A briga pela água no Vale do São Francisco

Por Ricardo Banana
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imagemNo ano em que a fruticultura se recupera com bons preços no mercado externo, seja pelo dólar em alta, seja pela qualidade da fruta que colhe devido às excelentes condições climáticas, o Vale do São Francisco vê surgir um problema inusitado: a ameaça de faltar água no maior projeto de irrigação do Nordeste, o Senador Nilo Coelho.

Pode parecer absurdo um projeto de irrigação localizado às margens do Rio São Francisco, em Pernambuco e na Bahia, ter que administrar este risco para sua atividade agrícola. Tudo é resultado de uma briga.

A Cemig – empresa mineira que administra a Barragem de Três Marias (MG) – faz questão de reter 100 m³/seg. Ao “segurar” este volume lá no Sudeste, a Cemig impede que a Chesf o receba no Lago de Sobradinho (BA), no Sertão do São Francisco.

Nesta confusão toda, a primeira semana de dezembro será decisiva. É quando o nível de água que corre pelo Velho Chico poderá ficar tão baixo que a captação necessária para irrigar o complexo (14m³/seg) fique inviável. O bombeamento não vai funcionar.

Não fosse uma ameaça tão séria, o Vale só teria motivos para celebrar. Enquanto o País vive uma crise seriíssima, a região de Petrolina, Juazeiro e outros municípios teve a maior geração de empregos para a colheita da safra dos últimos cinco anos. Mais dinheiro está circulando no Vale. Mangas e uvas estão sendo vendidas para os mercados americano e europeu. O câmbio valorizado só ajuda.

Mas voltemos à questão da água. É preciso entender alguns números. A barragem de Três Marias (que pode acumular 21 bilhões de m³) tem hoje 18,82% de sua capacidade. Libera apenas 500 m³/seg para o Nordeste. O Lago de Sobradinho, capaz de guardar até 34 bilhões de m³ tem apenas (5,73%), e libera minguados 900 m³ p/seg para o rio seguir seu curso até a foz.

O problema é que se mantiver esse nível em novembro o São Francisco estará tão seco que precisará desses 100 m³ de Três Marias para que a água continue a ser captada pelo Projeto Nilo Coelho, onde estão 18,5 mil hectares irrigados em plena colheita. No projeto, trabalham 18.100 pessoas. Porém, mais de 100 mil dependem dele. Para complicar ainda mais situação, tem a população Afrânio e Dormentes, que depende do Nilo Coelho para beber água.

Não é uma equação simples de se resolver, mas todos os órgãos envolvidos na questão recomendam a liberação da água. Se a Cemig não atender o que diz o Operador Nacional do Sistema, a Agência Nacional das Águas (ANA) e os demais órgãos que compõe o Comitê das Bacias do Rio São Francisco, o Projeto Senador Nilo Coelho vai parar na primeira semana de dezembro.

Um batalhão de pessoas, entre prefeitos, políticos, empresários e dirigentes entidades de agroindústrias, vem debatendo esse 100m³ p/seg. A Cemig defende guardar sua água por que entende que eles farão falta na geração de energia e na administração de outros projetos e abastecimento de cidades que dependem de Três Marias. A Chesf, por sua vez, adverte que se liberar menos de 900 m³/seg. em Sobradinho, o complexo agroindustrial do Vale simplesmente não poderá captar mais água.

A situação já levou o governo autorizar a construção de um sistema de captação auxiliar formado por bombas de sucção flutuantes. O sistema vai chegar diretamente ao leito do Rio São Francisco e é orçado em R$ 35 milhões. Mas ele só vai ficar pronto em janeiro de 2016, devendo ficar operando até abril quando as águas do período chuvoso em Minas devem começar a achegar em Sobradinho. E é isso que assusta os produtores. Não há como esperar. (JC Online)

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