A campanha em favor do impeachment que o presidente do PSDB, Aécio Neves, quer protagonizar tem provocado um racha na cúpula do partido e o isolamento do senador tucano. O plano para tirar a presidente Dilma Rousseff do poder foi defendido inicialmente pelo deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), que disse que a ideia era apoiada por grande parte da bancada, e somente depois por Aécio Neves.
Nos últimos dias, no entanto, o principal cacique da sigla, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, disse que a movimentação dos tucanos pelo impeachment era precipitada e não fazia sentido. “Impeachment não pode ser tese. Quem diz se houve uma razão objetiva é a Justiça e a polícia. Os partidos não podem se antecipar a tudo isso, não faz sentido. É precipitação”, declarou. Ontem, ele afirmou que o tema não era uma prioridade do PSDB e menos importante que a Operação Lava Jato.
Depois de FHC, os senadores José Serra (SP), Tasso Jereissati (CE) e Álvaro Dias (PR) foram outros que não aceitaram integrar a iniciativa. Segundo o colunista político Ilimar Franco, do Globo, Serra tem dito a tucanos: “Não faria desse jeito. Precisa ter fato. O fato ainda não aconteceu. Não teve o Fiat Elba”, em alusão ao carro – comprado com dinheiro ilícito – que comprovou a relação do ex-presidente Fernando Collor com os golpes do tesoureiro PC Farias e que resultou em seu impeachment.
Em sua coluna desta quinta-feira 23 na Folha de S. Paulo, o jornalista Jânio de Freitas vê Aécio cada vez mais isolado – “no desarranjo do PSDB, a questão do impeachment contrapõe Aécio Neves e os três principais hierarcas da sigla – Fernando Henrique, José Serra e Geraldo Alckmin”, escreve ele – e analisa que a proposta de impeachment pode ameaçar até mesmo sua escolha para disputar o Planalto em 2018. “Na obcecada e irada investida pela queda de Dilma, Aécio tem demonstrado o quanto preserva da imaturidade política do seu tempo de governador de Minas no Rio”, diz Jânio.
Integrantes do PSDB que pediram um parecer a Miguel Reale Júnior a fim de embasar juridicamente o pedido de impeachment se reuniram com o jurista ontem e deram mais tempo a ele para preparar o documento. Ainda segundo Ilimar Franco, Reale Jr. também foi reticente. Ele pediu mais tempo ao PSDB argumentando que seria “açodado” correr na elaboração de um parecer que merece detalhada análise jurídica.
Já Aécio ressaltou que não faltará “coragem” aos tucanos para apresentar o pedido de impeachment caso fique comprovado que a presidente Dilma tenha cometido crime de responsabilidade. “Não faltará ao PSDB a coragem necessária para, no momento certo, se identificados realmente os crimes que agora são noticiados, vamos agir como esperam de nós a grande maioria dos brasileiros. Nem pedimos prazo ao jurista. Ele está examinando todas essas frentes”, disse. Ele assegurou que o partido estará “unido” quando tomar uma decisão sobre o tema.
O presidente do PSDB minimizou os posicionamentos – diferentes do seu – de colegas senadores em relação ao impeachment. “Seria estranho se não houvesse. Essas posições são cada vez mais convergentes. No momento da ação, a unidade será absoluta. Há absoluta convergência entre nós. Não vamos nos precipitar, fazer nenhuma ação panfletária como fez no passado o PT”, disse Aécio. (247)
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