A frase de Frei Betto na entrevista à revista 247 da semana retrasada não me sai da cabeça: “Enquanto Cunha não for afastado da presidência da Câmara dos Deputados a turbulência vai continuar”.
Ela veio à tona, mais uma vez, hoje de manhã, quando os jornais contam que o Cunha já está estudando manobras para driblar as decisões do STF acerca do rito do impeachment.
A prioridade do Supremo, anteontem, deveria ser debater o afastamento de Cunha e não o rito. Porque, enquanto ele tiver poder, o que significa estar de posse de instrumentos para agir e aliados para executar as ações, ele vai mudar o rito como quiser até impor a sua vontade que é derrubar o governo Dilma, missão na qual conta com a prestimosa ajuda do vice-presidente Michel Temer.
Deixar para fevereiro o julgamento do afastamento de Cunha proposto por Janot foi uma temeridade. Data vênia, os ministros entregaram-lhe de mão beijada dois meses para urdir seus planos, tempo suficiente para reunir a sua tropa e estruturar novos ataques.
A instabilidade política que Cunha produz é um forte componente que alimenta a recessão, o que deveria ter motivado os ministros do Supremo a adiarem o recesso por alguns dias e se ocuparem do seu caso. Mas eles preferiram obedecer religiosamente ao calendário, embora isso possa resultar em grande prejuízo a todos os brasileiros.
O STF perdeu a noção de urgência. Se o pedido de Janot é grave o suficiente teria que ser julgado imediatamente; se não é, não precisa ser julgado nunca.
Por mais que Ciro Gomes defenda que Temer é o capitão do golpe, o general é Cunha. Ele é a alma do impeachment. O impeachment vai murchar de vez somente quando ele estiver fora de combate. (247)
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