A Refinaria Abreu e Lima, em construção no município de Ipojuca, no complexo portuário e industrial de Suape, em Pernambuco, emprega cerca de 50 mil pessoas. Seus trabalhadores conquistaram neste ano uma cesta básica no valor de R$ 260 – um aumento de 940% desde que foi instituída -, um reajuste de 100% nas horas extras dos sábados e um aumento salarial de 10,5%. Quem é de outro Estado tem uma folga de cinco dias, a cada 60 dias, para rever a família.
Os benefícios vieram como resultado do avanço em um processo de equiparação salarial. Os vários consórcios de empresas que atuam na obra adotam políticas salariais específicas e os trabalhadores reclamavam de variações de até 47% na remuneração de uma mesma função. A distorção começou a ser enfrentada.
Por causa dos benefícios, há um clima de tensão latente no canteiro de obras. Foram seis greves desde o início da construção. Noventa dias parados. Cenas de violência e prisões voltaram a se repetir em agosto, quando alguns trabalhadores não aceitaram o acordo fechado pelo Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem no Estado de Pernambuco (Sintepav-PE), ligado à Força Sindical, que dava em torno de 10,5% de reajuste.
Mesmo sendo considerado um reajuste razoável, um grupo de operários incendiou sete ônibus e apedrejou sindicalistas. Queriam 15%. Em contrapartida, foram alvo de balas de borracha disparadas pela Polícia Militar. Dois foram presos.
Uma semana antes, os trabalhadores haviam deflagrado a quinta greve nas obras da refinaria, à revelia do sindicato, cuja liderança tem sido questionada não somente pelos trabalhadores. A última paralisação ocorreu mês passado, em novembro. No ano passado, houve um incêndio nos alojamentos. A primeira paralisação foi em 2008. Na época, eram 3 mil trabalhadores nas obras de terraplenagem.
Para o Sintepav, a equação é simples de compreender. O sindicato surgiu há 12 anos, quando Pernambuco abrigava poucas construções de vulto. Com o grande volume de obras iniciado no governo Lula no Estado, a base do Sintepav-PE cresceu muito, assim como sua arrecadação.
Sem informar o valor da arrecadação, a diretoria do sindicato avalia ser essa a base do conflito. O sindicato passou a ser minado por outros sindicatos e movimentos políticos extremistas que tentam desestabilizar seu trabalho, de acordo com seu presidente, Aldo Amaral.
A cultura da greve também foi implantada, como se sem paralisação não se pudesse ter ganhos. “São terroristas que se infiltram nas empresas para fazer movimento político”, chegou a acusar Amaral, durante um tumulto, citando o movimento sindical Conlutas e o PSTU. Há ainda a pressão de trabalhadores especializados acostumados a salários mais altos na Bahia ou no Sudeste, que incentivam a insatisfação dos demais.
Mesmo assim, o Sintepav acredita estar no controle. Seu acompanhamento é realizado pelas comissões de trabalhadores que atuam fazendo a ponte com o sindicato, repassando as insatisfações e reivindicações. “As comissões funcionam”, garante Amaral, certo de ter o respaldo da maioria dos operários.
O Sintepav já foi proibido de fazer assembleias no canteiro de obras e já foi substituído em negociações pela Federação Nacional da Construção Pesada. Tudo superado, segundo a diretoria. (Agência Estado)
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