Representantes da sociedade civil e da Igreja Católica estão realizando uma série de reuniões com o objetivo de elaborar um documento listando experiências bem sucedidas a fim de amenizar os efeitos da seca no Semiárido nordestino. Cada estado da Região encaminhará aos seus respectivos governadores um Plano Regional de Convivência com o Semiárido, que deverá ser concluído no dia 20 de março. O Nordeste enfrenta atualmente a maior seca dos últimos 30 anos.
De acordo com a coordenadora-executiva da Articulação do Semiárido de Pernambuco (ASA-PE), Neilda Pereira, os Governos Estadual e Municipal precisam implementar políticas estruturadoras para atenuar os efeitos da estiagem. “Existe ação do governo no campo mais estruturante, como, por exemplo, a construção de cisternas. Mas o que a gente tem colocado é que é importante que essas ações façam parte do orçamento do governo, que existam recursos disponíveis pra este tipo de ação”, declarou. A dirigente afirmou que o objetivo do documento é fazer com que “as ações se tornem políticas de estado”.
No ano passado, o Governo Estadual comprometeu-se a enviar 846 carros-pipa, um número que poderia chegar a 1,5 mil. Conforme a Secretaria Estadual de Agricultura e Reforma Agrária, 1.566 carros-pipa foram disponibilizados em todo o Estado, sendo 728 do Exército e 838 locados com recursos dos cofres estaduais. Porém, segundo Neilda, a água chega de maneira irregular.
Para ela, as ações emergenciais ajudam no combate imediato e momentâneo dos efeitos da estiagem, mas ela alerta para a necessidade de ações permanentes e preventivas. “Pelo que a gente tem acompanhado, tem chegado água, mas não com a regularidade necessária. A seca é um fenômeno natural, mas ela acaba sendo tratada como algo emergencial”, disse.
Desde que a situação agravou-se, o Governo Estadual em parceria com o Federal implantou algumas medidas como a destinação de 43 hectares de milho, principal alimento que abastece o gado, e construção de 36 mil cisternas para o Estado, mas até o começo de janeiro deste ano, apenas 19 mil tinham sido construídas. Outras medidas tomadas foram a implantação de 1500 poços de perfuração, 440 barragens e compra de um litro de leite por R$ 1,00 e não por R$ 0,76, além de outras ações.
Uma das principais alternativas foram as linhas de financiamento de R$ 1 bilhão por meio do Banco do Nordeste (BNB) com juros de 1,5% e 3% para atender os pequenos e os médios produtores, fruto de um acordo entre o Governo Federal e todos os governadores do Nordeste no primeiro semestre de 2012. No começo deste ano, o ministério da Integração Nacional autorizou a liberação de mais R$ 500 milhões para ajudar os agricultores e pecuaristas.
Para o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape), Doriel Barros, mesmo com as medidas tomadas pelo governo é necessário alguns acréscimos para fazer jus ao desenvolvimento sustentável.
“O mais importante, neste momento, é que estamos reunindo propostas de organizações e movimentos que têm experiências acumuladas no semiárido, não estamos começando do zero. Na verdade, é hora de reafirmarmos algumas proposições que já vêm sendo apresentadas pela sociedade civil ao longo dos anos, e discutirmos alguns acréscimos necessários, já que estamos trabalhando na perspectiva de um desenvolvimento sustentável para a região”, afirmou.
“A questão da seca diz respeito a todos nós. Nesse sentido, todas as instituições aqui presentes têm a responsabilidade de sensibilizar e mobilizar a sociedade para que ela se envolva em todo esse processo”, disse o secretário da Cáritas NE2, padre Jandeilson Alencar. “Temos a missão de cuidar da vida e, por isso, não podemos deixar que nenhuma das suas dimensões esteja em risco”, observou o representante da Arquidiocese de Olinda e Recife, padre Josenildo Tavares. (PE247)
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