De tão arraigados na nossa cultura, os provérbios fazem parte do nosso dia a dia, principalmente quando desejamos transmitir mensagens construtivas e lições de honestidade, gratidão, obediência, justiça, paciência e persistência. Por ser fácil de decorá-los e transmiti-los por causa do formato simples, curto e direto, os ditados populares geralmente são espalhados aos quatro ventos, mas podem ser de grande valia para ajudar profissionais de saúde a investigar se um idoso apresenta déficit cognitivo (condição caracterizada por alterações de memória, dificuldades de aprendizado e de concentração). Esse é um dos sinais presentes na doença de Alzheimer, cujo Dia Mundial de Conscientização é lembrado amanhã em todo o planeta.
Ao perceber que a compreensão de um provérbio depende de um raciocínio abstrato (capacidade falha em pessoas com algum tipo de demência), a terapeuta ocupacional pernambucana Mauricéa Tabosa desenvolveu o Teste de Rastreio da Doença de Alzheimer com Provérbios (TRDAP), elaborado a partir de um jogo de memória construído com ditados populares como recurso terapêutico. “É um instrumento que não dá o diagnóstico de Alzheimer, mas identifica os comprometimentos iniciais da memória e os déficits na abstração do pensamento”, explica Mauricéa. O TRDAP, já validado no Brasil, também é usado em Portugal.
Como a tendência atual é diagnosticar a doença de Alzheimer o mais precocemente possível, a fim de retardar o ritmo de progressão desse tipo de demência com o auxílio de atividades terapêuticas, a terapeuta ocupacional informa que o teste pode ser feito por qualquer pessoa idosa, especialmente por aquela que tem um parente próximo com Alzheimer ou outro tipo de demência. “O instrumento deve ser aplicado por profissionais da área de saúde que estudam o envelhecimento e se interessam pela estimulação cognitiva preventiva, que consiste em exercitar o cérebro antes dos sinais de adoecimento”, ressalta Mauricéa.
O TRDAP leva cerca de 15 minutos para ser colocado em prática e, segundo a criadora, apresenta correlação com um instrumento tradicional comumente utilizado para rastreio de Alzheimer, o miniexame do estado mental. “O teste com provérbios é agradável porque os ditados populares despertam a simpatia dos idosos.” Com o resultado da avaliação, a pessoa tem a chance de conhecer seus pontos fracos e fortes em relação à memória e, se houver necessidade, pode procurar especialistas para aprofundar a investigação sobre um possível déficit cognitivo.
Com um trabalho terapêutico precoce, pode-se alterar o percurso das perdas que se instalam com o envelhecimento. “Mas é fundamental a tomada de decisão de cada indivíduo diante da queixa em relação à memória. Ou seja, deve-se mudar atitudes diante dos desafios e colocar em prática o treino de estratégias de memorização, através de associações, repetições e imaginação de tudo o que se precisa lembrar”, frisa Mauricéia.
Esse é um exercício, por sinal, proporcionado pelo Dominó de Provérbios, também criado pela especialista e que serviu de inspiração para o TRDAP. “O dominó é usado como recurso terapêutico por profissionais e serve também de atividade lúdica para qualquer pessoa interessada em estimular a cognição.” A dona de casa Osita Fonseca, 83 anos, é uma das que gostam de usar as peças que compõem os ditados populares. “É um jogo que me faz sentir bem porque melhora muito a minha memória. Até na hora de interpretar os provérbios, consigo dar um jeitinho para explicar corretamente a mensagem”, conclui Osita. (JC Online)
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