Em entrevista exclusiva à TV 247, o jornalista Ricardo Melo, que foi o último presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) no governo Dilma Rousseff, faz uma discussão em profundidade sobre monopólio da mídia no Brasil. Denuncia a TV Globo e a atuação do governo Michel Temer.
Faz ponderações importantes sobre o emprego das mídias sociais como instrumento para a geração de ódio e preconceito. Melo também lembra que, durante a passagem do PT pelo Planalto, os governos Lula e Dilma perderam grandes oportunidades para fortalecer a comunicação pública no país. “Hoje o primeiro alvo do discurso é ‘democratizar a mídia’. Deveria ter sido feito 13 anos atrás.”
Afastado da presidência da EBC numa das primeiras medidas de Temer após o golpe que afastou Dilma (“quartelada parlamentar”, define), na entrevista Ricardo Melo rebate as críticas a formação da EBC veiculadas pelo mais recente presidenciável tucano, o governador Geraldo Alckmin, que chegou a falar em sua extinção. “Embora digam que a EBC não vale nada, que não tem importância nem dá audiência, a primeira coisa que o Temer fez naquele momento (após o golpe) foi usar sua artilharia na Empresa Brasil de Comunicação”.
Referindo-se a cobertura dos meses anteriores a deposição de Dilma, que exibiu tanto as passeatas a favor do impeachment contra a Dilma, como as manifestações pela resistência, ele avalia que a EBC desempenhou um “papel que nenhuma outra emissora ou órgão de difusão pública” foi capaz de assumir. Além de entrevistar lideranças de várias fatias do espectro político — citou o atual chanceler Aloysio Nunes Ferreira –, os programas da emissora também deram voz para lideranças do movimento popular, como Sem-Terra, Sem-Teto e União Nacional dos Estudantes.
“Fomos o primeiro alvo,” resume. Além de dar novos detalhes sobre uma audiência na qual o ministro-chefe da Casa Civil Eliseu Padilha fez uma sondagem que poderia encerrar-se com a oferta de um novo cargo no governo — desde que concordasse em abrir mão da presidência da EBC — Ricardo Mello explica uma atitude que ajudou a definir uma linha de não-colaboração com o golpe que afastou Dilma e interrompeu seu próprio mandato legal, que deveria prolongar-se por quatro anos.
“A gente tem compromisso com princípios. Fui nomeado para fazer comunicação pública. Acreditava, acredito e acho necessário. Nós sabíamos quais eram as intenções desse governo”.
De volta a EBC, depois que o ministro do STF Dias Toffoli reconheceu a ilegalidade de seu afastamento, Ricardo Mello enfrentou críticas e pedidos de explicação pela decisão de divulgar uma entrevista com Dilma Rousseff feita pelo jornalista Luiz Nassif. Ele ironiza: “Dilma era notícia na capa do New York Times, na capa do El País, estava em todas as agências do mundo. Só não era notícia na TV brasileira.”
Num ponto importante do depoimento ele afirma que “o governo Lula e o governo Dilma sempre tiveram se lixando para a comunicação pública. Convidar ministros para falar (em programas da EBC) era uma dificuldade.” Em sua avaliação, a “comunicação pública não foi levada a sério como está sendo levada hoje. O governo ficou naquele namoro com a Globo e com as grandes empresas. A Globo só ficou esperando a hora de dar o bote, e deu o bote na hora do golpe”.
Na parte final da entrevista, quando discute os rumos do país, Ricardo Melo reconhece: “a autocrítica que Lula e Dilma estão fazendo sobre a mídia nos abre uma esperança”.