Tecnologias de reúso de água são implantadas em comunidades de Juazeiro (BA)

Por Ricardo Banana
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A reutilização de águas cinzas tem se tornado cada vez mais comum para os/as moradores/as do Semiárido, inclusive porque uma das características da região são chuvas irregulares e um problema é a má gestão da água. As famílias, por sua vez, têm aprendido a lidar com as dificuldades através de tecnologias desenvolvidas a partir da proposta de Conveniência com o Semiárido.

Águas cinzas são aquelas provenientes de afazeres domésticos como: pia de lavar pratos, banho, pia do banheiro e lavanderia. Com o desenvolvimento dessas tecnologias, famílias camponesas podem reutilizar essa água em plantações de ervas medicinais, plantas frutíferas e forrageiras cultivadas nos próprios quintais, gerando uma alimentação saudável para a família, animais, além de contribuir na renda da família.

Em Juazeiro (BA), na comunidade de Canoa, distrito de Massaroca, várias famílias foram beneficiadas com o projeto de implantação do sistema de reutilização de água. A iniciativa, ainda em fase de teste, está sendo viabilizada por meio do Pró-Semiárido, projeto da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR, órgãos da Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia – SDR. O Pró-Semiárido conta com recursos do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola – FIDA.

O interesse em desenvolver essa experiência surgiu a partir de um intercâmbio realizado pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) na Paraíba, onde as/os participantes conheceram a tecnologia de reuso de água. O Irpaa é uma das entidades que executam o Pró-Semiárido na região e Juazeiro é dos 32 municípios onde o projeto é realizado.

Implantação

Segundo a cartilha “Reuso de Água Servida” (2016), desenvolvida pelo Programa de Aplicação de Tecnologias Apropriadas (Patac), uma casa com seis pessoas consome em média 500 litros de água a cada três dias. Uma família que consegue aproveitar toda água cinza da residência por mês, reaproveita em média cinco mil litros de água que seria desperdiçada, mas que pode servir para regar as plantas do quintal, por exemplo.

A cartilha ainda detalha de que maneira o sistema funciona: todas as saídas de água são direcionadas para um conjunto de caixas de cimento conectadas entre si, que recebem toda água utilizada na casa. A primeira caixa é responsável por eliminar a gordura da água, depois a água segue para caixa responsável pela filtragem da água, a segunda caixa filtra a água a partir de britas, areia e húmus que têm na caixa de cimento. A terceira caixa é apenas para armazenamento e depois a água é direcionada para as plantações.

“A gente está implantado três sistemas, que é chamado bioágua. É um sistema que é feita filtragem da água a partir de processos físicos e biológicos”, explicou o colaborador do Irpaa Clerison Belém. Tendo em vista a proposta de Conveniência com o Semiárido, Clerison ainda diz que é importante fazer esse reuso, uma vez que a região semiárida tem suas particularidades referentes à estiagem. “A gente vê esse sistema de bioágua como uma alternativa viável para o Semiárido, já que a gente tem a escassez e toda gota de água é importante para as famílias da nossa região”, disse o colaborador.

As famílias que receberam o sistema de reuso de água demonstram satisfação quando falam do projeto e ainda avaliam a iniciativa como positiva. “A gente aproveita essa água para fazer um novo plantio, o que seria uma água desperdiçada, jogada fora atrás do muro da gente que só servia para fazer uma lama”, relata a dona de casa Elza Nogueira. Com o sistema agora ela planeja: “ela [a água] vai ser aproveitada pra gente plantar, isso é maravilhoso, vai dá muita renda pra gente, vai melhorar a qualidade de vida e a gente vai tem mais verdura, uma alimentação melhor e mais adequada”.

Murilo de Souza Lino é agricultor e trabalha com o pai produzindo ração para as cabras e galinhas. Ele afirma que sabe o quanto a água é valiosa e por isso afirma que o projeto de reaproveitamento vai acrescentar melhorias para a família. “Aqui a gente tem muita dificuldade de receber água e é algo muito precioso que as pessoas ainda não sabem aproveitar e dar o seu devido valor. É uma experiência nova que com certeza trará diversos benefícios”, disse.

Murilo ainda acredita que o projeto ajudará no cultivo de plantas para a alimentação das galinhas. O agricultor comenta de que forma vai utilizar a bioágua. “A ideia, que ainda está em fase experimental, é a gente criar um espaço reservado para forrageiras, irrigação de capim, uma criação de moringa, leucena, que vai ser destinado praticamente para a alimentação das galinhas”, concluiu Murilo.

O reuso de água é uma opção de Saneamento Básico apropriada ao meio rural. Além desse formato, existem outras tecnologias apropriadas que também podem ser adotadas por famílias do Semiaŕido, a exemplo da BET – Bacia de Evapotranspiração. É importante destacar que, com base em experiências como essas, o  Plano Municipal de Saneamento Básico de Juazeiro hoje contempla o reuso de água como uma iniciativa viável para as comunidades rurais e populações difusas.

 (Ascom)

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