Climate Change no último dia 12 de outubro.
“Nas áreas rurais, especialmente na África ou no hemisfério sul, as pessoas estão fazendo o que podem – mudando as culturas para algo mais resistente, talvez mudando os meios de subsistência da agricultura para a pesca ou até mesmo migrando”, afirma em comunicado Christine Kirchhoff, coautora do estudo e professora associada de Engenharia Civil e Ambiental e de Direito, Política e Engenharia na Universidade Estadual da Pensilvânia (Penn State), nos EUA.
A pesquisa se aprofunda nas descobertas da Global Adaption Mapping Initiative (GAMI), uma iniciativa que mapeia as evidências globais de adaptação às mudanças do clima por meio de uma avaliação sistemática da literatura científica.
Liderada por Jan Petzold, da Universidade de Munique Ludwig-Maximilians, a equipe analisou 1472 estudos da base de dados da GAMI sobre o tema e os categorizou de acordo com os autores das ações: indivíduos ou famílias, sociedade civil, governo, instituições de governança internacionais ou multinacionais e setores privados. Foi verificado que, no geral, indivíduos ou famílias estavam no topo da lista, seguidos pelos governos.
Nas áreas rurais, a divisão entre ações de indivíduos e do governo é maior. Mas os pesquisadores destacam que, mesmo onde os governos têm mais atuação, como em áreas urbanas com muitos recursos, eles estão mais focados no planejamento do que na implementação das adaptações.
Isso ocorre também em países com muitos recursos e com instituições que fornecem apoio financeiro. Nos Estados Unidos, por exemplo, o governo pode até oferecer orientação sobre casas à prova de enchentes, mas são as pessoas que pagam pelas melhorias.
Enquanto agentes governamentais são menos proeminentes, os indivíduos implementam medidas mais superficiais e menos conectadas a mudanças institucionais. “Nossas descobertas sugerem uma falta de pré-condições para uma adaptação mais transformadora, o que exige mudança sistêmica e colaboração de vários atores, com base em um amplo apoio social e um acordo compartilhado sobre funções e responsabilidades: um contrato social para ações climáticas e transformações de sustentabilidade“, diz Elphin Tom Joe, coautor do artigo e estudante de doutorado da Penn State.
“As pessoas estão concentradas principalmente em mudar o que podem controlar: seus próprios comportamentos”, diz Elphin. Adaptações individuais incluem plantio de culturas mais resistentes a climas extremos, migração para áreas menos afetadas por inundações e mudanças comportamentais, como alterar o horário de trabalho de acordo com as horas mais frescas do dia. “Isso é necessário, mas também é necessária a ação de atores institucionais que possam coordenar uma adaptação de impacto mais amplo.”
Com informações da Revista Galileu